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Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Barbárie nos campos

Enquanto, nas ruas, vimos manifestações pacíficas no último fim de semana, nos campos de futebol a violência continua

Barbárie nos campos
Barbárie nos campos
Polícia em cena. Fluminense vs. Lanús terminou mal – Imagem: Mauro Pimentel/AFP
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Mais uma vez, um jogo entre um time brasileiro e um argentino foi marcado por agressões antes, durante e depois do que deveria ser um espetáculo esportivo.

O episódio envolveu torcedores da partida Fluminense 1×1 Lanús, jogo da Sul-Americana ocorrido na terça-feira 23, no Maracanã.

O confronto começou no intervalo da partida e levou à entrada da polícia.

O tumulto fez com que o segundo tempo, que eliminou os brasileiros da competição, atrasasse por 22 minutos.

Só para deixar claro, em jogos recentes, tivemos “arranca-rabos” perto de hotéis no Leme e na Barra da Tijuca.

Agora, a violência volta a manchar o Maracanã, um estádio cuja imagem lendária não pode ser utilizada para essas deturpações.

Nesses momentos, a paralisação dos jogos é uma medida importante, e os próprios jogadores, talvez até os capitães das equipes, deveriam intervir e colaborar com essa ação.

A necessária intervenção dos jogadores nesses momentos de conflito entre torcedores já foi provada no passado.

Basta lembrar da relação amistosa entre Zico e o querido Roberto Dinamite, ídolos de torcidas com a maior rivalidade do futebol carioca.

Apesar das acirradas disputas entre Vasco e Flamengo, os dois sempre mantiveram uma convivência fraterna.

Uma atitude que serve de exemplo aconteceu na saída de um clássico recente.

Uma vendedora ambulante teve o tabuleiro de doces destruído, mas foi ajudada por torcedores dos dois times. Ela sabiamente proclamou: “Somos melhores que isso”.

É triste ver o esporte, que deveria ser uma ferramenta para a fraternidade entre as nações, se prestar a demonstrações de barbárie. O esporte deveria, ao contrário, ser um incentivo à solidariedade.

É com esse espírito que vimos, na mesma semana, a brilhante e objetiva participação da delegação brasileira na Assembleia-Geral da ONU, chefiada pelo presidente Lula, com apoio de nações parceiras. A primavera nos trouxe um alento.

Enquanto a bola rola, os cartolas procuram novas formas de motivar os torcedores. Os dirigentes da Conmebol apresentaram a proposta de aumentar o número de seleções para a Copa do Mundo de 2030, para comemorar o centenário da competição.

Aqui no Brasil, a superposição de jogos no calendário entupido foi imediatamente refutada pelo presidente da CBF, que estabeleceu e confirma, com veemência, que não abrirá mão das 11 datas para os campeonatos estaduais.

Uma notícia que agitou os últimos dias foi o pedido de demissão de Renato Gaúcho do cargo de técnico do Fluminense, que pegou todo mundo de surpresa e confirma a instabilidade de técnicos e de todo o futebol brasileiro.

O treinador, que até outro dia era incensado, pediu demissão por iniciativa própria, causando uma série de especulações.

Ele disse ter saído por influência das “redes sociais”, que infernizam a vida de todo mundo e, na opinião dele, estão acabando com o futebol. As próximas semanas vão mostrar as causas reais.

Surpresa também tem sido o aumento expressivo de gols de fora da área. Um desses foi o golaço de Vinícius Júnior, que vinha causando dúvidas no Real Madrid.

Vini Jr. mandou o chamado “três dedos” de longe e, com simplicidade, explicou a jogada genial, uma verdadeira obra-prima, ao declarar: “O Modrić me ensinou”. Ele homenageou o extraordinário craque croata que acaba de se despedir do time merengue.

Por fim, emoções à flor da pele com os representantes brasileiros que mais uma vez se destacaram no emocionante Campeonato Mundial de Natação Paralímpica. Eles têm mostrado a verdadeira força do esporte, a superação e a fraternidade de que tanto precisamos. •

Publicado na edição n° 1381 de CartaCapital, em 01 de outubro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Barbárie nos campos ‘

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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