Lindalia Junqueira

CEO da Hacking.Rio, movimento social criado em 2018 que realiza maratonas de programação

Opinião

Bem-vindos ao novo mundo de hackers do bem!

Equidade de salários e de gênero, combate ao assédio, luta por ambientes inclusivos e diversos. Estamos vivendo verdadeiras revoluções

Iniciativa estimula jovens a se aproximarem do mundo da programação. Foto: Divulgação/Spotimagens
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Tecnologia na educação ou não, eis a questão! Ainda há dúvida sobre isso? Hoje a tecnologia virou de fato um meio de facilitação, maior alcance, escala global, diversificação de conteúdos e personalização de trilhas de aprendizagem, em que cada um pode escolher o que, como, onde e quando aprender. Não dá mais para continuar a ter o mesmo modelo de oratória das aulas presenciais. Professor virou facilitador, mentor, orientador e designer instrucional.

 

Lógico que ainda existem entraves como o acesso à internet, plataformas de baixo custo, aplicação de ferramentas de forma eficaz e mais ambientes de apoio para experimentações. Labs de criação e prototipagem, que permitam testar, errar, fazer, refazer e gerar soluções inovadoras que motivem a aprender cada vez mais. O ensino híbrido, presencial e digital integrados, veio para ficar. E o nosso desafio agora é inspirar que mais jovens queiram aprender a programar.

Afinal, quase tudo hoje funciona baseado em novas tecnologias e meios digitais. Foram abertas inúmeras oportunidades de novas vagas no mercado, novos perfis, e a busca de diversidade virou pauta prioritária em empresas e startups. No entanto, estamos em um cenário crítico no Brasil e no mundo, pois a demanda do mercado de TI (Tecnologia da Informação) é maior do que o número de profissionais qualificados.

Por exemplo, de acordo com um estudo da Girls Who Code, 74% das garotas do Ensino Fundamental se interessam pelas áreas de STEM (do inglês ciência, tecnologia, engenharia e matemática), mas, no Ensino Médio, apenas 0,4% delas planejam estudar Ciência da Computação. Outra pesquisa realizada no Brasil e divulgada pela ONU Mulheres diz que apenas 17% dos estudantes de programação são mulheres. A porcentagem se mantém no mercado de trabalho nacional, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios no ano passado.

A representatividade das mulheres em tecnologia ainda continua pequena. Dados da YouthSpark da Microsoft, mostraram que 18% dos graduados em ciência da computação são do gênero feminino e que somente 25% dos empregados em áreas técnicas de TI são mulheres. É um número bem menor quando comparamos com a quantidade de mulheres dentro das salas das universidades da década de 1970, onde a maioria era feminina.

E ainda tem mais um fator: uma pesquisa feita em Harvard mostrou que as mulheres só se aplicam a uma vaga em tecnologia quando cumprem 100% dos requisitos. Por outro lado, os homens conseguem vagas com apenas 60% do que é necessário. Esses dados só reforçam a ideia de autocobrança, já que uma vaga só pode ser conquistada se a candidata for “perfeita”.

Estamos vivendo verdadeiras revoluções quando falamos das relações de trabalho, da formação de novos profissionais, principalmente nas áreas de tecnologia: equidade de salários e de gênero, combate ao assédio, luta por ambientes inclusivos e diversos.

Esse foi o nosso propósito ao criarmos o 1° Hacking.Rio, em 2018: reunir participantes de diversos gêneros, etnias, origens, idades e inspirar a trabalhar em equipe, buscar novas direções, novos aprendizados, a perderem o medo de mexer com tecnologia e se conectarem com as necessidades do mercado. Não precisa ser gênio para programar. Todos podem ter uma mente digital. Ou como se diz no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) , “Computacional Thinking”.

O hackathon é uma maratona de equipes diversas, que em 42 horas seguidas são capazes de gerar um Mínimo Produto Viável – um MVP – funcional, baseado em algum desafio real do mercado. É incrível, e de fato acontece. Como um hackathon tem no máximo 100 participantes, reunimos 2.800 em 15 clusters setoriais em 2018 no Hacking.Rio e nos tornamos o maior hackathon da América Latina. Uma verdadeira revolução criativa educacional digital.

Vamos neste ano de 2021 para a 4ª edição do Hacking.Rio, de 15 a 17 de outubro em plataforma on-line, com desafios baseado nas 17 ODS, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável do milênio, criados pela Organização das Nações Unidas. Em parceria com diversos cursos gratuitos de formação como Le Wagon, Resilia, VainaWeb e Gama Academy, esperamos que mais pessoas participem e gerem impacto no mundo. Nada de síndrome de Zeca Pagodinho, com “deixa a vida me levar”. Cada um dos participantes faz sua história e constrói esse novo caminho. De fato busca transformar sua vida e o mundo, mais integrado, diverso, inclusivo e com respeito ao jeito e a velocidade de cada um.

A era da singularidade tecnológica já chegou. Prevista para acontecer a partir de 2025, essa hipótese está relacionada ao crescimento tecnológico acelerado da superinteligência artificial, gerando cada vez mais rapidamente indivíduos dotados de superinteligência, que vão ultrapassar a inteligência humana. Baseado na lei de Moore, segundo a qual a cada 18 meses a capacidade de processamento dos computadores dobra, enquanto os custos permanecem constantes, essas mudanças são irreversíveis na civilização humana.

Fazer uso da tecnologia na educação já é uma necessidade inadiável, reconhecida atualmente por todo profissional do ensino, que se viu diante de um cenário pandêmico, e teve que intensificar o uso de ferramentas e dispositivos móveis. No entanto, é preciso se dar conta que a forma com que esse recurso é empregado em aulas nem sempre é clara. Simplesmente usar ferramentas tecnológicas na escola, como fim em si mesmas, não é bem o objetivo. Também temos de atraí-los e motivá-los. Tem menos gente entrando nas universidades e muito menos ainda saindo delas.

Com a aplicação consciente da tecnologia na escola, é possível, por exemplo, também combater o cyberbullying e outras formas de preconceito, equilibrar o tempo que os estudantes dedicam aos jogos eletrônicos, aos estudos e à prática de atividades físicas. Além de orientar a pesquisa em fontes on e off-line confiáveis e aumentar o senso crítico dos alunos.

Bem-vindos ao novo mundo de hackers do bem!

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