Esporte
Campos minados
O esporte, assim como outras áreas da sociedade, precisa participar da mobilização sempre necessária à manutenção da democracia


Enquanto a Olimpíada, o grande acontecimento esportivo deste 2024, vem ganhando contornos a cada dia mais concretos, o calendário do futebol, pelo mundo, aproxima-se do encerramento da temporada.
E por aqui ele começa, enfim, a aquecer.
A Champions League atravessa a fase das semifinais com jogos espetaculares.
Restam agora na disputa Real Madrid, Bayern de Munique, Borussia Dortmund e Paris Saint-Germain – pela ordem de favoritismo que, como sabemos, em futebol não é garantia de nada.
Na quarta-feira 1º de Maio, o Borussia ganhou do PSG por 1 a 0, no Signal Iduna Park, em Dortmund, na Alemanha. No dia anterior, Bayern e Real Madrid haviam empatado em 2 a 2 no Allianz Arena, em Munique. No Real, brilhou mais uma vez o brasileiro Vini Jr., autor dos dois gols da partida.
A rodada de volta, com partidas na terça-feira 7, no estádio do PSG, em Paris, e na quarta-feira 8, no Santiago Bernabéu, em Madri, promete jogos ainda mais acirrados que os de ida. E olha que os jogos de ida foram disputados palmo a palmo.
Na Alemanha, o campeão deste ano é o Bayer Leverkusen, que leva pela primeira vez o título. Desde 2000, o Bayern de Munique venceu 15 títulos do campeonato nacional. O Borussia Dortmund, por sua vez, foi o ganhador nos anos 2002, 2011 e 2012.
Agora, o Bayer Leverkussen quebra essa rotina. Trata-se de uma novidade auspiciosa.
Ao mesmo tempo, o Borussia, com sua vitória sobre o PSG, mostrou ser um time com altíssimo nível de amadurecimento.
A despeito de todas as dificuldades – inclusive esperadas, nas circunstâncias de uma semifinal da Champions, que envolve alta técnica do começo ao fim –, a equipe teve uma vitória merecida.
O time me fez até lembrar o Marrocos da última Copa do Mundo. A seleção africana, como já lembrei aqui outras vezes, foi a minha preferida.
Curiosamente, apenas depois de manifestar meu entusiasmo com o lateral-direito do PSG, Achraf Hakimi, soube que ele é marroquino.
O jogador já teve passagens por Real Madrid, Borussia Dortmund e Inter de Milão. Agora, assinou contrato com o time francês até 2026.
Hakimi me deixou ainda mais curioso para saber o que acontece no futebol daquele país africano, que, ao menos pelo que nos chega, mantém a firmeza diante da opção pela qualidade artística do futebol.
Do lado de cá, em meio a denúncias de irregularidades nos campeonatos disputados e um sem-fim de confusões envolvendo as SAFs, vemos ressaltadas as desigualdades das condições entre os times, a começar pelo piso dos estádios.
Essas situações mostram o descontrole absurdo das instituições que deveriam ser responsáveis pelos certames. E, nesse sentido, os resultados vão se mostrando coerentes.
Pela Copa do Brasil, o Flamengo venceu o Amazonas no Maracanã, por 1 a 0, mas saiu vaiado do estádio.
A “onça”, como vem sendo chamada a equipe do Norte do País, é uma boa surpresa. O time, depois de ter sido campeão na Série C, chegou agora à Série B.
Ainda no que diz respeito aos campeonatos nacionais, não consegui entender a marcação de jogos para o horário das 11 horas da manhã, como foi o caso do clássico Flamengo vs. Botafogo, na rodada anterior, em um dos domingos mais quentes deste período do ano.
Num momento em que todos se mostram atrapalhados com times mistos, procurando poupar jogadores – e com um número elevado deles entregues aos departamentos médicos –, não se vê nenhuma manifestação de qualquer representação coletiva por parte dos atletas.
Isso é uma pena. Porque o esporte, assim como tantas outras áreas, precisa participar da mobilização sempre necessária à manutenção de uma democracia saudável. •
Publicado na edição n° 1309 de CartaCapital, em 08 de maio de 2024.
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