

Opinião
Brasileirão capenga
A primeira rodada do campeonato tem início com queixas de todas as ordens: da falta de qualidade do gramado a erros na arbitragem


Começou o esperado Brasileirão, e começou mal. No balanço da primeira rodada, o que se destacou foi o volume de reclamações – da qualidade do gramado à arbitragem.
Durante a partida entre Atlético de Goiás e Flamengo, o piso solto do outrora elogiado Serra Dourada, em Goiânia, gerou cenas impensáveis.
Acompanhamos, pelas imagens da televisão, um funcionário do Dragão usando um pedaço de madeira e outro de ferro para “martelar” uma parte alta do gramado, por onde passa o sistema de irrigação. E, ao longo da partida, foram vistos funcionários remendando a grama, tentando tapar os buracos.
Já a arbitragem, como se diz pelas resenhas das ruas, “operou” o time da casa. O árbitro André Luiz Skettino começou a partida com a expulsão do excelente técnico Jair Ventura, do Atlético. Ventura admite que falou um palavrão, mas nada que, segundo ele mesmo, não seja relativamente comum no campo de futebol.
A expulsão foi o primeiro sinal de outras mancadas que se seguiriam. Uma delas culminou, inclusive, com um pênalti que deu o que falar. O argumento do Flamengo é de que o árbitro errou também contra sua equipe.
O fato é que a qualidade da arbitragem brasileira anda muito baixa. A suspensão de três juízes pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acabou carimbando os erros grosseiros.
De forma geral, a pressão é grande. Dirigentes do rubro-negro fizeram grandes reclamações durante a semana, cobertos de razão, quanto ao calendário a ser seguido.
No mês passado, 12 clubes pleitearam, sem sucesso, alterações na tabela por conta da Copa América, torneio internacional organizado pela Conmebol, que acontece de quatro em quatro anos.
A 48ª Copa América reunirá 16 seleções, de 20 de junho a 14 de julho, nos Estados Unidos, e deve afastar cerca de 20 jogadores do Brasileirão – esses atletas devem ser convocados pelas seleções de seus países.
Os convocados para a competição continental vão perder, no mínimo, sete jogos do Brasileirão.
Os argumentos a favor da mudança vão no sentido de dizer que a ausência de jogadores desprestigia o principal campeonato do País. Sabe-se que, além disso, o calendário que tem sido chamado de “irresponsável”, leva à lesão e ao afastamento de muitos atletas.
Jogar 80 jogos sem se lesionar é humanamente impossível. Os atletas, hoje, atuam no fio da navalha. As equipes que estão participando da Libertadores têm de jogar em suas cidades e, muitas vezes, já no dia seguinte embarcar para outro país.
No caso das partidas realizadas no Equador, por exemplo, os jogadores enfrentam mais de dez horas de viagem – porta a porta – e, lá chegando, têm de se adaptar à altitude de 2,6 mil metros.
Ainda sobre o calendário, cabe observar que o Noroeste, que alcançou a divisão principal do Paulistão, abriu mão de jogar a Copa Paulista 2024.
Na segunda-feira 15, o clube do interior paulista justificou a desistência pelo alto custo das obras exigidas pela Federação Paulista de Futebol para o estádio Doutor Alfredo de Castilho, o Alfredão, de Bauru, onde o Noroeste realiza seu mando em jogos oficiais.
O clube, além de ter de lidar com o alto custo das obras, teria de jogar muitas partidas fora de Bauru, aumentando ainda mais as despesas.
Isso significa, na prática, que o Norusca vai ficar meses sem tabela de jogos ao mesmo tempo que terá de reformular o elenco para ultrapassar a “subida de sarrafo” conseguida a duras penas.
Fora dos campos, tem destaque a notícia – dada pelo Globo Esporte – de que, na sexta-feira 12, o presidente do Vasco, Pedrinho, pediu, por meio do departamento jurídico do clube, garantias de que a 777 Partners depositará o aporte previsto para setembro deste ano. A notificação, de acordo com o GE, foi recebida com surpresa pelos executivos americanos, donos da SAF.
Na escalada das argumentações, os detentores da SAF vascaína consideram agressivas as pretensões do presidente. Eles chegaram a soltar algumas pérolas. Nos chamaram de “botocudos” e disseram que o que os une a todos “é o amor pelo Vasco da Gama”.
Do outro lado do mundo, a Champions League, na fase de classificação para as semifinais, apresentou jogos recheados de gols e viradas espetaculares.
As semifinais, que prometem ser extraordinárias, acontecerão entre o fim de abril e o início de maio entre Real Madrid, Bayern de Munique, Paris Saint-Germain e Borussia Dortmund. •
Publicado na edição n° 1307 de CartaCapital, em 24 de abril de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Brasileirão capenga’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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