Opinião

Bolsonaro tenta provar que loucura é sanidade

Nós deveremos decidir muito proximamente o País que queremos, se o do terror – o do genocida e asseclas; ou o da liberdade

Foto: EVARISTO SA / AFP
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“Cuidado com o falso conhecimento. Todo mal se origina dele.”
Leon Tolstoi.

A extinção da Coordenação de Saúde Mental, do Ministério da Saúde, expõe a rota perigosíssima deste desgoverno insano. O presidente ilegítimo, aposentado pelo Exército por insalubridade mental, investe contra a saúde mental, na tentativa de provar que loucura é sanidade e, dessa forma, banalizar o mal.

Borrando os limites, o genocida poderá investir contra os opositores e entregar aos pastores desonestos os cuidados dos dependentes químicos, com recursos do Estado…

Um crime de privatização dos recursos públicos, promíscuo e ao gosto do capitalismo local.

A História, mais uma vez, repete-se, como farsa.

Infelizmente, os crimes da quadrilha no poder banalizaram-se, tamanho o volume e gravidade com que foram cometidos.

Por exemplo, um general, um tal Brega Neto (ou algo parecido) ameaçou com a não realização das eleições se as regras impostas pelo neo-ditador não forem acatadas.

Ora, ameaçar a democracia não é crime de terrorismo? Esse senhor ameaçou 220 milhões de cidadãos e cidadãs e nada acontece? Isso não é terrorismo em massa?

Aguardemos que ele possa ser enquadrado como terrorista e ser transportado, preso, para os Estados Unidos da América, como o fora o general Noriega, do Panamá.

Com efeito, a relação entre ruptura democrática e desastre social está bastante clara: o Brasil acaba de retornar ao mapa da fome, elaborado pela ONU, do qual saíra em 2014.

Não é esse também um crime de terrorismo? Não deveriam Michel Temer e comparsas serem transportados em jaulas para a Haia e lá serem condenados à prisão perpétua?

Não são todos eles responsáveis pela fome de 33 milhões de pessoas em um país que é um dos maiores exportadores agrícolas do mundo?

Em “Os filhos dos dias” (editora L&PM), Eduardo Galeano relata: “Em 1638, nasceu Luís XIV, rei da França, o Rei Sol. O Rei Sol viveu dedicado às gloriosas guerras contra seus vizinhos e ao cuidado de sua cacheada peruca, suas capas esplêndidas e seus sapatos de salto alto. Sob seu reinado, duas sucessivas epidemias de fome mataram mais de dois milhões de franceses. A cifra foi conhecida graças a Blaise Pascal, que havia inventado, meio século antes, a calculadora mecânica. E a razão foi conhecida graças a Voltaire, que tempos depois escreveu: – A boa política conhece este segredo: como fazer morrer de fome os que permitem que os demais vivam.”

De fato, acreditava-se que a fome resultava do excesso populacional. Atualmente, sabe-se que isso é um engano. O quase um bilhão de pessoas que passam fome no mundo só não conta com renda mínima para adquirir os alimentos, que abundam. Não há fome por escassez de alimentos, mas de democracia, de justiça social que permita a todos gozarem do direito humano à alimentação, inalienável, fundamental, universal.

Uma vergonha para a humanidade.

Naquela mesma obra, Galeano demonstra como a cultura é o centro da política, o que Antonio Gransci tão bem ressaltou em sua filosofia política: “Em 1954, os rebeldes vietnamitas propiciaram uma tremenda sova aos militares franceses em seu invulnerável quartel de Dien Bien Phu. E depois de um século de conquistas coloniais, a gloriosa França teve de sumir correndo do Vietnã. Depois, foi a vez dos Estados Unidos. Nem vendo dava para crer: a primeira potência do mundo e de todo o espaço sideral também sofreu a humilhação da derrota nesse país minúsculo, mal-armado, povoado por pouca gente e por gente pobre. Um camponês, de lento caminhar, de palavras escassas, encabeçou essas duas façanhas. Ele se chamava Ho Chi Minh, era chamado de Tio Ho. Tio Ho se parecia pouco aos chefes de outras revoluções. Em certa ocasião, um militante voltou de uma aldeia e informou a ele que não havia maneira de organizar aquela gente. – São uns budistas atrasados, que passam o dia inteiro meditando. – Pois volte lá e medite – mandou Tio Ho.”

Para vermos como o conceito de terrorismo é manipulável, Galeano, naquela obra, conta-nos mais uma história: “No final de 1979, as tropas soviéticas invadiram o Afeganistão. De acordo com a explicação oficial, a invasão queria defender o governo laico que estava tentando modernizar o país. Fui um dos membros do tribunal internacional que tratou do assunto em Estocolmo, no ano de 1981. Jamais esquecerei o momento culminante daquelas sessões. Estava dando seu depoimento um alto chefe religioso, representante dos fundamentalistas islâmicos, que naquela época eram chamados de ‘freedom fighters’, guerreiros da liberdade, e que agora são terroristas. Aquele ancião trovejou: – Os comunistas desonraram nossas filhas! Ensinaram elas a ler e escrever!”.

Sobre submissões e insubmissões, Francesco Perrota-Bosch, em “Lina – uma biografia” (editora Todavia), conclui sobre a personalidade, única, da arquiteta Lina Bo Bardi: “A ideia por trás da concepção dos cavaletes de vidro do MASP é a mesma com que Lina Bo Bardi buscou arquitetar sua própria vida. Uma postura ativa perante os acontecimentos. Insubmissa diante de qualquer interlocutor. Desvencilhando-se de imposições prévias. Uma menina que ‘nunca quis ser jovem. O que eu queria era ter história. Com 25 anos queria escrever memórias, mas não tinha matéria.’ Matéria que ela criou incessantemente, da infância em Roma até se tornar uma senhora naquela casa em meio à mata distante no Morumbi…Tudo quis decidir, principalmente qual é o seu país…”.

Também nós deveremos decidir muito proximamente o País que queremos, se o do terror – o do genocida e asseclas; ou o da liberdade, sem fome e sem medo, principalmente de ser feliz.

 

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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