

Opinião
Bala na agulha
Com faturamento bilionário e capital 100% nacional, a EMS entra no mercado de canetas emagracedoras


Nesta semana, chegaram ao mercado as canetas emagrecedoras da EMS, as primeiras brasileiras lançadas para enfrentar marcas consolidadas, como Ozempic, Wegowy e Mounjaro. A brasileira Olire é destinada ao tratamento da obesidade e tem doses de até 3 mg/dia. A Lirux, para diabetes tipo 2, tem doses de até 1,8 mg/dia. Os produtos chegam no mercado com preços quase 25% inferiores aos dos concorrentes multinacionais.
A entrada da EMS no segmento deve criar um novo patamar de disputas. A farmacêutica é líder no mercado de genéricos, o que indica que tem capilaridade para distribuir os produtos nacionalmente e competência para atender as grandes redes e as farmácias independentes. A capacidade de distribuição e o preço formam o cenário ideal de competitividade.
Com faturamento divulgado de 7,9 bilhões de reais em 2023, a EMS tem bala na agulha para crescer mais. Sua unidade de Hortolândia recebeu investimentos na casa de 1 bilhão de reais, sendo a única do País especializada na produção de peptídeos. A capacidade de produção é de 20 milhões de unidades por ano, podendo dobrar conforme a demanda.
Além do mercado brasileiro, a EMS olha há tempos para o exterior. Já exporta para mais de 30 países e há 11 anos passou a integrar o Grupo NC, de capital 100% nacional, controlado pela família Sanches, fundadora do negócio. Fazem parte do Grupo NC empresas como Germed, Legrand, Nova Química e Brace Pharma, esta última operando nos EUA no segmento de produtos inovadores em biotecnologia.
Amigo urso
Diversificar é uma palavra pouco habitual no dicionário de negócios da Haribo. Fundada em 1920 na Alemanha, a empresa é líder global em balas de gelatina, com faturamento acima de 3 bilhões de dólares e presença em mais de 120 países. O intrigante na história da empresa é que ela é avessa a modismos, sendo fiel a uma estratégia de produto e negócios. Seu item mais icônico são os Goldbears, criados em 1922 e só batizados com esse nome na década de 1960.
A empresa desembarcou no Brasil em 2016, na cidade de Bauru, interior de São Paulo. Seu principal produto, também aqui, são as gomas aqui chamadas de Ursinhos de Ouro. O mercado de balas e confeitos no Brasil é superior a 2 bilhões de reais. O fato de ser fiel às suas origens conduz a empresa a um fato raro: entender o viés completo da operação e enfrentar a concorrência nesse campo. E, no Brasil, a concorrência tem nome e endereço: Fini. A empresa espanhola tem presença marcante em pontos de venda e uma marca reconhecida. A Fini está em mais de cem países e é uma concorrente de respeito. O fato é que por mais que se diga que os produtos com açúcar estão condenados, o apetite do consumidor diz o contrário.
Vendas sustentáveis
A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) divulgou resultados expressivos do desempenho do setor em julho. As vendas de veículos 1.0 cresceram 13,75% em relação a junho, e 1,18% na comparação com o mesmo mês do ano anterior. O que motivou o crescimento foi o início do programa Carro Sustentável do governo federal.
Os benefícios entraram em vigor em 10 de julho, mas bastaram 20 dias para notar os impactos. O Carro Sustentável zera o IPI para modelos compactos nacionais que emitam menos de 83g de CO₂ por quilômetro e tenham, no mínimo, 80% de materiais recicláveis. A expectativa é de que o mercado total de veículos cresça 5% no ano.
Embora o segmento de híbridos e elétricos ainda seja pequeno no Brasil, o crescimento impressiona: 47,2% no acumulado de 2025, quando comparado com o mesmo período do ano anterior. O resultado é fruto de uma política de preços extremamente competitivos dos chineses e do aumento significativo de pontos de venda desses carros. Não existem dados compilados, mas a estimativa é de que já existam em torno de 620 concessionárias e pontos de venda de marcas chinesas espalhados pelo País.
Vai esquentar
A Midea, gigante chinesa do mercado de eletrodomésticos, vai acelerar a disputa no mercado brasileiro. Embora presente no País desde 2011, atuando no segmento de aparelhos de ar-condicionado, ela levou um tempo para montar seu portfólio de produtos da linha branca. No ano passado, fez um investimento de 630 milhões de reais em uma unidade de produção em Pouso Alegre, no sul de Minas Gerais. A marca também investiu em marketing, com uma campanha publicitária com o apresentador Tadeu Schmidt. Empresas tradicionais, como a Electrolux, afirmaram que o cenário macroeconômico pode dificultar a vida do setor. E a concorrência chinesa é mais um ingrediente para isso. •
Publicado na edição n° 1374 de CartaCapital, em 13 de agosto de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Bala na agulha’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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