

Opinião
A Seleção em campo
A presença de Coutinho, cada vez mais confiante, reafirma o acerto da decisão de Tite de “deixar o campo falar”


A vitória folgada da Seleção Brasileira contra o Paraguai, por 4 a 0, na terça-feira 1º, trouxe certo alívio, mas não afastou de vez a preocupação da maioria dos comentaristas e dos torcedores.
Antes do jogo, Casagrande já espanava, invocado com as “cadeiras cativas” que parecem reservadas a alguns jogadores. A meu ver, isso faz parte da estratégia do Tite de buscar dar solidez e confiança ao grupo de escolhidos.
A chance de provar novos valores que vão se destacando – o que não deixa de ser um bom sinal – é dada pela classificação bastante antecipada nas Eliminatórias. Mas, obviamente, alguns ficarão pelo caminho.
Outra oportunidade para a Seleção tem sido dada pela mudança das datas da Copa para novembro e dezembro, em razão do clima do Catar. A ansiedade é inevitável, e só será desfeita com o resultado final das disputas dentro do torneio.
O treinador busca testar diferentes alternativas para distintos adversários em suas formas de jogo e tem seus “homens de confiança”. Algumas situações têm se mostrado instigantes nas discussões acerca da formação da Seleção Brasileira.
Uma delas é a formação do meio-campo, com volantes, meias e centroavantes em distintas formas de jogo agravadas pela ausência de Neymar – ainda com status de titular absoluto. Como o meio-campo se organizará com a volta do astro?
O treinador, vaiado ao ser anunciada a escalação do jogo em Belo Horizonte, mostrou-se bastante preocupado o tempo todo, mesmo estando em um jogo que se mostrou fácil, pela boa apresentação do quadro escalado. Estaria o técnico esticando demais a corda?
São interessantes as alternativas com atacantes abertos e lançamentos do meio-campo ou da zaga próprios para sair das “marcações altas”. Vê também muita “pressão”, recurso comumente aplicado nestes tempos em que a palavra de ordem no futebol é intensidade.
Antony e Coutinho têm se destacado na equipe – Imagem: Lucas Figueiredo/CBF Oficial
O Marquinhos, em excelente forma, acabou se destacando bastante neste jogo com o Paraguai. Tenho insistido que, da forma como se tem jogado atualmente, ter um lançador e um jogador veloz no ataque facilita muito a exploração dos contra-ataques. Quando um time está pressionado, a presença de muitos espaços vazios funciona – por mais contraditório que possa parecer – como um elemento-surpresa.
Além disso, quando possível, convém a saída de bola vertical, em vez daqueles repetidos passes laterais, marca indelével de um jogo mecanizado, amarrado e chato – que acaba por irritar o torcedor. Marquinhos tem se destacado também nesse tipo de lance.
Enquanto escrevo isto, me vem à lembrança o inesquecível capitão Carlos Alberto, que fazia esses passes com extraordinária confiança, até mesmo encobrindo os marcadores do meio do campo.
Outra situação animadora é a escalação de pontas autênticos, apesar de, muitas vezes, trocados de lado. Trata-se de um recurso interessante, embora limite a capacidade de os dribladores autênticos desmantelarem defesas rígidas.
Os gols do Raphinha e Antony têm sido bonitos. Antony foi, inclusive, levado para a Holanda, onde joga relembrando Arjen Robben, que cansou de usar esse expediente de “cortar para dentro” e chutar cruzado jogando pelo PSV, Bayern de Munique e pela seleção holandesa.
A grande vitória neste jogo, para o Tite, foi ter sido um sucesso a escalação do Phillippe Coutinho.
Coutinho jogou bem, fez um belo gol e pareceu estar sedimentando a confiança que vem ganhando no Aston Villa Football Clube, da Inglaterra, seu novo clube. A presença do jogador reafirma a decisão de Tite de “deixar o campo falar”.
O que não vale, agora, é repetir a Copa de 1966. À altura, movido pela política interna, o futebol brasileiro convocou quatro seleções para, dali, tirar a única que iria disputar a Copa na Inglaterra. Foi um desastre total. •
PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1194 DE CARTACAPITAL, EM 9 DE FEVEREIRO DE 2022.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “A Seleção em campo”
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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