

Opinião
Burrice é a Julieta de Romeu
Com a prisão de Napoleão do Hospício, Zema apresenta-se com a Estratégia do Paspalho, uma rage bait diferenciada


Olá! Estas são as NOTÍCIAS DO HOSPÍCIO! O semanário de bordo da nossa viagem na maionese. Os flatos que foram notícia no Brasil e no mundo. As últimas informações sobre o vácuo de poder no interior do sanatório. E as desventuras daquela que pulou o muro e acabou presa na Itália, quando bastava reivindicar o leito privilegiado nos hospitais onde convalesce aquele pessoal dodói.
Com o Napoleão do Hospício Jair Bolsonaro colocado em confinamento, candidatos ao posto começam a lançar-se em disputa pelo controle da ala bolsonarista. O primeiro a apresentar-se oficialmente foi Romeu Zema, cuja arma principal é o uso estratégico da BURRICE, de forma a criar uma relação empática com os neurônios prejudicados de sua audiência. Além de garantir ampla divulgação da própria imagem por incautos e indignados caçadores de asnos, entre eles este colunista burro.
O candidato vem trabalhando no estratagema desde a entrevista virtual de admissão no sistema. “O senhor me ouve bem?”, perguntou a interlocutora. “Sim, OUVO”, respondeu em singular primeira pessoa. Tempos depois, filmou a si próprio comendo uma banana COM CASCA. Ambos os vídeos o projetaram como uma espécie de Pateta, sublinhado pelo inexistente sotaque do mineiro de anedota. Romeu havia encontrado, enfim, a sua Julieta: a burrice, que é traço marcante dos adoradores de pneu à espera do general Benjamin Arrola.
Na semana corrente, Zema intensificou e deu lustro à ESTRATÉGIA DO PASPALHO. Tornou-se uma metralhadora de asneiras, ao mesmo tempo que conferiu capricho à personagem do JECA FASCISTA. Falou em “varrer o PT do mapa”. Comparou morador de rua a carros abandonados que devem ser removidos com guincho. Criticou o Bolsa Família e propôs transformá-lo no que já é, e ele supostamente não sabia. Reproduziu fala irônica de Renato Russo sobre “tradição, família e propriedade”, e concordou “plenamente”. Burros foram evocados em centenas de comentários nas redes, a fazer ecoar o relincho de Romeu.
A estratégia enquadra-se na tática do rage bait, ou “ISCA DE RAIVA”, usada para criar engajamento na internet. Segunda a IA de uma big tech entendedora do assunto, “consiste em criar publicações com o objetivo de provocar reações negativas, como raiva, indignação ou frustração, com a intenção de gerar mais cliques, comentários e compartilhamentos. Em outras palavras, é uma forma de manipular as emoções e aumentar a visibilidade”. Se é que Romeu possui neurônios o suficiente para tais conexões.
E ATENÇÃO PARA O TRIPLO TWIST CARPADO, ou A TERRA PLANA TAMBÉM CAPOTA! 1. Carla Zambelli, a interna que escapou pelo muro, foi contra o programa Mais Médicos, e agora está sendo atendida na cadeia da Itália por uma médica cubana. 2. Durante a pandemia de Covid–19, ela levantou suspeitas de que pedras estariam sendo enterradas no lugar de pessoas, e que a doença seria mentira. Agora, em audiência de custódia, o juiz desconfiou de que sua doença é lorota. 3. Carla votou contra a distribuição de absorventes na prisão. E agora? Seus advogados reclamam da falta de produtos básicos de higiene pessoal. AQUI SE FAZ, LÁ SE PAGA!
THAT’S ALL, FOLKS! Voltamos a qualquer momento com novas informações. NOTÍCIAS DO HOSPÍCIO nunca desliga. •
Publicado na edição n° 1376 de CartaCapital, em 27 de agosto de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Burrice é a Julieta de Romeu’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.