Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Chega de notícias ruins!

Mesmo quando tentamos fugir dessas notícias de vulcões que se rebelam, tsunamis, tornados, furacões, elas chegam pelo celular que apita

A cadela Pandora foi encontrada. Foto: Instagram / Reprodução
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Vivemos diariamente bombardeados por notícias ruins, disparadas por todos os lados. Na televisão, no rádio, nos jornais, nas revistas, nos sites, nos blogs, nos podcasts.

De manhã, de tarde, de noite e até mesmo durante a madrugada não para de chegar notícia ruim.

Um congolês morto a pauladas, um vizinho preto, confundido com bandido que leva três tiros no peito, um morro que desaba e soterra casas cheias de famílias, rios que sobem e levam pessoas, sem contar as falas do presidente da República.

Haja coração!

Mesmo quando tentamos fugir dessas notícias de vulcões que se rebelam, tsunamis, tornados, furacões, elas chegam pelo celular que apita, ferindo os nossos ouvidos.

O mundo gira quando mudamos de assunto.

Durante 45 dias, o garçom Reinaldo Junior ficou com o coração na mão, apertado, esperando notícias de Pandora, a cachorrinha vira-lata que, de repente, sumiu no aeroporto Internacional de Guarulhos.

Reinado saiu de Recife num voo da Gol para passar um mês na sua terra natal, Navegantes, em Santa Catarina. Foi no pitstop em São Paulo que ele olhou para o fundo da casinha que trazia Pandora e viu que ela estava vazia. O garçom bateu pé e disse que só voltaria pra casa com Pandora, que foi vista em vídeos internos do aeroporto, andando desesperada pra lá e pra cá, seguramente procurando Reinaldo.

Quarenta e cinco dias depois, ela foi encontrada, assustada, olhos arregalados, oito quilos mais magra, debaixo de um viaduto. Reinaldo chorou de alegria e emoção ao abraçar Pandora.

Funcionários do Zoológico de São Paulo, circulando pelo mato, encontraram três ovos abandonados em um ninho, já quase frios, meio sujos de barro. Eram ovos de cisnes negros.

Eles foram colocados cuidadosamente numa cestinha de vime forrada com palha e levados para a sede do Zoo, onde foram imediatamente para uma incubadora.

Alguns dias se passaram e nada.

De repente, num belo dia, eles ouviram um ‘crac crac crac’ de casca quebrando. Era o primeiro cisne negro, ainda feinho, que colocou primeiramente o bico pra fora, aflito para sair logo dali. No dia seguinte, mais dois nasceram. Um bicho de pelúcia foi colocado no ninho para que eles pudessem ficar quentinhos.

O ursinho não era a mamãe, mas quebrou um galho e eles parecem bem aconchegados, crescendo a olhos vistos.

Nas proximidades de Euclides da Cunha, sertão da Bahia, dava dó circular por lá e ver tanta arara-azul-de lear caídas mortas no chão, aquela que esteve muitos anos na lista das aves em extinção, caídas mortas no chão.

Se olhássemos para cima, víamos muitas delas voando em bando, formando um belo contraste do azul anil de suas asas com o azul piscina do céu que protege os moradores de Euclides da Cunha.

Alguma coisa precisava ser feita. E foi.

Os moradores bateram à porta da companhia de eletricidade local para pedir socorro e foram atendidos. Aos poucos, a empresa começou a distanciar os fios onde as araras-azul-de-lear pousam e acabam caindo mortas, eletrocutadas.

A obra está custando uma grana, mas não importa. Mais vale uma arara-azul-de lear nos céus de Euclides da Cunha do que duas mortas no chão esturricado do sertão da Bahia.

Em Cabo Frio, Região dos Lagos, no Rio, a família deu falta de Docinho, uma poodle branca, meio feinha, mas fofa.

Docinho sumiu!

A notícia se espalhou por Cabo Frio, fotos dela foram postadas nas redes sociais, mas nada. A família teve de voltar para Arraial do Cabo, onde moram, com um vazio no banco de trás do carro, sem Docinho. A filha de três anos, muito pequena ainda para entender o desaparecimento de seres vivos, ficou jururu de dar dó.

Quinze dias se passaram.

Foi de manhã que, ao sair de casa, Monique, a dona da cadelinha, avistou Docinho na calçada, abatida e muito magra. Achou que era um sonho, uma vertigem, mas era Docinho, que sabe Deus como, percorreu mais de quinze quilômetros de Cabo Frio até Arraial do Cabo, mas voltou pra casa.

Muito choro, muita emoção. Abraços e carinhos e beijos sem ter fim. Além da certeza de que a vida é bela.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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