No livro Futuro Passado, Reinhart Koselleck busca desvendar os enigmas do tempo histórico. Convoco suas considerações para inaugurar minhas indagações a respeito do Brasil desvendado pelas eleições. Aí vai: Quem busca encontrar o cotidiano do tempo histórico deve contemplar as rugas no rosto de um homem, ou então as cicatrizes nas quais se delineiam as marcas de um destino já vivido. Pois o tempo histórico, caso o conceito tenha mesmo um sentido próprio, está associado à ação social e política, a homens concretos que agem e sofrem as consequências de ações, às suas instituições e organizações. Todos eles, homens e instituições, têm formas próprias de ação e consecução que lhes são imanentes e que possuem um ritmo temporal próprio.
As rugas e cicatrizes vincadas no rosto dos brasileiros conservadores revelam as heranças da casa-grande. A metafísica antissocial do “homem de bem” está esculpida na figura do Senhor de Escravos, incumbido pela Natureza de discernir entre o justo e o injusto, o certo e o errado. Como bem diz meu amigo Mino Carta, os ares da casa-grande escravocrata ainda circulam nas camadas mais profundas da sociedade brasileira. As cicatrizes da história estão riscadas nas faces dos ricaços, de muitos remediados e até mesmo dos desfavorecidos que aspiram o amparo na crença.
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