Opinião

Ando devagar porque já tive pressa

Minhas raízes agrícolas são hábitos e costumes que mantenho até hoje e me são de muita serventia, no ganha-pão

Foto: Jaelson Lucas/AEN
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Não que este escrevinhador não tenha assuntos para abordar, mas serão sempre repetidos, dimensões diferentes, ondas rasinhas ou mais fortes que chegam à beira-mar. Mais volumosas nas áreas de saúde, política e economia. Levezinhas, onde crianças podem, sossegadamente, construir seus castelos de areia, sem medo de que sejam derrubados, na agropecuária nacional.

Claro, um entrave aqui, outro ali, mas ainda não muito diferente do que ocorre há décadas em atividade, que depende de tantas variáveis nem sempre sob controle de caboclos, caipiras, campesinos, capiaus, ruralistas, sertanejos e tabaréus. E mesmo que o colunista se concentre nela, dificilmente, não haverá intercorrências da pandêmica doença ou do pândego governo atual.

Fica então difícil. Já os informei. Não sou técnico agrícola ou agrônomo. Como consultor, uso as ferramentas de gestão que aprendi na longínqua FGV e a experiência de 45 anos, trabalhando em empresas agrícolas.

 

Sempre em pegada macroeconômica, de tendências políticas e sociais, as últimas referências das aulas FFLCH, da USP, Maria Antônia e Barracões, que me fizeram entender o magistral professor Antônio Cândido (RJ, 1918-SP, 2017), no seminal livro “Parceiros do Rio Bonito” (1ª edição, José Olympio, 1964).

Dele, a nascente de suas estadias na Fazenda Bela Aliança, município de Bofete, estado de São Paulo, o sociólogo fez-me entender o agricultor pobre, posse de pequenas propriedades, e a eles procurá-los, ouvi-los e aprender a falar. São, de fato, minhas raízes agrícolas. Hábitos e costumes que mantenho até hoje e me são de muita serventia, no ganha-pão. 

Assim, nesses 45 anos de lida, não era de meu melhor gosto quando empregos e patrões me exigiam apegos de negócios junto a grandes produtores de grãos, usineiros, indústrias de sucos de laranja que, em contratos leoninos, exploravam os citricultores. Quando grandes, alguma simpatia tinha pelos cafeicultores. Talvez, fossem a beleza e a perenidade da cultura, que os fizessem mais cultos e amigáveis.

Diabético, durante os mesmos 45 anos de trabalho, apenas pedia-lhes que não pusessem tanto açúcar no café. Principalmente, quando em Minas Gerais. Pela localização das grandes indústrias de fertilizantes químicos e minerais, para quem trabalhei, por 35 anos, sempre tais incursões eram mais frequentes nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. São elas as de melhores solos, mas também de maior uso de químicos e agrotóxicos.

“Chiquenoúrtimo, prioritariamente, minhas viagens eram aéreas, em jatinho da empresa, o que inibia muitos dos prazerosos causos em encontros informais. Isso, até 10 anos atrás, quando o neoliberalismo fez essa cadeia se quebrar, eu quase fui parar na própria [cadeia], e pouca pompa me restou contar.

Foi bom. Fiquei mais pobre, simples, recuperei o sonho da escrita e da ideologia de fabricar e vender produtos em defesa da agroecologia e da biodiversidade. Saí da zona de conforto da “grande agricultura”, e há 10 anos me dedico a conhecer melhor o semiárido nordestino, uma novidade para este mais do que septuagenário paulistano.

Quando viajo, posso ouvir causos agrários em churrascarias de beira-de-estrada, visitar botecos onde rolam acepipes regionais e boas cachaças, visitar sítios e fazendas, subir e descer de carros e me enfronhar entre as lavouras, embora as pernas não me permitam a mesma agilidade de outrora. 

Não que eu tenha sido infeliz antes. Fiz dinheiro, perdi e, por que não, há 20 anos trabalho para sobreviver. Muitas traições e decepções no caminho? Sim. Esqueço-as. As recompensas de hoje me dão alegrias suficientes. Inté e saúde!

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