Opinião

Rui Daher: Os bancos mentem

Será que banqueiros terão como garantia real a comida em vossas mesas sem o pequeno produtor?

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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É tiro e queda. Não tem um dia em que você abra as folhas e telas cotidianas e lá não estejam os donos de bancos privados ou presidentes de bancos públicos informando sobre os trilhões que já soltaram ou ainda irão soltar para empresas de pequeno e médio porte.

Mentem. Se soltaram, no centro da cédula estará a imagem de “Conceição”, aquela que ninguém sabe, ninguém viu. Se ainda irão soltar, não esperem que contribuam com (parte) do pagamento de seu caixão ou com o aluguel das escavadeiras de covas rasas.

Mentem. Quem nunca mentiu fomos nós, quando absorvíamos seus juros e taxas exorbitantes, para efeito de seus lucros. Antes fomos enganados por gerentes solícitos a nos oferecer café, água e depois seguros e consórcios, para atingirem suas metas. Pequenos esmoleres, aceitávamos. Ao primeiro sinal de crise, mandavam embora levas de bancários e recompunham seus desempenhos.

Para tanto, a profunda e crescente concentração em períodos que vem desde a ditadura militar, a superinflação e o neoliberalismo de FHC. Mentem para não confessarem o porquê de se concentrarem, para depois se fundirem, e nos fazerem de manada de gado sem rumo.

No jornal Valor Econômico do dia 14 de maioa manchete foi “Pequenas empresas ainda veem obstáculos no acesso de recursos”. Subtítulo: “Concessões para pessoa jurídica crescem, mas bancos aumentam exigências”. Histórico, desde as fusões e a eliminação da concorrência, alguma vez eles agiram diferente?

Reclamam associações de lojistas, indústrias de máquinas, peças e equipamentos, ANFIR, Abrasce e outros que, dos R$ 320 bilhões liberados segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), R$ 200 bilhões foram para grandes empresas, quase 2/3. Isso segundo a Febraban, porta-voz de sabemos quem.

E os pequenos e médios? Garantias reais. Imobilizados. No caso da agricultura, que não a de exportação, o quê? Muitas vezes terras arrendadas e, se não, o ganha-pão de milhões de pequenos produtores brasileiros. Tratores, pás, enxadas, cercas, escavadeiras manuais, bombas costais? Galinha, não, que estas se movem, ciscando e cacarejando.

Sem o pequeno produtor, será que vocês, banqueiros e seus executivos, terão como garantia real a comida em vossas mesas? Continuarão a espoliá-los?

Não posso ir lá, com o inferno do isolamento high-society, mas posso ligar. É o que faço para João Agripino dos Santos, lavrador de alcachofras e caquis. As primeiras, ele não irá plantar. Requerem tratamento caro e de qualidade para pegarem bom preço, lá por volta de outubro. Do caqui, João entregou a safra quase de graça, basta ver o preço dos frutos nas feiras-livres e supermercados. 

– Mas, João, por que não pediu financiamento no banco?
– Responderam que sou de alto risco.
– É, tá na moda. E agora?
– Vou ver se a muié eles consideram real e a mãe enterrada no cemitério de Piedade (SP) imobilizada.

Inté.

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