Opinião
A questão militar
O radicalismo nas Forças Armadas ecoa os interesses particulares de alguns generais, não a vontade da maioria
O meu relacionamento com as Forças Armadas já foi muito próximo. Cursei a Escola Superior de Guerra em 1989 e lá fiquei, na qualidade de integrante do corpo permanente por quase dez anos, tendo assumido a coordenação do Centro de Estudos Estratégicos. Hoje, não estou mais tão próximo. Vou à ESG no máximo duas vezes por ano, na qualidade de conferencista.
Pude conviver, naquele período, com chefes militares da estirpe dos generais Meira Mattos, Leônidas Pires Gonçalves, Oswaldo Oliva e do tenente-brigadeiro Sergio Xavier Ferolla, entre muitos outros. Tive contato próximo, no corpo de estagiários da ESG, com diversos oficiais, entre eles o general Eduardo Villas Bôas, que chegaram aos mais altos postos de suas forças. Algo que frequentava o imaginário de todos com quem convivi, pois lhes fora incutido, foi o de serem os primeiros e o últimos defensores do Estado Nacional. Mas essa não é uma visão exclusivamente brasileira. O Estado Nacional surge quando o rei traz para si, na figura das Forças Armadas, o monopólio do uso legítimo da força. Mas aqui se acrescente outra componente, a das Forças Armadas, em especial, no Exército, de se sentir responsável, pelo seu viés positivista, com a modernização do País. Nos primeiros 20 anos deste século, numa ação deliberada, entidades vinculadas ao sistema financeiro, como as Fundações Getulio Vargas e Dom Cabral, entre outras, infiltraram-se nos cursos das Forças, pregando que a modernização só seria atingida mediante os cânones da liberalização econômica. Isto cada vez mais tem se demonstrado irreal, o que faz renascer, no meio militar, a velha doutrina do nacionalismo econômico, presente no antigo positivismo.
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
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