Opinião
As forças progressistas despertam. Eis o primeiro passo
O PT parece ter ressuscitado da tumba em que o império e os capitães do mato local tentaram confinar o partido da estrela
“Se alguém quer tornar seus sonhos realidade, precisa primeiro acordar.”
Corina Crawford
A semana passada foi plena de emoções. A que se inicia, não indica diminuição.
Em Porto Alegre, reuniram-se – pela primeira vez – as direções do PT, do PCdoB e do PSOL: discutiram a formação de uma possível frente para as eleições municipais do corrente ano de 2020.
A segunda novidade é que a reunião resultou de movimento espontâneo da sociedade civil, que busca favorecer a apresentação de candidatura única das forças progressistas à prefeitura.
A concretização do encontro representa um belo presente para o PT, na comemoração de 40 anos do Partido dos Trabalhadores.
Vale recordar que a prefeitura de Porto Alegre foi uma das primeiras a serem conquistadas pelo partido, que a governou por 16 anos, inaugurando experiências seminais como o orçamento participativo, o OP. Daqui, o espraiou-se a uma infinidade de países e comunidades, inclusive grandes potências como os EUA, a Rússia e a China.
O PT, portanto, volta a enraizar-se; renova-se, dessa forma.
Em sincronicidade, o presidente emérito do partido e símbolo maior da agremiação, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deverá ser recebido (no não menos simbólico dia 13) pelo Papa Francisco, sem dúvida, o maior estadista desta quadra.
Para quem foi apeado do poder por um golpe de estado, nada mal, PT.
“Reconheço sério que o mau foi sagaz/ como um bom cemitério tudo está em paz.” Disse o Emicida no ano passado.
O PT parece ter ressuscitado da tumba em que o império e os capitães do mato local tentaram confinar o partido da estrela.
Em contraposição, o campo da necropolítica só continua produzindo cadáveres – nada simbólicos.
O assassinato de Adriano da Nóbrega, ex-PM e chefe das milícias de Rio das Pedras no Rio de Janeiro, ontem, na Bahia, cujas mãe e esposa trabalhavam no gabinete de Flávio Bolsonaro, deixa cada vez mais exposta a ligação umbilical entre o presidente ilegítimo e a delinquência, não apenas no Rio de Janeiro, mas em todo o país e no exterior – em que atenta diuturnamente contra a legalidade, apoiando golpistas na Venezuela e na Bolívia, entre outros países.
Com efeito, no campo externo, as violações do artigo quarto da Constituição, que veda a ingerência em assuntos internos de outros países, são constantes por parte do ocupante ilegítimo do Planalto, beirando o grotesco, como no episódio da semana passada, em que vestiu o boné da campanha de Trump – patrão dele – à reeleição.
O exército nacional, por sua vez, ao qual Bolsonaro agradeceu sua “eleição”, após permitir a entrega do pré-sal e da Embraer aos EUA, entre outras lesões, resolveu eleger como inimigo – no “documento” Cenários de Defesa 2040 – a França.
A resposta da potência nuclear foi a lembrança, oportuna, de que a imaginação não encontra limites.
Os bravos senhores certamente não levaram em conta a previsível repercussão negativa sobre o projeto franco-brasileiro de construção do submarino nuclear, único apto a proteger a costa nacional, que – a bem da verdade – sem o pré-sal já não irá requerer muita proteção.
Pior, como resultado da depressão socioeconômica em que mergulharam o país, são cada vez mais numerosos os brasileiros imigrantes na França, a cuja segurança, destarte, atentaram.
Em suma, haverá formas mais honestas de se ganhar a vida – e até de manter privilégios.
Dê um desconto, leitor/leitora, tudo pode não passar de inveja de um “parasita”, como nos definiu na semana passada o sinistro tchutchuco da Economia, ele, sim, grande trabalhador em prol dos interesses do império (inclusive acabando com a moeda nacional, dolarizando a economia, por meio da autorização para a abertura de contas em dólar) e dos banqueiros, entre outros (já a mana, dedica-se a ganhar dinheiro, explorando um direito, a educação).
Parasitas de todo o mundo, uni-vos!
Os da Coreia do Sul acabam de ganhar prêmios na noite do Oscar; mais do que justo: “Parasita” é um filme imperdível.
Voltando ao ponto de partida, ao Porto que já foi Alegre – e em sincronicidade com o tema da entrega da cultura cinematográfica – o provinciano prefeito local, seguindo a trilha dos não menos provincianos governador e presidente, busca privatizar a belíssima cinemateca Capitólio.
Trata-se de edifício histórico recuperado com recursos da Petrobras, graças à ex-presidenta Dilma Rousseff, sempre com programação de alta qualidade.
À incapacidade gestora, o governo municipal contrapõe a possibilidade única da privatização, receita de que o PSDB parece não cansar jamais , ao mesmo tempo que se apresenta como um partido de “gestores”. Seria para rir, se não fosse de chorar.
A essa escassa imaginação, porém, a sociedade civil propôs um “carnacapitólio” no sábado último, que nos permitiu dançar, cantar, abraçar o imóvel e pararmos ao som da “buzina privatizadora” (criação do não menos local e importante “Bloco da Laje”), a qual tudo congela, imobiliza, refreia e refeia.
Encerro, parafraseando André Malraux e Gramsci – desculpe “Cenários de Defesa”: o século XXI será da sociedade civil ou não será.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.