Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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A violência no futebol

Em apenas uma semana, dois torcedores de clubes diferentes foram mortos em um intervalo de 48 horas. Isso é algo que nos enche de desespero

A violência no futebol
A violência no futebol
O estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro – Foto: CR Flamengo/Divulgação
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Em um momento de grande preocupação com a violência nos estádios, as goleadas e as decisões da temporada 2025 chamam atenção.

A situação das torcidas organizadas, no entanto, é o ponto mais crítico. Em apenas uma semana, dois torcedores de clubes diferentes foram mortos em um intervalo de 48 horas, algo que nos enche de tristeza e desespero.

A Justiça tem sido acionada para lidar com esses casos.

Na terça-feira 16, o Juizado Especial do Torcedor e dos Grandes Eventos suspendeu a entrada da Torcida Jovem Fla em eventos esportivos por dois anos.

A suspensão aconteceu apenas duas semanas após o retorno da torcida rubro-negra aos estádios. No dia 28 de agosto, seus integrantes haviam assinado um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público.

A Justiça também determinou o acompanhamento da conduta de outras duas torcidas: a Força Jovem do Vasco e a Fúria Jovem do Botafogo.

A falta de bons espetáculos em campo parece agravar a agressividade dos torcedores fora dele.

Dentro de campo, o Brasileirão feminino chegou ao fim com mais uma vitória do Corinthians em uma final sensacional contra o Cruzeiro.

O jogo foi disputado palmo a palmo, de forma acirrada, até o apito final. Foi emoção até o último minuto.

E, infelizmente, no futebol feminino também se manifesta a agressividade.

Fora das quatro linhas, na série audiovisual As Brabas, a lateral Yasmim, companheira do jogador Luan Garcia, trouxe à tona uma face ignorada do esporte.

Com admirável sensibilidade, ela falou sobre o dia a dia dos familiares de atletas profissionais, que acabam sendo o “para-raios” de torcedores apaixonados e da mídia.

Diante dos altos e baixos da carreira, das derrotas, das críticas ácidas e das lesões, as mãos que aplaudem, disse ela, são as mesmas que criticam.

Apesar de todas as questões envolvendo o futebol, ainda temos a felicidade de acompanhar um “artista da bola” que pode ser uma luz para quem ama o futebol e anda um tanto desiludido: o uruguaio Giorgian De Arrascaeta, que atua no Flamengo.

Com seus passos curtos, passes precisos e deslocamentos inteligentes, ele ilumina o cenário, em contraste com a brutalidade dominante no gramado.

Isso acontece justamente em um clube de massa, como o Flamengo, sempre sujeito à ideia de que tudo precisa ser resolvido na base da força.

Acima de tudo, prevalece o poder de organização que o rubro-negro carioca vem demonstrando, e Arrascaeta serve de guia.

Mesmo sem o chamado perfil atlético, o meia flamenguista parecia não suportar o calendário apertado, voltando de uma lesão sofrida em jogo pela seleção uruguaia, onde também se destaca.

Seu técnico na Celeste, Marcelo ­Bielsa, elogiou a estrutura responsável das comissões técnica e médica do Flamengo.

Ele lembrou da visita do preparador físico do clube à seleção uruguaia, em um jogo pelas eliminatórias, compondo com o responsável pela parte física o melhor caminho para o craque e mantendo uma comunicação permanente.

Justamente quando a expectativa era a de que Arrascaeta perdesse sua forma, ele vive um grande momento em sua bela carreira, graças ao emprego dos melhores recursos da psicologia e da fisiologia, que consideram as alterações bioquímicas e seus marcadores.

No fim das contas, o futebol mais inteligente e criativo sempre prevalece, como demonstra a própria história dos clubes em suas melhores fases.

A tabela de classificação, a esta altura, já indica os prováveis vencedores: Flamengo e Palmeiras, com o Cruzeiro, em sua arrancada surpreendente, apertando os dois líderes.

Nos bastidores, a movimentação dos dirigentes continua em busca da unificação das duas correntes do futebol brasileiro, para que assumam a organização dos campeonatos, ficando a CBF responsável apenas pelas seleções e pela relação com a Fifa.

Segue também a “pregação” pela obrigatoriedade dos gramados naturais, pelo menos nas séries A e B, uma vez comprovada a desigualdade de condições entre os concorrentes e as consequências graves para os atletas.

Em paralelo, o Mundial de Atletismo acontece nestes dias, mostrando a disputa mais completa das valências esportivas. •

Publicado na edição n° 1380 de CartaCapital, em 24 de setembro de 2025.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A violência no futebol’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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