Opinião

Bolsonaro isola Mourão

Um confronto se desenha entre o presidente da República e seu vice. Não faltam indícios de uma desavença latente

Bolsonaro isola Mourão
Bolsonaro isola Mourão
Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Não é mesmo, como parece, um simples jogo político combinado entre Jair Bolsonaro e Hamilton Mourão. Já se fala, mas não se sabe como e por que o conflito começou. O fato é que, neste curto tempo de governo, o presidente da República tem falado pouco e o vice-presidente, muito. Com discordâncias de um e de outro. Talvez haja uma data. A última vez na qual se falaram foi “durante as eleições”. É o que tem revelado Mourão em entrevistas abertas, seja para a mídia local, seja para a internacional.

Mourão carimbou a frase que ouviu de Bolsonaro, dirigida a ele: “Você não entende de política, então vai por mim que vai bem”. Soa como um puxão de orelhas dado por um capitão a um general.

Não se sabe também de qualquer visita ou, ao menos, um telefonema de Mourão para o Hospital Albert Einstein, onde o presidente se recupera de uma operação. Explicação não há. Chame-se a isto de descortesia de superior ao subordinado que se tornou presidente. Ou será efeito da medição do valor de quatro estrelas no mundo civil?

“As criminosas políticas públicas do governo, lançadas por Moro, vão naufragar”, foi a reação do STM e dos advogados criminalistas

O presidente sacrificou a saúde para voltar rapidamente a Brasília. Por esta razão foi isolado das visitas. Inclua-se o general. São poucos os vices que contiveram a vontade de trair. 

Esse ensinamento foi lançado por Tancredo Neves. Aprendeu na conspiração contra Getúlio Vargas, que, com seu suicídio levou o vice Café Filho ao poder, sucessor aliado a Getúlio. Na sequência emergiu Aureliano Chaves, na ditadura. Rompeu cedo com o presidente João Figueiredo. O País saiu para uma dita redemocratização. Collor caiu e seu vice, Itamar Franco, ascendeu com posturas bem diferentes daquelas do antecessor.

Leia também: Mourão: um vice intrigante

Aqui, porém, não se trata disso. É curioso saber até onde irão Bolsonaro e o governo dele. Até 2022? Mourão coça a cabeça todas as manhãs em que, confinado no Palácio do Jaburu, onde mora e trabalha, pode sentir-se isolado.

Além do mais, não há camaradagem entre o general e o séquito presidencial civil do presidente capitão.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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