

Opinião
Agenda Verde
Na COP–29, o Brasil tem muitos avanços para apresentar, como a regulamentação do mercado de carbono e o Marco Legal dos Bioinsumos


O Brasil tem à sua frente um mosaico de oportunidades para demonstrar ao mundo, mais uma vez, que é possível abraçar a sustentabilidade ambiental como método, praticada no dia a dia, não apenas como um objetivo difuso para um futuro distante, colocando em risco as próximas gerações. Não se trata aqui de coisa miúda, mas de grandes medidas estruturantes. Mercado de carbono, hidrogênio de baixo carbono, economia circular e bioinsumos destacam-se no amplo leque de ações capazes de reverter a atual crise climática e devolver ao planeta um meio ambiente menos poluído e mais saudável.
A poucos dias da COP–29, a delegação brasileira tem a chance de levar na bagagem ao Azerbaijão boas-novas: a aprovação das leis que regulam as iniciativas mencionadas no parágrafo anterior. Investimentos pesados na produção de hidrogênio de baixo carbono, apontado como o combustível do futuro, e em outras fontes de energia limpa, como a eólica e a solar, também são novidades. O encontro é o último antes da edição da conferência do clima no Brasil, em Belém, que acontecerá no próximo ano. Semana que vem, outro encontro internacional terá o meio ambiente como pauta principal e será realizado em Brasília: é o P-20, encontro dos Parlamentos do G-20.
Por aqui, estamos fazendo o nosso dever de casa. O projeto que regulamenta o mercado de carbono está próximo de ser aprovado no Congresso. Ele definirá limites para a emissão de gases poluentes por empresas e detalha as regras de comercialização de créditos de carbono. Com isso, quem poluir acima do limite poderá compensar a infração comprando créditos gerados por quem polui pouco ou promova ações de preservação.
Da mesma forma, o texto que estabelece o Marco Legal dos Bioinsumos caminha para sua conclusão. De minha autoria, esse importante projeto regula um mercado que já é bilionário no País, destacado como líder global do setor no Encontro Anual da Indústria de Biocontrole realizado semana passada na Suíça. Esses produtos, de origem biológica, apresentam-se como alternativa aos agrotóxicos. Combatem pragas, fortalecem o solo e ajudam a nutrir as plantas. Com eles, toda a cadeia de produção sai ganhando.
Já o hidrogênio de baixo carbono tornou-se realidade a partir da sanção, em agosto, da lei aprovada pelo Congresso. E estão no Nordeste as principais iniciativas para receber os incentivos à produção desse combustível limpo, com potencial para transformar a nossa indústria.
A Bahia está nesse circuito e pode transformar-se num polo internacional de produção e comercialização de hidrogênio de baixo carbono. Nosso estado já é líder, por exemplo, na produção de energia eólica. O resultado consolida um trabalho iniciado ainda na minha gestão como governador, o que nos enche de orgulho.
O projeto sobre economia circular também deve ser convertido em lei em breve. Como relator no Senado, pude compreender a importância da adoção do conceito de produção circular na cadeia produtiva. O que é rejeito para uma indústria transforma-se em insumo para outra, reduzindo o desperdício ao mínimo. Exemplo disso é a bateria de lítio. Após equipar um ônibus elétrico, ela vira bateria para pequenos ambientes, depois para motos e, ao fim, é reprocessada para que o mesmo lítio volte às baterias novas.
Antenado com esse futuro promissor, o governo Lula acaba de anunciar investimentos robustos para a produção de baterias, como parte da Nova Indústria Brasil voltada para mobilidade verde e cidades sustentáveis, que inclui várias outras medidas no valor total de 1,6 trilhão de reais.
O protagonismo brasileiro nesta Agenda Verde é facilitado pelas condições naturais que temos aqui, que nos dão o privilégio de abrigar os mais ricos biomas do mundo, além de rios, ventos e luz solar em abundância. Mas nada disso faria diferença sem um governo federal empenhado em tirar do papel a tão sonhada e necessária transição energética.
Depois de anos de inércia, que relegou o País a um banquinho no canto da sala nos fóruns internacionais, o governo do presidente Lula e da ministra Marina Silva voltou a sentar na bancada principaal, fazendo jus a quem é a oitava economia do mundo, com voz ativa, credibilidade e referência de nação exemplar – na redução do desmatamento, no combate às queimadas, na punição de crimes ambientais e na reação firme aos desastres climáticos.
Os próximos passos, do governo e do Congresso, poderão dar à população o sentimento de orgulho por fazer parte de uma nação que, além de tomar consciência da crise climática, adota medidas efetivas contra ela e abre espaço para um meio ambiente mais limpo, saudável e sustentável para toda a humanidade, agora e sempre. •
Publicado na edição n° 1335 de CartaCapital, em 06 de novembro de 2024.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘Agenda Verde’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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