Breve carta para Viviane

Queremos, eu e a aniversariante Viviane, adentrar lavouras e convencermos o valor da associação de tecnologias no aumento da produtividade

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A coluna de hoje, 12 de maio, será em homenagem ao aniversário de Viviane, amiga, profissional, cuja inteligência e árduo trabalho nos reúne desde 1998, quando a grande empresa em que eu era diretor geral – e ela a responsável por um setor da área comercial – quebrou, e ela ficou junto comigo, por ignorância, obrigação moral, falta de experiência e lealdade com patrões. Também pela minha certeza e prepotência de vitória. Não aconteceu. O sistema econômico neoliberal já havia me liquidado. Errei como erram os poucos espertos.

Mas 12 de maio não é o meu aniversário, é o dela, e acabei fazendo-a CEO de uma companhia, fundada há 10 anos, média empresa, razoável crescimento para o que, hoje em dia, significa construir um modelo agrário menos dependente de agroquímicos e tóxicos, conceitos a serem vendidos, e não facilmente comprados.  

Ela, em sua competência, assertividade, inteligência, honestidade e lealdade tem conseguido transformar tais tecnologias em verdades agrárias. O velho aqui, acompanha. Dicas cá, pitacos ali, divergências acolá, seguimos com a C&F Insumos Agrícolas (ou Campo&Flores, quando na divisão de paisagismo). Antes da pandemia e do isolamento social, todas as semanas, visitávamos a fábrica no interior de São Paulo, e depois saíamos para visitarmos clientes produtores finais, lojas de agropecuária e vendedores, técnicos agrícolas e vendedores.

Não se faz agricultura sem isso. Hoje, faz 60 dias que não nos vemos pessoalmente, desde que voltamos de Petrolina-PE. Apenas reuniões diárias, no final da tarde, pelo Facetime. Assim estamos tocando e fazendo sobreviver a empresa, em meio a tantas promessas de ajuda do governo e das gulosas instituições bancárias. Para mim, pesam muito o desastre da falta do olho-no-olho, o churrasco de beira de estrada, o ‘queijim’ mineiro, a boa cachaça de fim de tarde, salgadinho amaciando o sabor, o gole se arrastando língua abaixo. 

Histórias infindas. O sono arrasador para quem, idoso, andou entre lavouras, pensando “quando isso vai acabar, o que eles ainda têm a falar?”. Depois me penitencio. Foi bom! No isolamento social, longo demais, a vista começa a falhar, tanto o uso das telas. Puta morte e doenças estranhas, que parecem tão próximas.  


Queremos, eu e a aniversariante Viviane, adentrar lavouras e convencermos o valor da associação de tecnologias orgânicas e minerais no aumento de produtividade sustentável em lavouras de todos os cultivares brasileiros. Frustramo-nos muitas vezes. Há muito conservadorismo por parte dos produtores. Preferem o convencional, massificado pelo poder de divulgação da grande agroindústria.

Vejam só: “No Brasil, existem 5,3 milhões de imóveis rurais, que ocupam 422 milhões de hectares, média de 102 ha/ por produtor, 77% destes ocupados por grandes propriedades”. Devo criticar o modelo estabelecido ou conformar-me com a decisão fundiária tomada e o modal de transportes estabelecidos?

Caso meus editores concordem, quero entrevistar os Guedes Pinto, o pai, ex-ministro de Lula, e seu filho, pesquisador da Esalq, que já toparam. De Bolsonaro, não tenho mais o que escrever. “Quem não te viu, não o verás”. 

Mas 12 de maio é de Viviane, companheira de fábrica, campos, Esalq, Unicamp, e da verdade. Parabéns, menina, deste cronista e eterno companheiro. Inté. Feliz aniversário!

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