A República dos Bárbaros

No Brasil de hoje, as liberdades e garantias republicanas recuam diante da “liberdade” que reivindica a opressão do outros

Os ares da casa-grande escravocrata ainda circulam nas camadas mais profundas da sociedade brasileira - Imagem: Jean-Baptiste Debret/Acervo Itaú Cultural

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No livro Futuro Passado, Reinhart Koselleck busca desvendar os enigmas do tempo histórico. Convoco suas considerações para inaugurar minhas indagações a respeito do Brasil desvendado pelas eleições. Aí vai: Quem busca encontrar o cotidiano do tempo histórico deve contemplar as rugas no rosto de um homem, ou então as cicatrizes nas quais se delineiam as marcas de um destino já vivido. Pois o tempo histórico, caso o conceito tenha mesmo um sentido próprio, está associado à ação social e política, a homens concretos que agem e sofrem as consequências de ações, às suas instituições e organizações. Todos eles, homens e instituições, têm formas próprias de ação e consecução que lhes são imanentes e que possuem um ritmo temporal próprio.

As rugas e cicatrizes vincadas no rosto dos brasileiros conservadores revelam as heranças da casa-grande. A metafísica antissocial do “homem de bem” está esculpida na figura do Senhor de Escravos, incumbido pela Natureza de discernir entre o justo e o injusto, o certo e o errado. Como bem diz meu amigo Mino Carta, os ares da casa-grande escravocrata ainda circulam nas camadas mais profundas da sociedade brasileira. As cicatrizes da história estão riscadas nas faces dos ricaços, de muitos remediados e até mesmo dos desfavorecidos que aspiram o amparo na crença.

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1 comentário

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 10 de outubro de 2022 01h07
É assustador para não dizer risível o que esses energúmenos do intelecto dizem e asseveram aos quatro cantos sobre direitos sociais que foram conquistados arduamente por séculos neste país e que eles menosprezam além de desejarem um punitivismo que se assemelha aos tempos da Idade Média e o pior é que têm plateia para implementar uma espécie de república teocrática de um barbarismo tupiniquim em pleno século XXI. Sinceramente, pensávamos que na contemporaneidade essas coisas seriam do passado. Mas não sabemos se por ressentimento por uma falta de cultura e por uma rispidez e crueldade provocada pelo endurecimento da sobrevivência dos homens diante de um neoliberalismo atroz que faz com que os homens se animalizem, melhor, se maquinizem em um mundo cada vez mais individualista visto que esse tipo de homem medíocre, sem vida meditativa, é inimigo indiferente da abstração, quase não abstrai, é um tanto impermeável à ciência teórica, apenas se adapta às aplicações e noções mais básicas, não se permite a evasões especulativas, transcorrendo sua vida sempre numa horizontalizade insípida, pendente de perguntas sem respostas, falta de dinâmica, de sentido e de valores. O seu mundo perceptivo é muito restrito, onde apenas devora objetos, engolindo-os sem mastigar, sem os triturar, sem ensalivar sem sentir o gosto das coisas. Pobres homens ricos e pobres de espírito e pobres homens pobres materialmente e espiritualmente. Por isso o país elegeu pessoas como Sérgio Moro, Damares Alves e General Mourão. Porque não refletem e não têm sensibilidade social são pobres em tudo, inclusive no pensar. O problema é que nos levam juntos para o abismo que desejam habitar.

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