

Opinião
A gestão em campo
O Timão tem condições estruturais e financeiras semelhantes às do rubro-negro, mas patina e não consegue deslanchar
As recentes decisões do futebol brasileiro – a final da Copa Libertadores e a reta final do Campeonato Brasileiro –, vencidas pelo Flamengo contra o Palmeiras, trouxeram à tona situações cruciais sobre a gestão e o planejamento dos clubes.
Ambas as equipes venceram e perderam na mesma semana. As reações dos clubes foram, porém, totalmente opostas e reveladoras.
O Palmeiras, por exemplo, empurrado não apenas pela derrota nas finais, iniciou uma profunda reestruturação em seu planejamento.
As mudanças anunciadas ajudam a entender a queda de rendimento na reta final: o time deu sinais claros de cansaço, indicando a urgente necessidade de renovação no elenco.
Já o Flamengo, mesmo após a dupla conquista e ainda com o Mundial Interclubes à vista, anunciou medidas de reforço.
O time usou os valores obtidos com as vitórias e o aumento dos patrocínios como “time de massa” para qualificar ainda mais o grupo.
Com o título do Brasileirão garantido com antecedência, a viagem para o Catar foi antecipada, e o clube ainda deu rodagem ao Sub-20, que o representou na rodada final do campeonato – outro ganho estratégico.
No meio desse cenário de altos e baixos, quem se arrasta lamentavelmente é o Corinthians. O Timão tem condições estruturais e financeiras semelhantes às do rubro-negro, mas vem patinando e não consegue deslanchar.
A comparação com o que ocorre no futebol europeu, hoje o mais valorizado do mundo, também nos oferece pistas.
Por lá, os clubes chegam à metade da temporada. Por aqui, encerramos o nosso calendário. Ambos são ingratos, diga-se de passagem.
Na Europa, o clube que sempre elogiamos, o Real Madrid, acusou desequilíbrio em sua organização.
Após um rendimento sofrível e crises entre os jogadores e o técnico Xabi Alonso, o time anunciou mudanças radicais no elenco no meio da temporada desportiva.
Além de perder pontos preciosos, foi derrotado nesta última semana, em casa, por 2 a 0, para o modesto Celta de Vigo.
Em termos de comparação, é impossível não citar as diferenças de organização entre o clube madrileno e o Santos – camisas parecidas, com uma história igualmente grandiosa.
O Santos fez uma campanha muito fraca no Brasil, correndo risco de cair. Muita trapalhada da “cartolagem”.
O Peixe escapou do rebaixamento no apagar das luzes, e não há mais como esconder a necessidade de atualizar o seu rumo. Se, um dia, o time de Pelé foi capaz de ser bicampeão mundial, é porque tem de onde tirar.
E a verdade é que a vinda de Neymar no desfecho do campeonato acabou sendo uma jogada com um “final feliz” para todo mundo. O clube livrou-se da queda com a participação decisiva do craque. Torço por Neymar, apesar de entender tanta “bronca” em torno dele.
Neymar dá sinais de amadurecimento e pode abrir bons horizontes. Para o Santos, eles já se abriram. Para a Seleção, o objetivo maior do acerto com o Peixe pode ser fundamental.
O balanço da carreira de Neymar é, no fim, espetacular, embora essa imagem não seja devidamente cultivada.
Ele tem inúmeras conquistas que não aparecem com o devido destaque em sua biografia.
Só não compreendo o “masoquismo” de tantas lesões – corajoso, sim, mas desnecessário.
Entre algumas declarações amadurecidas sobre o futuro, o craque explicou com a maior tranquilidade: “Vou descansar uma semana, depois pensar e decidir. Vamos ver o que é melhor pra todo mundo”.
Sem dúvida, ele mira a Copa do Mundo.
No campo dos rebaixados, é “chocante” a queda simultânea de Ceará e Fortaleza. Um estado com aquela potência sem nenhum time na Série A.
O que pode ter acontecido ao Fortaleza, que mirava voos altos no início do campeonato e acabou assim? Uma lástima, assim como a reação tardia do Ceará.
Outro que escapou foi o Vitória da Bahia, treinado por Jair Ventura, que merece melhores oportunidades.
Resta-nos ver a reação do Internacional, socorrido pelo extraordinário “bombeiro” Abel Braga.
Além de contribuir mais uma vez com sua enorme experiência, ele ajudou a espantar a Série B e deu a sentença: “Ameaça de rebaixamento nunca mais!” Foi um alerta para a direção colorada.
É impressionante como alguns clubes gigantes parecem fazer força para cair – e caem. É muita trapalhada da “cartolagem”.
Enquanto isso, a Copa do Brasil resta como uma última esperança para salvar o ano de Cruzeiro, Vasco, Fluminense
e, especialmente, da Fiel corintiana. •
Publicado na edição n° 1392 de CartaCapital, em 17 de dezembro de 2025.
Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A gestão em campo’
Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.



