‘Bolsonaro é um péssimo presidente e será, provavelmente, derrotado’

Ele não tem coelhos para tirar da cartola e as espertezazinhas que fará de agora à eleição não servirão de nada, escreve Marcos Coimbra

Foto: Sergio Lima / AFP

Apoie Siga-nos no

Nas primeiras aulas do curso de Introdução à Política Contemporânea, os alunos aprendem uma lição elementar: sempre que, em uma democracia, há a possibilidade de reeleição (ou recondução), bons governantes tendem a permanecer no cargo e os maus costumam ser enxotados. Pode-se dizer que é natural que isso aconteça.

Talvez seja, mas muita gente se esquece dessa verdade singela. Como hoje no Brasil, em que se discute o cenário da próxima eleição ignorando algo evidente: Bolsonaro é um péssimo presidente e será, provavelmente, derrotado (se for candidato).

Quando o governante – presidente, governador ou prefeito – não pode ou não quer concorrer, os eleitores e eleitoras têm de procurar, entre os nomes oferecidos, aquele ou aquela mais capaz de realizar as propostas (atitudes, iniciativas, programas, ações etc.) que acham boas para o país, estado ou a cidade em que moram.

Quando, ao contrário, o governante está na cédula, a escolha fica mais fácil. A interrogação passa a ser: “Fulana ou fulano está fazendo um bom trabalho e merece continuar no cargo ou não, mostra-se incapaz e precisa ser substituída ou substituído?” No primeiro caso, a dúvida é a respeito de um difícil quem. No segundo, de um simples sim ou não.

Se o capitão Bolsonaro não for despejado antes, será candidato à reeleição em 2022, pois tem todo o interesse do mundo em continuar onde está. Não vai largar o osso, depois de uma vida inteira na obscuridade. É caro sustentar os luxos da família e a turma de parasitas que com ele se aboletou no poder.

A pergunta mais importante que o eleitorado terá de responder em 2022 é: “Valeu a pena ter Bolsonaro como presidente, foi bom para mim, minha família, para aqueles como eu, minha cidade, o Brasil? As coisas melhoraram, em geral e nas que me preocupam mais (saúde, emprego, renda, educação, segurança ou outras)?” Quem estiver feliz com aquilo que o Brasil é desde 2019 vota no responsável-mor. Quem não estiver vai querer mudança.


Nos Estados Unidos, os dados do Instituto Gallup, disponíveis desde os anos 1940, mostram que todos os presidentes que buscaram a reeleição com 50% ou mais de aprovação, nas pesquisas anteriores à eleição, foram bem-sucedidos. Mostram, também, que todos aqueles que tiveram aprovação menor perderam e não foram reeleitos: Gerald Ford não se reelegeu, em 1976, com 45% de avaliação positiva, Jimmy Carter perdeu a reeleição em 1980, com 32%, e George Bush foi derrotado em 1992, com a aprovação de 37%. Bolsonaro tem, hoje, níveis menores do que qualquer um desses perdedores. Jogará dinheiro fora quem apostar que, nos próximos 12 meses, chegará ao patamar dos vencedores nas reeleições norte-americanas.

O padrão de lá se repete aqui: nos tempos modernos, os presidentes brasileiros bem avaliados se reelegeram ou fizeram sucessores, enquanto os ruins nem sequer chegaram a ter candidatos que os representassem. Em 1989, houve 22 concorrentes e todos fizeram questão de se dizer anti-Sarney. Em 2002, José Serra perdeu porque Lula era melhor e por ser visto como uma continuidade de Fernando Henrique Cardoso, odiado, àquela altura, pela maioria do povo. Em 2018, o capitão ganhou escondendo os vínculos com Michel Temer, evitado até por ex-ministros.

No ano que vem, Bolsonaro não será mais uma opção de risco, em quem uma parcela de eleitores e eleitoras de baixa informação topou votar, pagando para ver. Tornou-se uma realidade, que só não decepciona quem nasceu bronco ou foi embrutecido pela vida. Não há uma única e escassa área de governo em que tenha sido bem-sucedido. É um genocida, culpado por quase 400 mil mortes e milhões de brasileiros com sequelas incuráveis.

Quem, em outubro de 2022, digitar seu número (que ninguém sabe qual será), estará dizendo que gostou de suas cafajestadas e da sua obra e que, por isso, quer que ele continue no cargo. Para a vasta maioria da comunidade internacional, é quase inacreditável que Bolsonaro receba o apoio de uma parcela relevante dos brasileiros.

Pouco importa se estiver mancomunado com militares oportunistas, bispos bilionários, ricaços indiferentes à destruição que promoveu e empresários ultraconservadores da mídia. Bolsonaro vai pagar nas urnas por sua estupidez e seus crimes. Não tem coelhos para tirar da cartola e as espertezazinhas que fará de agora à eleição não servirão de nada.

Para proteger e incentivar discussões produtivas, os comentários são exclusivos para assinantes de CartaCapital.

Já é assinante? Faça login
ASSINE CARTACAPITAL Seja assinante! Aproveite conteúdos exclusivos e tenha acesso total ao site.
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

0 comentário

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.