Justiça

Brasil COP26: estilhaço para todos os lados

Nas políticas climáticas, o Brasil agoniza e, caso a política de morte bolsonarista prevaleça, a catástrofe será planetária.

Foto Brendan SMIALOWSKI / AFP)
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No final de outubro e início de novembro, acontecem dois eventos importantes de relevância global: a reunião de líderes do G20, grupo composto pelas vinte maiores economias do mundo, e a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, a COP26.

No encontro do G20, sediado em Roma, na Itália, o presidente Bolsonaro ficou visivelmente deslocado, incomodado e isolado pelos demais líderes mundiais, rodeado apenas pelos seus próprios ministros, fruto da política externa vergonhosa que relegou o Brasil à posição nada honrosa de pária do mundo.

Já na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Glasgow, na Escócia, Bolsonaro sequer se deu ao trabalho de comparecer, tamanho o seu desprestígio quanto ao tema, enviando como comissário e porta-voz o ruralista e ministro do meio ambiente Joaquim Leite.

Manifestantes protestam contra homenagem a Jair Bolsonaro em Angillara Veneta (1/11/2021). AP – Luca Bruno

Apenas gravou um vídeo, exibido no evento, afirmando que o Brasil é “potência verde” e que, quanto ao problema climático, é parte da solução e não do problema global, apresentando como solução o Programa Nacional de Crescimento Verde, vago em termos linguísticos e repleto de promessas vazias. Também afirmou que as políticas do país são calcadas no desenvolvimento sustentável, com foco em baixas emissões.

Sobre a questão climática, o ministro do meio ambiente Joaquim Leite afirmou que a nova meta brasileira de redução de gases do efeito estufa será de 50% até 2030 e de neutralidade de carbono até 2050, sem, contudo, apresentar parâmetros sérios e contundentes para o alcance dos valores, não encontrando base empírica na política bolsonarista, manifestamente anti-ecológica.

Historicamente, o Brasil foi um importante articulador nas temáticas ambientais, hoje, trata-se da mistura do cômico com o trágico.

O país ocupa o 4º lugar dentre os maiores emissores de gás carbônico mundial, segundo estudos da think tank internacional Carbon Brief, perdendo apenas para os EUA, China e Rússia. Na Amazônia, houve um aumento de 7,13% nas taxas de desmatamento entre 2019 e 2020, fruto da antipolítica desastrosa ambiental de Bolsonaro.

A floresta tropical tem um papel fundamental no sucesso ou insucesso das políticas climáticas globais. Ajuda no equilíbrio do clima do planeta, por armazenar séculos de emissões de dióxido de carbono, um dos principais gases do efeito estufa, além de funcionar como umidificador do planeta, com cerca de 20 bilhões de toneladas por dia pela atmosfera, no formato de “rios voadores”. Também é responsável por 20% do oxigênio da Terra e pela absorção de quantidade considerável de calor solar.

Por conta do aumento das queimadas e do desmatamento, a floresta amazônica brasileira liberou 20% mais dióxido de carbono na atmosfera do que absorveu entre 2010 e 2019, tornando o cenário do futuro devastador.

 

No governo de Bolsonaro, ocorre o desmonte sistemático e deliberado das políticas ambientais, com cortes orçamentários, retrocessos no marco legal de licenciamento ambiental de empreendimentos de infraestrutura, de mineração e do agronegócio, o aparelhamento, desmonte e redução da capacidade operacional dos órgãos públicos responsáveis pela gestão socioambiental.

As declarações públicas de Bolsonaro sinalizam sistematicamente o afrouxamento da fiscalização, apontando para a impunidade quanto à prática de crimes ambientais, com a recusa da demarcação de terras indígenas e o favorecimento de que reservas ambientais sejam destinadas para exploração por mineradoras, hidrelétricas e agronegócio.

Líderes indígenas, ambientalistas e militantes são sistematicamente assassinados e perseguidos, enquanto a Amazônia caminha, cada vez mais, para virar uma savana seca facilmente combustível, tornando o Brasil um dos países mais vulneráveis às desertificações decorrentes das mudanças climáticas. E o agravamento do quadro é resultado direto do comportamento do governo de Jair Bolsonaro.

Na COP26, ele se esquiva das discussões de assuntos de alta relevância a nível global, quanto aos processos climatológicos, biológicos, sociais e econômicos relacionados aos efeitos das mudanças climáticas, bem como as medidas de enfrentamento, assunto que deveria ser de primeira ordem mundial.

A conferência deveria, em tese, responder à publicação do sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC, que trouxe conclusões alarmantes sobre os inequívocos efeitos da ação humana sobre o planeta, apontando o aquecimento de 1,09ºC, sendo 1,07ºC proveniente da queima de combustíveis fósseis e desmatamento, bem como a previsão desastrosa de que o aquecimento chegará a 1,5ºC na próxima década, com ondas de calor, inundação e outros impactos preocupantes.

Bolsonaro escolhe deliberadamente não ir à COP26, pois sabe o seu papel no aprofundamento desses problemas, apresentando, por meio de um vídeo quase robótico, meras promessas vazias. O vice-presidente Mourão diz que Bolsonaro não foi a Glasgow para não ser apedrejado. Mas e os tetos de vidro que seu governo tão cuidadosamente instalou e que irão contribuir com o efeito estufa, o aquecimento global e a catástrofe climática?

Se Bolsonaro, no cenário internacional, está isolado, não podemos esquecer que a sua potência de destruição é de níveis planetários e os estilhaços de vidro se espalharão, certamente, por todos os lados.

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