Opinião

Apesar de esforço da diplomacia, militares é que aparecem em imagens da repatriação de brasileiros

A quem interessa que os militares detenham os meios logísticos que caberiam à defesa civil?

Brasileiros e familiares resgatados na Cisjordânia chegam a Brasília em voo da Força Aérea Brasileira. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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“Aceite com humildade, desapegue com facilidade” – Marco Aurélio

Nada substitui refletirmos com nossa própria cabeça.

Está claro que o Brasil saiu do inferno da extrema-direita direita, há apenas um ano.

Também é evidente que ainda falta muito para chegarmos ao céu.

Quando olhamos para Israel, governado pela extrema-direita, podemos aferir o quando evoluímos como país, depois da saída dos genocidas do governo.

Porém, os falsos mitos que aqui prevaleciam, lá ainda se fazem acreditar.

O primeiro deles: que o serviço secreto israelense, o Mossad, é um dos melhores do mundo.

Tão falso quanto os certificados de vacina do Messias local “fake” e que a Abin serviria para alguma coisa.

O tal serviço secreto sionista sequer foi capaz de detectar um ataque tão amplo quanto o desfechado pelo Hamas, sendo que controlava todos os meios de informação; os recursos; as entradas e saídas de Gaza, por terra, mar e ar.

Ou seja, o tal Mossad é só mais um mito, falso.

Idem para o exército israelense. Basicamente, atinge civis, principalmente crianças.

De fato, dos 10 mil mortos em Gaza, pela sanha assassina de Israel, mais da metade, 5 mil, são crianças…

Que tipo de exército é esse? De guerreiros? Não, de covardes, que só matam inocentes indefesos: crianças, mulheres, idosos, hospitalizados etc.

Outro mito que a realidade desmascara, da forma mais triste possível.

E o mito de que os Estados Unidos da América são os mais potentes do Globo?

Se fossem tão poderosos, não teriam conseguido frear sua colônia virtual, Israel?

Mostrar que Israel não passa de colônia estadunidense é fácil: basta ver a recente votação na ONU, condenando o embargo ilegal e ilegítimo dos EUA contra Cuba.

Todos os países votaram a favor da condenação, com exceção dos EUA e Israel. A Ucrânia, outra virtual colônia, se absteve.

E a eficiência econômica de Israel?

Outro mito.

Para cometer o atual genocídio contra os palestinos o Estado sionista recorreu, mais uma vez, a doação estadunidense, aprovada no Congresso, na semana passada, o qual, porém, negou financiamento à Ucrânia, que continuará colocando mortos no conflito, defendendo única e exclusivamente os interesses… dos EUA.

E o Brasil?

Bem, o país fez um esforço excepcional no sentido de repatriar seus cidadãos.

Ou seja, a diplomacia fez grande esforço de coordenação, mas as imagens são da FAB e de militares auxiliando os repatriados.

Tudo com direito a entrevista coletiva do ministro da Defesa…

Bastante conveniente depois dos escândalos de corrupção e tentativa de golpe de Estado perpetrados por altos comandantes das ditas forças, não?

A quem interessa que os militares detenham os meios logísticos que caberiam à defesa civil? Não é nesses momentos que limpam sua imagem junto à população?

A diplomacia brasileira funcionou muito bem na região conflagrada, mas a cúpula do MRE tem alguma carta de navegação?

Não parece.

Um dos mediadores internacionais mais procurados, o Papa Francisco, recebeu ligações dos presidentes dos EUA, da Autoridade Palestina, da Turquia e do Irã. Do maior país católico do mundo e atual presidente do Conselho de Segurança da ONU, sequer um zap-zap. Estranho, no mínimo…

Pior, a outrora cosmopolita e atualmente provinciana Conferência Nacional dos Bispos do Brasil parece inexistente, de tão silente.

Mais intrigante: o atual presidente é arcebispo de Porto Alegre, provavelmente a capital brasileira com duas das maiores populações de origem judia e palestina.

A cidade já contou, no passado, com lei específica para a promoção do diálogo inter-religioso.

A direita revogou-a e a esquerda tampouco lutou para restabelecê-la.

Assim, vamos navegando num mar de sangue (esse à grande imprensa não causa repulsa, o de lama é que lhe gera histeria).

Um país que auto-relegue à desimportância diplomática parece ser o plano.

Vale notar que “voltar” encerra mais de um sentido.

Destarte, “O Brasil voltou” quer dizer que voltamos a ser soberanos, depois de seis anos como colônia, sem política externa.

Mas também quer dizer que retornamos a práticas do passado, como nomear amigos para embaixadas que requereriam mais do que laços de amizade.

Em meio ao caos da guerra e da mediocridade, vale recordar que no País viveu e trabalhou um dos maiores intelectuais judeus: Stepan Zweig.

Em O Candelabro Enterrado (editora Acantilado), Zweig usa o saque de Roma pelos bárbaros, em 455, como metáfora da ascensão do nazifascismo e a destruição que invariavelmente traz a extrema-direita às sociedades em que vinga: “… se dispôs sem demora a traçar seu plano para expoliar do modo mais rápido, e mais escrupuloso, os tesouros da cidade… se iniciou o saqueio frio e sistemático, expeditivo e, ao mesmo tempo, silencioso. Tranquila e habilmente, da mesma forma que um açougueiro esquarteja um animal morto… a cidade foi destripada viva e seu corpo, apenas ainda palpitante, despedaçado pedaço a pedaço”.

Por fim, vemos um assessor diplomático do presidente dizer que não sabe por que os brasileiros ainda não foram autorizados a deixar Gaza; um contraste com outro brilhante judeu, Sigmund Freud, que, antecedido por Aristóteles e Shakespeare, tivera muito claro que nada pode vir do nada…

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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