Opinião

A pequena esperança de mudanças de hábitos

Enquanto escrevia esta coluna, deixei abertas as portas da casa. Assim como a espada é de Jorge, a chave é de Pedro

São Pedro é o santo que abre as comportas do céu. Foto: Divulgação/Diocese de Sete Lagoas
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São Pedro foi um dos 12 apóstolos de Jesus Cristo. Dia 29 de junho comemora-se seu dia. Neste ano, claro, em forma menos efusiva e calorosa, como requer a data. Pedro, desculpem a intimidade, foi como um braço direito para Jesus. 

Não ousarei a blasfêmia de associar tal relação referindo-me ao Regente Insano Primeiro e o Posto Ipiranga. Nobres, por exemplo, os arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa.

Pedro foi tão importante que designado como primeiro Papa da Igreja Católica. Meus amigos do Conselho Consultivo Celestial, dizem que ele ainda manda muito por lá. Todos que estão no Dominó de Botequim passaram por seu crivo.

Com seu primeiro nome, Simão foi um pescador. Quando juntou o Pedro, tornou-se padroeiro dos pescadores, pedreiros e porteiros, daí ser quem abre as portas do céu.

Dia 29, enquanto escrevia esta coluna, deixei abertas as portas da casa, e outras apenas destrancadas. Assim como a espada é de Jorge, a chave é de Pedro.

 

Sabia-me protegido. Para escrever havia lido o Salmo 123 da Bíblia, e repetido a oração: “Pedro, Pedro, Pedro, a chave do céu é vossa, portanto, ajude-me no que estou necessitando. Assim seja”

E o que necessito?

Bem, como leigo, mas avassaladora massa de informações pelas folhas e telas cotidianas, tenho pequena esperança de reversão rápida e completa da pandemia pelo novo coronavírus.

O mesmo em relação a hábitos, costumes e mudança de propósitos sociais, incrustados no capitalismo há séculos e piorados nas três últimas décadas.

Sei que deveria ter esperanças na tecnologia, pesquisadores, tudo o mais, mas uma pandemia que pode ser evitada com uma máscara de pano, distância de um metro de seus próximos, água e sabonete, álcool em gel, só pode ter vindo, com tal virulência, para diminuir incautos pobres e velhos do planeta.

Quem pode, “fique em casa”, trabalhe do gueto notebook, não saia para trabalhar, não assista a espetáculos públicos, reuniões só virtuais, se saírem por essencialidade, na volta desinfectem todas as roupas. 

Agora, deem uma olhada no perfil da população brasileira. Na tal pirâmide. Quantos podem assim se proteger? Que horizonte para doença tão primária para nós, privilegiados, na prevenção, mas difícil num País de há muito destroçado.

Por que a demora para previsibilidade de solução laborterápica definitiva?

Chegamos à agricultura. Com exceção da produção oriunda de pequenas propriedades, agricultura familiar, assentamentos, vistos com a lupa, desde 2015, as commodities de exportação continuam triunfantes.

 

Alerta: imbecilidades do “chanceler” Ernesto Araújo, do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, fazem febril a titular da Agricultura, Tereza Cristina, pressionada pela bancada ruralista e a ignorância econômica de um governo irresponsável para com o comércio internacional.

Resistiremos?

Somos grandes produtores de commodities. Na colheita 2020, continuaremos sendo. 

Segundo a CONAB, colheremos 250 milhões de toneladas de grãos, provável crescimento de 3,5% sobre o ano passado. Algodão, 4% a mais. Arroz cresce 6,5 %. Apesar da situação de alto desemprego e renda, o feijão, em três safras, deverá crescer 2%. A safrinha de milho, apesar de incontornáveis problemas climáticos e de pragas, deverá crescer 1,5%. O mesmo (em torno de 5%) para o conjunto aveia, canola, centeio, cevada, trigo e triticale.

O café, em bienalidade positiva, sobretudo no arábica, deverá chegar em 46 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas e 16 milhões do conilon. Total de 62 milhões de sacas. Um crescimento de 4% sobre o ano anterior. A preços estáveis nas bolsas internacionais e câmbio favorável.

Somente a cana-de-açúcar terá redução de produção de 2%, o que não é ruim, pois o mercado de etanol e açúcar não está confortável para excesso de oferta.

Vamos, então, rezar a São Pedro, e cantar com Gilberto Gil. Inté!

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