Biden e os agronegócios

'Biden? Pouco mudará no comércio exterior. No meio ambiente, talvez', escreve Rui Daher

Crédito: Fotokostic/iStock

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Agronegócios? Esperam que eu diga o quê? Teremos a maior safra de grãos de nossa história? Nesta semana, CONAB, IBGE, consultores quejandos confirmaram o que previ há mais de seis meses. Ando, pesquiso, procuro. Preferem-me repetitivo? Seria fácil, só lidar com o “vista assim do alto, mais parece um céu no chão”, como fazem notáveis colunistas e analistas renomados do agronegócio. A fácil visão do alto, que proliferam em artigos, webinar, e palestras finda a pandemia. Prefiro a crueldade da lupa.

 

 

 

Cotações externas e internas dos grãos, câmbio favorável, mesmo com a estupidez geopolítica e comercial do atual governo, o que deveríamos esperar?

Se bobos e cagões não fossem, muito mais poderiam ganhar os produtores de grãos usando tecnologias organominerais, reduzindo agroquímicos e tóxicos, reduzindo custos e beneficiando bolsos.


Mas essa é uma tarefa de pioneiros, como foram aqueles que nas décadas de 1960 e 1970 introduziram nutrição e proteção vegetais através de macro e micronutrientes essenciais. É inegável que a partir dessa “revolução verde” o Brasil, de óbvia vocação agrícola, formou o embrião da potência agropecuária que se tornou.

Temos aí cinco décadas, não? Seria possível que um planeta em constante transformação não revisse seus conceitos agrícolas?

A massificação nutricional com os agroquímicos principais, nitrogênio, fósforo e potássio, assim como mais tarde a complementação com outras necessidades de elementos nas plantas, não trouxesse excessos, que somente poderiam ser amenizados e completados com tecnologias orgânicas e minerais benfazejas da preservação do meio ambiente, principalmente solos e águas.

Centenas de empresas pequenas e médias estão remando contra essa maré para reverterem equívocos agronômicos institucionalizados por nossa preguiça em pensar e agir.

Assim como fez a pioneira Ana Maria Primavesi e, hoje em dia, seus seguidores. Como? O que seria necessário? Apoio de um governo menos imbecilizado.

Seu viés pretensamente pragmatista, mas burro, distraído e equivocado da produção para o mercado interno, vinda da agricultura familiar, que atende a mais de 210 milhões de seres humanos, é criminosa. Canalhas, portanto, como sempre achei que seriam.

Foram plantados quase 65 milhões de hectares para uma estimativa de 270 milhões de toneladas de produção de grãos. Perto de 90% são de soja e milho. Se livres de graves acidentes climáticos – creio que superados – serão colhidas, exportadas e deveriam servir a favorecer os preços dos alimentos.

Mas, então, o que significa a massiva presença de repórteres das folhas e telas cotidianas, à frente ou no interior de supermercados a reclamarem dos preços dos alimentos? Retorno, cômodo, a décadas ou, menos, anos passados?

Pergunto: a falta de bons analistas nas Redações?

Sim, tudo isso e mais.

Vivemos em grave pandemia, certo? Com interferências pelo agro nunca reconhecidas.

Aos exportadores de commodities (grãos) compete, no mercado interno, repassarem os preços que obteriam com as exportações, câmbio e preços nas bolsas internacionais favoráveis. Por que não fariam isso? Vivemos em sistema capitalista, cada vez mais, sem controle do Estado. Ficamos à mercê de quem se apodera do Poder, público e privado.


A expressão dos valores dos demais alimentos é limitada, embora sejam essas as divulgadas, como mandatárias, em folhas e telas cotidianas.

Nos últimos oito meses, o que houve foi uma brutal interferência na demanda pela assimilação consciente de que não se tratava de uma “gripezinha”, como tentou nos convencer RIP, o Regente Insano Primeiro, no início deste ano.

Aliás, ontem, 10 de novembro, quando escrevo, eles estavam demais: pólvora, hiperinflação sem bases, Anvisa, declínio chinês. Cansa-me gargalhar. Prefiro, sorriso de escárnio.

Em minha consciência, o direito de viver dizendo: “Eu avisei”. Biden? Pouco mudará no comércio exterior. No meio ambiente, talvez.

A ver. Inté!

 

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