Henry Bugalho

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Henry Bugalho é curitibano, formado em Filosofia pela UFPR e especialista em Literatura e História. Com um estilo de vida nômade, já morou em Nova York, Buenos Aires, Perúgia, Madri, Lisboa, Manchester e Alicante. Por dois anos, viajou com sua família e cachorrinha pela Europa, morando cada mês numa cidade diferente. Autor de romances, contos, novelas, guias de viagem e um livro de fotografia. Foi editor da Revista SAMIZDAT, que, ao longo de seus 10 anos, revelou grandes talentos literários brasileiros. Desde 2015 apresenta um canal no Youtube, no qual fala de Filosofia, Literatura, Política e assuntos contemporâneos.

Opinião

Bolsonaro, Guedes e o coronavírus: configura-se um tempestade perfeita

Prosseguiremos nesta destruição ou será que despontam os primeiros sinais da reconstrução, da cicatrização de nossas feridas

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É impossível me esquecer do dia 15 de setembro de 2008. Eu morava em Nova York e, após ter sido vítima de uma agressão que me mandou para o hospital, descobri através de um amigo repórter que o banco de investimento Lehman Brothers havia pedido falência. Na redação da emissora onde ele trabalhava, reinava o caos.

Nas semanas e meses seguintes, a maior crise econômica desde 1929 destruiu a vida de milhões de americanos e se alastrou pelo mundo, arruinando a economia de vários países e, na esteira disto, alterando completamente os rumos políticos destas nações.

Como consequência disto, assistimos a uma crescente insatisfação de segmentos cada vez maiores. Para muitos, o capitalismo havia fracassado. A maior prova disto era a profunda desigualdade social – multibilionários cada vez mais ricos e poderosos, enquanto trabalhadores perdiam seus empregos, suas casas, suas economias e, não raro, seus direitos duramente conquistados.

Muitos países que atravessaram tal crise presenciaram, nos anos seguintes, a emergência e consolidação de partidos de extrema-direita e seus expoentes ideológicos: Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil são dois exemplos que nos falam diretamente.

Ao explorarem a revolta e o ressentimento de uma classe média empobrecida, estes populistas conquistaram um espaço no debate público e, com uma retórica divisiva calcada na criação de inimigos imaginários, encontraram os seus alvos: imigrantes, refugiados, feministas, muçulmanos, comunistas, e a lista é longa.

Não podemos menosprezar o poder do ressentimento e do ódio, pois estes foram os mesmos sentimentos explorados pelos regimes fascistas dos anos 30 e 40 na Europa.

Então agora, no dia 9 de março, os mercados globais dão novos sinais de fraqueza e apontam uma nova crise. As bolsas despencaram e, no Brasil, o dólar mais uma vez disparou, ações da Petrobras viraram pó e investidores estão abandonando o barco brasileiro. O “otimismo” em torno das políticas econômicas ultraliberais se revelou como a quimera que sempre foi. Uma recuperação pífia e índices inexpressivos são um balde de água fria para o superministro ostentado como um trunfo por Bolsonaro.

Muitos países mal conseguiram se recuperar da crise passada e terão de lidar com outra, que pode ser ainda mais profunda, já que contamos com o elemento complicador de uma pandemia de coronavírus que tem prejudicado até a economia chinesa, paralisado regiões inteiras, expondo fissuras e fraquezas de regimes já cambaleantes, pondo a prova a resiliência de governos democráticos e aterrorizando o planeta com as perspectiva de milhões de mortos e o eventual colapso de sistemas de saúde.

Nas mãos de um governo de incompetentes como o de Bolsonaro, configura-se diante de nossos olhos uma tempestade perfeita.

Resta-nos saber como este momento será usado pelos extremistas de direita pelo mundo, se aprofundará a posição deles e lhes dará vitórias eleitorais ou até saídas autoritárias, agudizando a polarização política e aumentando o medo e a revolta dos cidadãos, ou se servirá para uma retomada de uma agenda socialista, um fantasma que desde há muito assombrava a população norte-americana e que talvez pela primeira vez na História dos EUA tem sido vista com certo carinho, como uma alternativa para uma classe trabalhadora cada vez mais precarizada.

Estas crises são inevitáveis, bem como suas imprevisíveis consequências. Continuaremos neste mergulho no abismo ou ela nos apresentará novos rumos? Prosseguiremos nesta destruição ou será que despontam os primeiros sinais da reconstrução, da cicatrização de nossas feridas e de uma sociedade menos dividida?

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