Opinião

Chamem o general

Daqui a pouco vão concluir que está na hora de trocar o presidente por um militar. Tem um pronto e à espera

Chamem o general
Chamem o general
Sem máscara, o Presidente da República Jair Bolsonaro e o vice durante Solenidade de transmissão do cargo de Comandante Militar do Sul. Foto: Marcos Corrêa/PR
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Nem precisa dar um golpe. O Brasil é comandado de fato por uma junta ou ala militar. Fardados, da ativa e de pijama, ocupam 2.897 cargos no governo Bolsonaro, segundo levantamento do repórter André Barrocal. Adoram uma sinecura. Os mais estrelados, supostamente probos, lutam para não ter parte do salário descontado para cumprir o teto constitucional de 39 mil reais. Querem acumular aposentadorias e outros vencimentos, passar dos 50 mil, 60 mil.

É gente diferenciada, como se sabe, estão lá prontos para defender a pátria e não merecem ser tratados como meros civis. Não me surpreenderia se alguém constatasse que há hoje mais militares entrincheirados em uma função pública do que durante a ditadura. Temos um ministro interino da Saúde sem formação em Medicina, general versado em logística. Talvez por essa razão, por conta da especialidade, Pazzuello tenha submetido um praça ao vexame de puxar uma carroça. O Brasil não pode parar, sua mula. Criamos uma nova espécie de jabuticaba: o chefe da Casa Civil é um militar.

 

Os milicos viraram a solução mágica de todos os problemas. Curam mais do que cloroquina. Quer debelar ou escamotear uma crise, convoque um general. Quer aparentar força, desfile de braços dados com um fardado. Deseja transmitir a ideia de inteligência, meta-se em uma roda de quepes.

Propus em um texto recente que as escolas de samba deveriam criar uma “ala militar”, estrategicamente acomodada logo depois da Comissão de Frente, muito à frente das baianas. Ninguém mais perderia pontos por atraso ou evolução. Aí de algum jurado se tivesse a coragem de lascar um 9,8… É tal o poder dos coturnos que talvez sejam capazes de resolver até o incômodo no baixo ventre daquele motorista de ônibus da piada, animado com o beijo milagroso de um namorado apaixonado.

O único risco para Bolsonaro é chegarem a conclusão de que trocar ministros civis por fardados não resolve mais a situação. Que a única saída seria substituir o próprio presidente. Se um capitão não dá conta, chamem o general. Do Palácio do Jaburu ao Palácio do Planalto, são cinco minutos de carro. Blindado ou não.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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