Frente Ampla

Bolsonaro e Cláudio Castro, duas faces da mesma moeda

Em uma evidente demonstração de negacionismo, governador do Rio de Janeiro mostra seu alinhamento ao presidente da República

O presidente Jair Bolsonaro, ao lado de Cláudio Castro. Foto: Reprodução
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*por Mônica Francisco, deputada estadual pelo PSOL-RJ e presidente da Comissão do Trabalho, Emprego, Renda e Seguridade Social da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro

A primeira morte por Covid-19 no Rio de Janeiro foi da trabalhadora doméstica, Cleonice Gonçalves, aos 63 anos. Mulher negra, hipertensa e diabética, ela percorria 120 quilômetros para chegar à casa de sua patroa, na zona sul da cidade, onde se infectou. Sua história se assemelha com a de milhares de trabalhadoras e trabalhadores que estão expostos à doença nos transportes públicos lotados e na necessidade de trabalhar. Isso porque ou trabalham ou morrem de fome diante de um Estado que se recusa a promover políticas de proteção social, como o auxílio emergencial, cujo valor de aproximadamente 200 reais é insuficiente. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o valor da cesta básica no Rio de Janeiro teve alta de 24,58%, totalizando 644 reais.

 

A fome e a pobreza aumentam durante a pandemia. Há relatos de mulheres vendendo as panelas para compra o feijão e o fubá; e de cada vez mais famílias em situação de rua. Sem teto, sem comida e completamente expostas à Covid-19 e ao descaso dos governantes. No estado do Rio de Janeiro, já há escassez de insumos, kits intubação, falta de Equipamentos de Proteção Individual, os EPIs. Além dessa situação de extrema precarização dos serviços, há superlotação com centenas de pessoas esperando uma vaga na Unidade de Terapia Intensiva com taxa de ocupação altíssima na capital.

O mapa de risco para Covid-19, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, indica que este é o pior momento da pandemia no estado. Vinte e duas cidades do Rio de Janeiro já registram lotação com ocupação acima da capacidade de leitos de UTIs.

Diante deste cenário alarmante, a Alerj aprovou um feriado de 10 dias, desde que respeitadas as decisões municipais. No entanto, o governador em exercício, Cláudio Castro, realizou uma festa em seu aniversário com aglomeração e sem respeito às medidas sanitárias.

Em uma evidente demonstração de negacionismo, Castro mostra seu alinhamento a Bolsonaro que também insiste em apoiar aglomerações, fazer aparições públicas sem o uso de máscara e minimizar a pandemia em discursos oficiais. Cláudio Castro ainda incentivou o turismo em propaganda oficial do governo durante a pandemia.
Neste contexto, agentes públicos agiram conscientemente ou se omitiram em decisões que poderiam salvar vidas. Com o objetivo de revelar casos de omissão e de violação do direito à vida, protocolamos na Alerj um pedido de instalação da Comissão da Verdade sobre o Impacto da Covid-19 – Cleonice Gonçalves, que também foi protocolada na Câmara Federal de Deputados.

Foi evidente a sabotagem ao uso de máscaras; a promoção de aglomerações; o impedimento da realização do isolamento social; assim como o relaxamento precoce de medidas para evitar o contato entre as pessoas, a recomendação de remédios ineficazes e sem comprovação científica que serviriam como tratamento precoce; a implosão de medidas de auxílio emergencial, que permitiriam que famílias inteiras se mantivessem isoladas, sem, com isso, passarem necessidade; a privação do direito à água e ao saneamento e a insegurança alimentar. Tudo isso na contramão de diversos países do mundo que contiveram a pandemia com políticas sociais.

Ultrapassamos os 375 mil mortos no país, mais 40 mil no estado do Rio de Janeiro, com o agravante do aprofundamento da vulnerabilidade social com fome e miséria. Apurar as responsabilidades dos agentes públicos desse genocídio, em sua maioria, contra a população periférica, favelada e pobre, é condição fundamental para que esses crimes não sejam esquecidos, como também para que jamais se repitam. Sabemos que a população negra é a que mais morre, ao mesmo tempo que é a menor parcela da população vacinada contra Covid-19 no Brasil.

Os e as responsáveis por ações e omissões que levaram à morte milhares de brasileiros e de cidadãos fluminenses devem ter seus nomes registrados na História do país e devem responder por prevaricação, crime de responsabilidade e contra a saúde pública. E o nosso recado para o governador Cláudio Castro: os tempos não são de comemoração, mas sim de defesa da vida das pessoas mais pobres e vulneráveis. Bolsonaro e Castro são duas faces da mesma moeda na política da morte. Chega de irresponsabilidade e omissão. A população do Rio de Janeiro quer respirar e viver.

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