Carlos Senna

Opinião

A inovação social na construção da sociedade que queremos

Em Maricá, o ICTIM, em conjunto com a prefeitura, criam condições para a criação de um futuro novo local, cooperativo e socialmente justo

Mumbuca
A mumbuca ganhou fama internacional e serve de base para propostas de campanha pelo Brasil. Foto: Prefeitura de Maricá/RJ A mumbuca ganhou fama internacional e serve de base para propostas de campanha pelo Brasil. Foto: Prefeitura de Maricá/RJ
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A crise sanitária provocada pela pandemia, assim como a emergência das mudanças climáticas que já cobram seu preço em vários pontos do planeta, desafia a humanidade a encontrar novos caminhos para a construção do futuro. Até aqui, tem prevalecido a lógica inerente ao modelo econômico capitalista, e isso se estende às inovações tecnológicas em todos os seus aspectos e impactos, desde aquelas meramente incrementais até outras mais radicais ou disruptivas. Há um pensamento econômico predominante quanto à eficácia dos empreendimentos privados em relação aos empreendimentos públicos, onde se procura reduzir o papel do Estado na definição de ações e de empreendimentos de criação de valor e de renda. Há ainda o valor dado às novas tecnologias da informação e da comunicação sem se atentar para qual direção os empreendimentos baseados nestas tecnologias carregam o valor criado.

Em tempos de globalização, falta criticidade sobre a neutralidade tecnológica: o empreendimento local pode estar transferindo valor para outro lugar do globo, criando valor alhures. Há também a perspectiva de que, com a globalização, as soluções passam a ser globais. Neste aspecto fazem crer que os desafios das localidades são construídos “lá fora”. Até lá, cabe o debate local, mas deve-se esperar por uma solução vinda e transposta de outrem.

Em geral, o avanço tecnológico é atribuído ao próprio capitalismo e sua dinâmica, mas há de se registrar a importância do Estado na construção de bem-estar social. Esse papel indutor passa pelo desenvolvimento em infraestruturas de mobilidade e saneamento básico nas cidades, pelo desenvolvimento de vacinas e pelas inovações espaciais, todos estes com vários desdobramentos tanto tecnológicos e inovadores quanto sociais. 

Dois pontos se destacam. Primeiro, a necessidade de uma localização dos desafios, com o resgate dos protagonismos das cidades na busca por soluções próprias, ou seja, a reconstrução do território em seu valor econômico e social. Segundo, a construção do engajamento das pessoas neste território em novas formas de articulação social na perspectiva de uma nova forma de se reconhecer o valor criado localmente.

Ao longo dos últimos anos, o município fluminense de Maricá tem desenvolvido estes dois eixos de ação. Por um lado, a cidade desenvolveu-se no eixo econômico, pela via da criação de uma moeda social, a Mumbuca, que se contrapõe aos modelos de cidade inteligente baseados em tecnologia. Diferente dos investimentos municipais baseados em tecnologia, a Mumbuca criou uma identidade, pois a cidade passou a ser reconhecida também pela sua moeda. Acima de tudo, criou um território específico, já que a moeda social só pode ser utilizada em Maricá. 

Além disso, os vários serviços oferecidos com esta moeda, como a renda básica cidadania, garantem que o valor distribuído permaneça na cidade. Assim, distribui-se renda localmente, desenvolvem-se negócios e criam-se empregos dentro da lógica econômica desenhada pela moeda social. A Mumbuca e seus programas acabam por prover à cidade uma identidade perdida, como em tantas outras cidades, pela globalização. A moeda trouxe localidade e, ao mesmo tempo, identidade, o que possibilita trazer a discussão de território e de arranjos sociais locais que valorizem os novos valores criados ou até mesmo resgatados.

Mas, a criação de uma identidade de território requer também um novo arranjo social que permita se apropriar deste território na criação e na distribuição de valor. Nesse sentido, as incubadoras de inovação social criam as condições que auxiliam no fomento e criação de uma nova dinâmica social de criação de valor.

O Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM) criou quatro Incubadoras de Inovação Social, três delas verticalizadas e uma horizontalizada. Diferentemente das incubadoras tradicionais, aquelas que procuram criar novas empresas de base tecnológica, as Incubadoras do ICTIM visam à melhoria dos negócios locais, em rede de empresas e articuladas no território. Nessa lógica, procura-se desenvolver a colaboração entre empresas e a criação de produtos e serviços conectados com os valores do território. 

Cada Incubadora verticalizada atende a um segmento específico: Inovação Social em Cultura; Robótica e Sustentabilidade; e Mumbuca Futuro. A Incubadora de Inovação Social em Tecnologias tem a função de alavancar empreendimentos em rede e territorializados. Seu objetivo é incubar não uma empresa, mas uma sociedade futura capaz de gerar riqueza localmente a partir de desafios locais estabelecidos em colaboração. Portanto, uma inovação social que resgata o papel da cidade inteligente como espaço de articulação social.

Assim, tendo como base o processo de inovação social no eixo de transformação, além da inovação tecnológica como suporte ao processo de mudança social, o ICTIM, em conjunto com os entes da Prefeitura Municipal de Maricá, vão criando condições para a criação de um futuro novo local, cooperativo e socialmente justo.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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