Economia

As agências de risco e a festa dos mercados

Diante das forças mercadistas e midiáticas, não são poucos os méritos do governo brasileiro e de seu Ministro da Fazenda, Fernando Haddad

Fernando Haddad e Lula. Foto: Nelson Almeida/AFP
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Os mercados brasileiros celebraram a avaliação da Standard & Poors. A agência de classificação de riscos americana reconheceu o bom  desempenho da economia brasileira, tanto diante das possibilidades de bons resultados fiscais, quanto das perspectivas de crescimento.

Logo cedo, me deparei com dois excelentes artigos a respeito das celebrações dos mercados com o bom humor da S&P. Os artigos foram escritos com pertinência e devida ironia por Reinaldo Azevedo no UOL Luís Nassif no GGN.

Diante dessa pertinências recheadas de bom humor, recolho-me a modestas considerações que já derramei nestas páginas a respeito das agências de classificação de risco. 

Hoje em dia, a palavra de ordem é fazer genuflexão diante dos poderes da finança. A conversinha da “confiança” oculta a usurpação das decisões e das informações que afetam a vida dos cidadãos pelo “cérebro” da finança. Poderosos na formação de consensos e na captura dos corações e mentes mediante patranhas midiáticas, a tropa da finança abusou da prepotência quando incumbida de definir os critérios de avaliação do risco no festival de falcatruas que levou ao colapso de 2008.

No pelotão de frente formavam as ditas agências de classificação de risco. Com a cumplicidade da Securities Exchange Comission, lograram se instituir em tribunais da qualidade das securities e de seus emissores, além de dar notas à gestão econômica e financeira dos Estados Nacionais.

No frigir da crise, afundaram suas reputações nas areias movediças da falta de ética e no conflito de interesses. Depois da derrocada do Lehman Brothers, agraciado com “A” uma semana antes de ruir fragorosamente, a Moody’s rebaixou para “lixo” 73% das securities avaliadas em 2006 como AAA. As trapalhadas e malfeitorias estão registradas no relatório do Congresso americano sobre a crise de 2008 e nas transcrições dos debates que levaram à promulgação da Lei Dodd-Frank.

No Olimpo da finança, homens que não sabem o que fazem ganham o que não merecem. São perdoados em nome da meritocracia (argh!) e da “criatividade destruidora”. Não espanta que os fâmulos da metafísica dos mercados eficientes, guiados pela sabedoria da racionalidade do Homo economicus, se entreguem à farsa pseudocientífica dos modelos engalanados por matemática de segunda classe. Com tais expedientes ridículos e abstrações idiossincráticas, ocultam a natureza das transformações na geoeconomia e perseguem a desqualificação mesquinha dos critérios da ação política racional e democrática.

Na atual configuração atual do poder global, a esfera pública está acuada nos gigantescos monopólios de comunicação, submissos aos poderes da mão invisível da finança e incumbidos de manter sob estrita vigilância os governantes que, porventura, ousem desafiar os diktats facinorosos das agências de risco. Em sua brutalidade anônima, os mercados da riqueza escoltados pelos estelionatários das agências de risco impõem aos países e a seus cidadãos os ucasses da ignorância soberana.

Diante dessas forças mercadistas e midiáticas, não são poucos os méritos do governo brasileiro e de seu Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Não é fácil conduzir a embarcação povoada de respeito às regras republicanas e democráticas nas aguas encapeladas da finança contemporânea. Um proeza. 

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