Ciro Gomes

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Filiado ao PDT, foi ministro da Integração Nacional e da Fazenda e governador do Ceará.

Opinião

Ciro Gomes: o despreparo e o descaso de Bolsonaro ameaçam o Brasil

Bolsonaro e seu governo precisam compreender que o Brasil é muito maior que suas maluquices e baboseiras ideológicas

À própria sorte. A solidariedade dos moradores supre em parte o pouco caso de Brasília. O presidente age de forma deliberada contra o Nordeste
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No momento em que escrevo este artigo, cerca de 250 praias em todo o Nordeste foram afetadas gravemente por uma estranha massa de óleo cru de origem ainda indefinida.

Paraísos turísticos como Lençóis Maranhenses, Canoa Quebrada, no Ceará, Porto de Galinhas, em Pernambuco, Morro de São Paulo, na Bahia, e Pipa, no Rio Grande do Norte, foram atingidos.

O desastre ambiental, que se iniciou há mais de 60 dias, afeta fauna e flora marinha, atrapalha diretamente o turismo dessas localidades e impacta trabalhadores, pescadores e toda a cadeia econômica. Não bastasse o extenso, danoso e ainda incalculável prejuízo, o Brasil assiste ainda atônito a uma resposta tardia, insuficiente e precária do governo federal. Não fosse a parcela da população que espontânea e voluntariamente se reuniu para limpar as praias atingidas, nada teria sido feito até agora de relevante.

No meio de toda essa gravíssima situação, o presidente Jair Bolsonaro não se dignou a visitar a região e fez ainda especulações ridículas sobre a questão, não respeitando o povo nem a verdade. Neste caso do óleo no mar do Nordeste, o despreparado Bolsonaro e seu ministro incompetente do Meio Ambiente, Ricardo Salles, cometeram uma série de omissões criminosas ao extinguir a comissão permanente e não seguir as orientações do Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Águas sob Jurisdição Nacional (PNC). Ambos, inclusive, chegaram a insinuar patética e irresponsavelmente a participação do Greenpeace no crime ambiental.

Contra a opinião de técnicos do próprio Ministério do Meio Ambiente, extinguiram comitês que fragilizaram a reação da União diante de poluição por óleo. Segundo o Decreto nº 9.759/2019, assinado por Bolsonaro, os colegiados extintos eram “supérfluos”.

O Brasil é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com a maior parte sendo extraída em águas profundas do nosso litoral. Além disso, somos rota de navios de todo o planeta no transporte desse material. Portanto, não obedecer a critérios de contingência em casos de desastres é, repito, um crime contra o próprio País.

Governadores, prefeitos, secretários e diretores de agências ambientais das localidades afetadas relatam ainda uma grande dificuldade de comunicação com o governo federal, prejudicando a coordenação do enfrentamento do desastre. O desprezo do governo Bolsonaro é tanto pelos entes federativos nordestinos que o ministro Salles chegou ao ponto de visitar o litoral de Sergipe sem qualquer aviso ao governo do estado ou prefeitos da região.

Assistimos atônitos à resposta tardia, insuficiente e precária do governo ao drama do litoral nordestino

Qualquer governante minimamente preparado deveria convocar uma reunião e garantir todo apoio necessário para essas comunidades. Avançando também, com apoio internacional, uma grande e profunda investigação, por meio de satélites, contato com transportadoras e produtores, para determinar a origem do óleo, os responsáveis por seu vazamento e exigir reparação e pagamento por todo o sofrimento infligido ao nosso povo e ao meio ambiente.

Diversas são as teorias da origem do óleo, que vão de navios fantasmas que contrabandeiam petróleo até supostas prospecções ilegais na costa. A Marinha brasileira tem se esforçado na busca de resposta e pode cumprir um papel fundamental neste ponto.

De toda forma, parece claro que Bolsonaro age de forma consciente contra toda a Região Nordeste do País, onde ele perdeu as eleições e sua popularidade tem chegado a níveis muito baixos. Para além do crime de preconceito, sua atuação atenta contra a unidade nacional e pode ser enquadrada como crime de responsabilidade. Tenho pedido que o Ministério Público Federal abra uma investigação a respeito.

Não é difícil encontrar mais elementos que justifiquem esse desprezo de Bolsonaro pelo Nordeste. Desde que assumiu a Presidência, ele só esteve na região uma vez. Também foi gravado usando expressões com características preconceituosas, além de direcionar seu ódio ao governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). Para além disso, a Caixa Econômica Federal durante o seu governo liberou apenas 2,2% dos empréstimos para a região, quando historicamente esse número ficava em torno de 20%. Na Petrobras, foi determinado ainda o encerramento das atividades na Bahia, além da venda das refinarias da região.

O mais grave é que pouquíssimo tempo antes de esse desastre começar, o Brasil estava ainda colhendo destroços das graves queimadas na Amazônia. Da mesma forma, o governo tratou a questão com descaso e desprezo, tentou culpar ONGs estrangeiras, o presidente não teve coragem de visitar a região e o estrago foi grande tanto para a nossa floresta, nossos povos tradicionais e para a economia quanto para a imagem do Brasil no exterior. Podemos dizer que, para agravar ainda mais a investigação do Ministério Público, o governo é reincidente em omissão criminosa com questões graves.

O que Bolsonaro e seu governo precisam compreender é que o Brasil é muito maior que suas maluquices e baboseiras ideológicas. Que o tratamento dado ao nosso povo é absurdo e indigno. À luz da história, seus atos serão julgados e eles serão todos responsabilizados por crimes contra a pátria.

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