Opinião

Bolsonaro precisa ser julgado por genocídio premeditado

‘Enfrentemos os nossos demônios! São ineptos, ignorantes e maus’, escreve Milton Rondó

Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro. Foto: Sergio Lima / AFP
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“Vá, acorda a tua felicidade”.
Provérbio persa.

Todas as pessoas de bem, em todo o mundo, aguardam – ansiosamente – que a população brasileira acorde do sonho ruim que vivemos.

Um presidente genocida, assessorado por um general, ministro da saúde, o qual – supostamente – seria especializado em logística.

Ocorre que os genocidas, ambos, não conseguem prover a mínima assistência, seja na prevenção da pandemia, por meio da vacinação; seja no tratamento hospitalar, faltando até oxigênio nos hospitais em Manaus, o que demonstra que o tal general não entende nada de medicina e ainda menos de logística.

Tendo em vista a gravidade dos mal-feitos deste desgoverno, não caberá apenas discutir o impedimento de todos, mas o julgamento e condenação dos assassinos por crime de genocídio premeditado.

Na “orelha” da coletânea de contos chineses “Estórias sobre como não ter medo de fantasmas“, lemos: “Este livro inclui trinta e cinco estórias sobre como não ter medo de fantasmas, extraídas de antigas coleções chinesas de fábulas e anedotas. Elas mostram a retidão e a coragem do povo chinês nos tempos antigos, não temendo enfrentar os fantasmas. Atualmente, todos sabem que fantasmas não existem. Entretanto, embora não haja demônios como os descritos nestas fábulas, há muitas coisas que se assemelham – imperialismo, reacionários, dificuldades e obstáculos no trabalho, por exemplo. Estas histórias, portanto, podem ser consideradas como alegóricas e sátiras desses males”.

Enfrentemos os nossos demônios! São ineptos, ignorantes e maus. Sua truculência tem a mesma intensidade de sua fraqueza – e os violentos sabem disso.

A propósito, em um dos contos da referida coleção encontra-se boa definição desses espectros de seres humanos e como fazer-lhes face: “…um fantasma apenas molesta a pessoa que o tema…ele desprezava os fantasmas em sua própria mente e sua coragem era grande o suficiente para espanta-los para longe”.

Em outro conto daquela compilação, encontramos outra boa definição: “Quando um homem tem medo, sua mente torna-se confusa e ele perde a esperança, permitindo que um fantasma possa tirar partido dele. Se ele não tem medo, ele pode permanecer na plenitude de suas faculdades, com o coração sadio. Então, nenhum espírito mal conseguirá apossar-se dele”.

Outro conto daquela série esclarece quando nos tornamos apetecíveis aos fantasmas: “As pessoas de quem nos apoderamos são aqueles que têm tanto medo que seu espírito sai voando de seus corpos”. O mesmo conto ensina como ser-lhes refratários: “Essa pessoa deve ser uma pessoa que tenha atingido a verdade. Seu coração não conhece nenhum medo e seu espírito não decolou de seu corpo; então, não é fácil agarrar”.

Um exemplo de desassombro vem da martirizada Ruanda: o Presidente Paul Kagame determinou o fechamento de seis mil igrejas e mesquitas com titulares desprovidos de formação teológica. Justificou a medida, dizendo que Ruanda é um país abençoado, cuja fé não pode ser objeto de exploração.

Permitam-me a analogia da intrepidez, aproveitando o fato de que alguns países vêm reconhecendo a titularidade de direitos até mesmo aos animais, ao passo que o desgoverno brasileiro os nega aos próprios humanos: minha avó paterna morava em Presidente Venceslau, no Pontal do Paranapanema. Como é comum no interior, tinha um animal de estimação, que no caso era uma belíssima arara.

Apaixonada por minha avó – na mesma proporção com que desprezava os netos intrusos à intimidade delas – essa arara não deixava nunca seu poleiro, salvo para nós perseguir, quando excedíamos em importunações. A outra exceção eram os desfiles militares da ditadura.

Com efeito, nos 7 de setembro, ela saía invariavelmente pela fiação aérea da luz e ia fazer evoluções acima da parada militar, que desfilava a dez metros da casa da vovó.

Não tinha para mais nenhum verde oliva: a arara arrancava aplausos, gritos infantis e sorrisos cúmplices da plateia, em quantidade muito superior à sombria e espectral parada militar.

Hoje, diria que o belo animal era uma autêntica anarquista tolstoiana, honrando o adágio do autor de “Dois Hussardos”: “As melhores coisas resultam sempre do acaso: quanto mais você se esforça, pior a coisa sai”.

Ela não se esforçava, apenas tinha consciência da própria beleza e das habilidades que jeeps, uniformes e canhões não podiam emular.

Às vezes, ver o mundo de ponta-cabeça pode fazer bem, pois o medo não é maior do que nossa capacidade de virarmos o jogo, como sempre nos recorda minha amiga Maria Lúcia Fatorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida.

Como o mundo dá voltas: no momento em que brasileiras e brasileiros morrem sufocados em Manaus, homicídio doloso perpetrado pelos desgovernos federal e estadual, vemos o governo da Venezuela vir em nossa ajuda, fornecendo-nos oxigênio. O Chanceler venezuelano, que inúmeras vezes pediu ao nosso chanceler fake que deixasse de ser terraplanista, manifestou o que move a diplomacia de seu país: a solidariedade latino-americana.

Em agradecimento a esse gesto magnânimo do povo venezuelano, aproprio-me das palavras do Chanceler da República Democrática da Coreia, ao agradecer ao Brasil a doação de alimentos que fizéramos àquele país, durante os governos democráticos de Lula e Dilma: “Nem em mil anos esqueceremos esse gesto”.

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