Luiz Gonzaga Belluzzo

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Economista e professor, consultor editorial de CartaCapital.

Opinião

Chuva de crédito (nos Estados Unidos)

Esse é um sinal do extraordinário desafio enfrentado pela nação

Foto: AFP
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O Federal Reserve está pronto para polvilhar trilhões de dólares na economia dos EUA, uma vez que um pacote de ajuda maciça para combater o coronavírus e seus choques posteriores tenha sido transformado em lei Essas ações são inéditas, indo muito além de qualquer coisa que se fez durante a crise financeira de 2008. Esse é um sinal do extraordinário desafio enfrentado pela nação.

“O Fed efetivamente mudou de credor de último recurso para bancos para um banqueiro comercial de último recurso para a economia como um todo”, disse o economista-chefe do JPMorgan Chase & Co. dos EUA Michael Feroli.

A chuva de crédito , histórica em tamanho e escopo , estimada em US $ 454 bilhões é o dinheiro que o banco central pode usar para fornecer grandes quantidades de financiamento para uma ampla faixa de mutuários dos Estados Unidos. “Efetivamente, um dólar emissão [de dívida] do Tesouro é suficiente para suportar 10 dólares em empréstimos,” disse o presidente do Fed, Jerome Powell, em uma rara entrevista televisionada nacionalmente na manhã desta quinta-feira. “Quando se trata de crédito, não vamos ficar sem munição.” Em uma economia monetária capitalista, a ruptura das relações mercantis chega ao ápice quando envolve as relações de débito-crédito.

A relação débito-crédito é o nexo crucial nas economias de mercado monetárias. Em uma situação como essa não espanta que os bancos se protejam de um risco iminente de muitos defaults. A Folha de São Paulo informa: “Após alardearem que ajudariam os clientes a enfrentar a crise econômica decorrente da pandemia de coronavírus, os bancos não estão liberando empréstimos, aumentaram os juros e reduziram os prazos de pagamentos para dívidas novas. Empresários ouvidos pelo UOL declararam que os bancos aumentaram as taxas para empréstimos usados para manter os negócios, pagar funcionários e comprar novos equipamentos.” Não é maldade. As instituições bancárias privadas não têm como bancar as boazinhas. Isso poderia ser pedagógico para empresários devedores em outros países. Mas por aqui a ficha não cai na cachola dos empresários e tampouco vai cair no caixa de suas empresas.

Mantida a política atual , a grana vai sair do caixa para servir a dívida passada. Já da cachola não sai nada, mesmo. Muitos deles aprovando as ideias do Bolsonaro. Diante do colapso das relações de mercado, os bancos centrais são compelidos a tomar medidas de provimento de liquidez e de capitalização dos bancos encalacrados em créditos irrecuperáveis. Os governos tem que engolir o estoque de dívida privada e expelir uma montanha de títulos públicos para proteger as carteiras dos bancos e dos investidores institucionais. A crise dos governos é a crise dos bancos. A crise dos bancos é a crise de crédito. A crise de crédito é a crise do gasto. E a crise do gasto é a crise da renda e do emprego.

A rede de pagamentos formada pelo sistema bancário é crucial para o funcionamento adequado dos mercados. Ela se constitui na infra-estrutura que facilita o “clearing” e a liquidação de operações entre os protagonistas da economia monetária. A preservação dessas instituições, que estão na base do sistema de provimento de liquidez e de pagamentos, justifica as intervenções de última instância dos bancos centrais, sob pena de uma crise de liquidez se transformar numa crise de crédito com efeitos desastrosos sobre a chamada “economia real”.

Na ausência de um socorro tempestivo dos bancos centrais, a propagação do pânico ameaça levar à ruptura do sistema de pagamentos. Quando se acentua a percepção de que há risco de insolvência dos devedores -como é o caso da massa de créditos criadas no período anterior à pandemia, as intervenções dos BCs não podem falhar. Se hesitarem, é provável que impeçam imediatamente uma crise liquidez, mas isso não é suficiente para evitar a contração do crédito.

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