Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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Agora ou nunca

A mudança na presidência da CBF já aconteceu. No momento, torcemos para que ela traga, definitivamente, as necessárias e inadiáveis transformações no nosso futebol

Agora ou nunca
Agora ou nunca
Créditos: Staff Images / CBF
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A reunião de treinadores na Con­federação Brasileira de Futebol (CBF) e as reações do ­Neymar continuam chamando muito a atenção dos torcedores, mesmo com o Campeonato Brasileiro chegando à reta final e o gargalo apertando nas disputas que encerram a temporada.

É difícil acompanhar tudo numa boa, quando até as conversas sérias da COP30 são atropeladas por um tufão. Mas essas confusões todas são, na verdade, o momento certo para as mudanças que não podem mais esperar.

No nosso futebol, a explosão de debates em torno da CBF, e das várias trocas na direção da entidade por causa de irregularidades graves, mostra que estamos chegando a um nível insustentável.

Foi muito boa a participação do Leo­nardo no programa da ESPN. Ele, que agora é dirigente e vive no exterior, destrinchou a situação do nosso futebol a partir de sua experiência com dirigentes daqui e de outros países.

Leonardo deixou claro que a gente pisou na bola por muitos anos e deixou de lado a formação de técnicos, árbitros e até mesmo de dirigentes mais profissionais. O futebol evoluiu muito rápido no mundo, e a gente ficou para trás.

É bom lembrar que o vexame do 7 a 1, na partida contra a Alemanha, na Copa do Mundo de 2014, já tinha deixado isso escancarado. Mas, de lá para cá, quase nada mudou. O que vimos foi só a troca de quem estava no comando, um simples revezamento.

Essa situação é parecida com a outra derrota feia que tivemos, a de 1950, em casa. A gente ficou parado, deu mais um mole na Copa de 1954, para só então arregaçar as mangas e fazer as mudanças que nos levaram à primeira conquista, em 1958, na Suécia.

Naquela época, rolou a entrada de João Havelange, um “homem de negócios” esperto, que trouxe para comandar o futebol o também empresário Paulo Machado de Carvalho.

Esse novo dirigente reformou completamente a Seleção, montando uma comissão técnica de ponta, com métodos modernos de trabalho, supervisão administrativa, preparador físico, dentista e até apoio da psicologia – algo, àquela altura, inimaginável.

A gente sabe que tem relativamente pouco tempo até o próximo Mundial, mas isso também acontecia nas outras vezes que citei.

A mudança na presidência da CBF já rolou. Agora a gente torce para que ela traga, de verdade, as transformações urgentes que o futebol de hoje precisa.

A outra ponta das discussões é sobre o nosso craque, o jogador mais falado desta geração, envolvido em debates que parecem até briga ideológica nos dias de hoje.

O Neymar e aqueles que estão ao redor dele certamente traçaram planos para o que pode ser a última Copa do Mundo do atleta: recuperar-se clinicamente e fisicamente, e ganhar o tal do “ritmo de jogo”.

Claro, as críticas ao jogador são justas, por causa do histórico de suas reações e do rumo que a carreira dele tomou, misturando o atleta e o superstar. Ele tem 33 anos, é novo, mas está chegando na maturidade.

Tem a motivação de acertar o rumo neste momento de “turbilhão” e, ainda por cima, está jogando no time do Pelé, que, na década de 1970, mostrou como dar a volta por cima na preparação. São épocas diferentes, mas é totalmente possível repetir o feito.

Se Neymar quer mesmo marcar a carreira com glória, precisa de um apoio psicológico sólido. É difícil com tanto envolvimento na vida pessoal, mas é a hora de optar e sair do olho do furacão para ter paz e serenidade. No fim, tudo depende dele.

Enquanto a bola rola, a nova direção da CBF já está anunciando algumas mudanças, como a formação de um grupo de estudos com 20 representantes da Série A e 20 da Série B para, entre coisas, buscar uma “revolução” na formação da arbitragem e a introdução do fair-play financeiro.

A ladainha de sempre do calendário acabou de explodir de novo com as convocações para as “Datas Fifa” e a marcação de jogos decisivos ao mesmo tempo para clubes que disputam títulos, acesso, ou que estão brigando para não cair. Por fim, sem dúvida nenhuma, é fundamental discutir a responsabilidade do Estado nas atividades esportivas como um todo, pela importância que o esporte tem para a sociedade. •

Publicado na edição n° 1388 de CartaCapital, em 19 de novembro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Agora ou nunca’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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