Opinião

As manifestações crescem no Brasil e não diminuem nos países vizinhos

‘O triunfo do bem no Chile martirizado pela extrema-direita, há décadas, não poderia ser mais espetacular’, escreve Milton Rondó

Protesto contra o presidente Jair Bolsonaro em Brasília, em 3 de julho de 2021. Foto: Sergio Lima/AFP
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“Se temer tristezas e infortúnios, com isso já será infeliz. Aqueles que temem os infortúnios geralmente os merecem” – Provérbio chinês

O ladrão de vacina disse, na semana passada, que só passará a faixa presidencial para um presidente eleito sem fraude. O genocida de fraude eleitoral entende, porque já a praticou. Aliás, a própria carreira política dele nada mais é do que imensa fraude.

O objetivo da pletora é, conspicuamente, gerar medo, de tal forma que a corrida eleitoral pareça ainda mais difícil aos olhos da sociedade, desestimulando a luta pelo retorno à democracia.

Não obstante, o mal pode muito, mas não pode tudo e, por sua natureza, estribado na mentira, no engodo, na manipulação, não é sustentável.

Não nos deixemos enganar, portanto.

De fato, o autoritarismo, interno ou externo – na forma de imperialismo, não se sustenta no tempo e no espaço.

Uma noticia que no Brasil (não por acaso) passou praticamente despercebida: os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) anunciaram, na semana passada, a retirada total de suas tropas do Afeganistão.

Não se trata de movimento menor, ao contrário.

As forças imperiais haviam invadido o país em dezembro de 2001, lá permanecendo por 20 anos, supostamente em reação às explosões das Torres Gêmeas, como parte da “guerra ao terror”, desencadeada por George Bush, após os atentados de 11 de setembro de 2001.

Vale recordar que naqueles atos terroristas em Nova York morreram em torno de 3 mil pessoas. No Brasil de 20/21, sob o genocida, mais de 400 mil pessoas morreram pela corrupção de um desgoverno que não adquiriu as vacinas que lhe foram oferecidas inúmeras vezes, preterindo-as em benefício de imunizante não aprovado, mas que lhe garantiria gorda propina, ao custo de vidas, amores, afetos e histórias.

Entretanto, como somos – atualmente – o quintal do império, as negociatas seguem normalmente por aqui, inclusive sob a forma diplomática, como demonstra a recente visita do diretor da CIA, cujas motivações podemos imaginar; agem, hipocritamente, como se não estivessem em tratativas com um genocida da “estatura” de um Hitler ou Mussolini.

A visita do gerente das políticas imperiais ao Brasil, o referido diretor da CIA, não está divorciada do antes mencionado movimento de recuo do império no Oriente Médio e no Afeganistão. O velho império, decadente, conhece seu atraso com relação à tecnologia civil, da China, e militar, da Rússia.

Pior para a América Latina, que o império considera seu quintal, tanto que se autodenomina “América”, tomando a parte pelo todo, numa metonímia simbólica que não poderia deixar mais claras intenções.

Lembrei-me, a propósito, de artigo da CartaCapital, sobre Ambrose Bierce e seu Dicionário do Diabo (Editora Carambaia), em que define política como: “luta de interesses disfarçada de disputas e princípios; a condução dos negócios públicos para obter vantagens pessoais.”

Perfeita definição para a familícia e o império amoral.

Com efeito, acuado em outras regiões, o imperialismo tenderá a se voltar com maior violência para as áreas mais imediatamente sob sua órbita geopolítica, como o Caribe, a América Central e a América do Sul. Desafortunadamente, o diamante dessa coroa continua sendo o Brasil, por sua riqueza humana e ambiental, incluídos os recursos tecnológicos e minerais; e até sua diplomacia.

A manutenção da política externa agressiva e de “mudança de regime” (terminologia asséptica para os velhos golpes de Estado sob a égide do império), por parte do império, insere-se nessa dinâmica.

No entanto, tudo se dá por trás de cortina de fumaça – inclusive utilizando questões de gênero – como vimos recentemente no caso do louvável outing do governador do Rio Grande do Sul. Para escancara-lá e deixar entrar luz e ar fresco, podemos recorrer a Paulo Freire, neste ano centenário, o qual aclara: “Os opressores, falsamente generosos, têm necessidade da permanência da injustiça para que sua ‘generosidade’ continue tendo oportunidade de realizar-se.”

Porém, a despeito dos imperialistas, das aliadas oligarquias locais e seus desejos ocultos de dominação, a Pátria Grande vai-se construindo.

As manifestações populares crescem no País e, nos países vizinhos irmãos, não diminuem, ao contrário. No Chile, a assembleia constituinte instala-se, sob a presidência de uma mulher, indígena mapuche. O triunfo do bem, no país martirizado pela extrema-direita, há décadas, não poderia ser mais espetacular.

A constituição de Pinochet deverá ser revogada por uma carta magna que consagrará a diversidade em seu próprio processo de redação. Fins e meios em perfeita sintonia. Democracia, efetivamente, é processo, participativo.

Lembrando o grande sociólogo Florestan Fernandes, em Pensando com Florestan Fernandes, edição da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF): “…Oitenta e nove anos de ‘regime republicano’ já nos ensinaram o bastante. Não serão as classes possuidoras, especialmente os seus setores privilegiados nacionais e estrangeiros, que irão favorecer e levar a cabo a revolução democrática…Hoje, mais do que no passado, a civilização de consumo de massas constitui um ópio do Povo.”

Sobre o medo, Florestan, um dos pais da sociologia brasileira, nos ensina, em O Legado de Florestan Fernandes, de Eliane Veras Soares, na citada edição da ENFF: “A grandeza de um homem se define por sua imaginação.”

Sobrepujemos a imaginação negativa daquele que “inventou a tristeza”, nas palavras do genial Chico Buarque, com a imaginação metafórica dos rebeldes de 1968, para os quais, sob os paralelepípedos, estava o mar.

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