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Atuação da Cambridge Analytica anulou eleição no Quênia em 2017

Na continuação da série sobre o Quênia, Mônica Dallari traz a política do país agitada após Suprema Corte anular eleições por fake news

Atuação da Cambridge Analytica anulou eleição no Quênia em 2017
Atuação da Cambridge Analytica anulou eleição no Quênia em 2017
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A produção de fake news em larga escala e o estímulo a ações de segregação étnica promovidas pela candidatura vitoriosa a reeleição do presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, em 8 de agosto de 2017, levaram a Corte Suprema do país a anular o pleito eleitoral. Pela segunda eleição consecutiva, a Cambridge Analytica, empresa de comunicação estratégica envolvida em práticas criminosas para a manipulação de resultados eleitorais, foi responsável pela campanha de Kenyatta. Diante da acusação de “fraude maciça” no sistema eleitoral, com a utilização de informações “vazadas” do Facebook, a Justiça marcou nova eleição para outubro. Boicotada pelo oposicionista Raila Odinga, Kenyatta venceu com 98% dos votos. A disputa provocou 16 mortes.

Uhuru Kenyatta é reeleito presidente do Quênia

47 etnias

As tumultuadas eleições resgataram a lembrança dos violentos conflitos ocorridos 10 anos antes, em 2007, após Mwai Kibaki ser reeleito presidente do Quênia. Raila Odinga, já candidato da oposição, contestou os resultados e uma onde de violência tomou o país, com mais de mil mortes e 250 mil desabrigados. O Quênia é composto por 47 etnias e a convivência nem sempre é pacífica. Nas eleições de 2017, como os Kenyattas são kikuyu, o maior grupo étnico no país, com 22% da população, a Cambridge Analytica foi acusado de incitar a violência com discursos de ódio contra os luo, do adversário Raila Odinga, que representa 13% dos quenianos.

Quenianos esperam para votar

Estado não participa

O governo do Quênia não tem qualquer participação na experiência pioneira de distribuição de uma Renda Básica Universal e Incondicional, no valor de US$ 22 mensais, a todos os adultos de 44 vilas rurais extremamente pobres do país, durante 12 anos. O objetivo da ONG GiveDirectly, criada com o apoio de instituições do Vale do Silício (EUA), responsável por arrecadar US$ 30 milhões para o projeto, é colocar os recursos diretamente na mão dos beneficiários, sem intermediários. Os repasses são feitos por celular, via SMS. The international community has already recognized IFFs as a major impediment to development, incorporating reduction of IFFs into the Financing for Development Conference’s  and the United Nations’ .O Quênia é apontado como um dos países mais corruptos do mundo.

Escritório da GiveDirectly, em Nairobi

Sem água encanada

Os conflitos étnicos no Quênia têm origem na colonização britânica e se acirraram com a disputa de terras após a independência, em 1963. O resultado é a extrema pobreza no país. Cerca de 37% da população não têm acesso à água potável. Os irmãos Nilton, de 12 anos, e Elvis, de seis anos, carregam baldes o dia todo. As casas nas vilas não possuem água encanada. Cada vez que saem para buscar água, Nilton leva dois baldes de 10 litros e Elvis dois de 5 litros. Um reservatório, distante 500 metros, ao lado do Lago Victoria, serve os moradores. Quando chove, quem pode aproveita a água da chuva.

Irmãos Nilton e Elvis carregam baldes pesados de água

Saúde precária

Jane A. tem 76 anos, é viúva e mora com a irmã. Com a Renda Básica, construiu uma latrina fora de casa. A falta de saneamento provoca problemas graves de saúde. Levantamento da ONU calcula que 2,3 bilhões de pessoas no mundo não tem acesso a um banheiro limpo e saudável. Segundo a organização “Médicos Sem Fronteiras”, dos 216 milhões de casos de malária em 2016, 90% ocorreram na África Subsaariana. A malária, comum em áreas pobres e desfavorecidas, é a principal causa mortis no Quênia, seguida pela tuberculose, consequência do vírus HIV, que atinge 5% da população. A violência contra a mulher facilita a disseminação do HIV.

Jane A. sofre com a falta de saneamento

Renda Básica estimula o trabalho

Num cenário tão difícil de pobreza extrema, a distribuição de uma renda básica de uso incondicional trouxe esperança para Richard O., 43 anos, casado, pai de 9 filhos. O casal e o filho mais velho, com 18 anos, recebem há 27 meses a renda básica de US$ 22. Richard pagou as taxas escolares dos filhos e comprou cabras por US$ 150 cada.

Negociante de animais, recentemente adquiriu uma vaca por US$ 250. Agora quer comprar um touro por US$ 300. Richard diz que a renda básica o incentivou a trabalhar mais. “Quando há oportunidade, as ambições crescem”, explica. O benefício criou a possibilidade das pessoas sonharem com uma vida melhor. Richard está sonhando.

Richard O. se sente estimulado

Renda Básica estimula o trabalho

Num cenário tão difícil de pobreza extrema, a distribuição de uma renda básica de uso incondicional trouxe esperança para Richard O., 43 anos, casado, pai de 9 filhos. O casal e o filho mais velho, com 18 anos, recebem há 27 meses a renda básica de US$ 22. Richard pagou as taxas escolares dos filhos e comprou cabras por US$ 150 cada.

Negociante de animais, recentemente adquiriu uma vaca por US$ 250. Agora quer comprar um touro por US$ 300. Richard diz que a renda básica o incentivou a trabalhar mais. “Quando há oportunidade, as ambições crescem”, explica. O benefício criou a possibilidade das pessoas sonharem com uma vida melhor. Richard está sonhando.

Aggrey O. sonha com o filho Félix na faculdade

No próximo artigo, vou contar como funciona a poligamia no Quênia e a revolução silenciosa que ocorre entre as mulheres beneficiárias do programa da Renda Básica Universal.

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