Opinião

A vida sempre renasce, mesmo quando estamos sob Bolsonaro, Mourão e Guedes

‘Se aqui ainda há trevas, no mundo já brilham luzes’, escreve Milton Rondó

Paulo Guedes e Jair Bolsonaro (Foto: Sergio Lima / AFP)
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“O respeito à pessoa humana deve caminhar diante de qualquer consideração de progresso econômico”.
São João XXIII.

Essa afirmação do Papa João XXIII ganha muita atualidade, pois Bolsonaro e Guedes pretendem subordinar os direitos humanos reconhecidos pela Constituição federal, no artigo 6, à existência de recursos no caixa da União, que, pela inépcia de ambos, são cada dia mais escassos.

 

No entanto, se em Brasília são trevas, em Roma há luz: o Papa Francisco, argentino, nacionalidade que o medíocre Bolsonaro ataca diuturnamente, incluiu na encíclica dele mais recente, a Fratelli Tutti, uma citação do gigante Vinícius de Moraes, cassado pela ditadura sanguinária que Bolnonaro e Mourão defendem: “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro nesta vida”.

Pela primeira vez, um samba entra em uma encíclica, demonstrando Francisco que a cultura é o motor das mudanças, inclusive políticas.

Para completar-lhe a santidade, o Papa ligou para o Padre Júlio Lancelotti, manifestando o apoio dele ao pastor das populações de rua, ameaçado de morte por bolsonaristas, chamada telefônica que citou no Angelus, a oração dominical do domingo, na Praça São Pedro, transmitida urbi et orbe.

De fato, se aqui ainda há trevas, no mundo já brilham luzes: a provável vitória de Biden nos Estados Unidos da América; a do MAS na Bolívia e a do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, laureado com o prêmio Nobel da Paz.

O Brasil, nos governos Lula e Dilma, chegou a ser o sétimo maior contribuinte do Programa Mundial de Alimentação (PMA), que socorre refugiados em situação de fome aguda em todo o mundo.

Com efeito, o amor ao próximo, ao próprio Deus (“tive fome e me destes de comer”), não se confina às regras do egoísmo: fizemos então a multiplicação dos pães, com arroz acessível no mercado local; alimentação escolar para 43 milhões de estudantes diariamente; e a doação de mais de um milhão de toneladas de arroz, para pessoas em situação de fome, em 53 países.

Atualmente, o Brasil, o segundo maior produtor agrícola do mundo, não doa sequer um grão de arroz.

Entretanto, a contribuição mais importante do Brasil ao PMA foi a noção de que até a assistência humanitária precisa ser sustentável, estando sob os ditames da Rio 92, razão pela qual promovemos junto ao PMA e à FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) a assistência técnica aos agricultores familiares, para que pudessem fornecer alimentos para os programas nacionais de alimentação escolar.

Assim, havia ganhos na melhora da situação nutricional das crianças, maior capacidade de aprendizagem e elevação do nível socioeconômico das famílias dos estudantes, fornecedores do programa.

Com financiamento do Brasil e de outros países, projetos como esse foram implementados – em conjunto com a FAO e o PMA – na América Latina e Caribe, África e Ásia.

No dia 8-10, transcorreu também mais um aniversário da morte do Che Guevara na Bolívia, onde a democracia, como dissemos, está por voltar, o que demonstra que o sangue do herói não foi derramado em vão e que as manobras de chancelarias golpistas, como a do Brasil, nada podem contra a ética e a história.

“Sejamos o pesadelo dos que querem roubar nossos sonhos”, dizia o médico argentino, comandante da Revolução Cubana.

Um grande padre italiano, Dom Andrea Gallo, que muito trabalhou com os jovens, dizia: “Batei e vos será aberta’, prometeu Jesus. Mas, se insistirem em não vos abrir, ponham a porta abaixo”.

Vivemos sob um sistema pervertido, que o Padre recorda vir do latim per, “total”, e vertere, “caminho, vereda”, ou seja, que tomou caminho totalmente equivocado.

Com efeito, em mais um aniversário da Constituição de 88, vemos o atual, ilegítimo, presidente da república descumprir, todos os dias, o inciso primeiro do artigo 4 daquela Constituição, que estabelece que a política externa deverá ser regida pela independência nacional. Todo ao contrário, Bolsonaro e seu chanceler fake diuturnamente seguem os ditames de Washington, para onde o fake liga várias vezes ao dia, para de lá receber instruções.

Mas a primavera chega e esse inverno passará.

Em Porto Alegre, lideram Manuela e Miguel, o que dá muita esperança para a cidade e o Brasil, não sendo a primeira vez que o resgate na nação poderá sair daqui, mais uma vez em aliança com o glorioso Nordeste.

Em São Paulo, Boulos e Luiza também crescem; e Wellington Dias assume a presidência do Consórcio do Nordeste.

A vida sempre renasce, mesmo quando estamos sob genocidas como Bolsonaro, Mourão e Guedes. “Eles passarão, eu passarinho”, já dizia o grande poeta porto-alegrense Mario Quintana.

Encerro, citando a sabedoria do meu amigo libanês e brasileiro Halim Rihan, dono do Café Maktub (o melhor, para mim), localizado aqui na rodoviária de Porto Alegre, cujo significado do nome explica Halim: “Maktub – particípio passado do verbo Kitab, a expressão característica do fatalismo árabe. Maktub significa: estava escrito, ou melhor, tinha de acontecer. Essa expressiva palavra dita nos momentos de dor ou angústia não é um brado de revolta contra o destino, mas sim a reafirmação do espírito plenamente resignado diante dos desígnios da vida”.

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