Afonsinho

Médico e ex-jogador de futebol brasileiro

Opinião

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A geopolítica olímpica

Cada um dos países líderes no quadro de medalhas tem um plano definido para o desenvolvimento de esportes, muitas vezes ligados a educação e saúde

A geopolítica olímpica
A geopolítica olímpica
Ascensão. A China tem, ano após ano, evoluído nas competições – Imagem: Redes Sociais/Paris 2024
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A Associação dos Servidores da Fundação Oswaldo Cruz ­(Asfoc), do Rio de Janeiro, tem um projeto de promoção da saúde pelo esporte que, a meu ver, deveria servir de exemplo do potencial dessa relação.

Embora seja destinado à comunidade interna da Fiocruz, o programa me faz pensar na necessidade de um Plano Brasileiro de Esportes. Há décadas vamos e voltamos a este assunto.

Retomo aqui o tema, primeiro, porque fui convidado, na semana passada, a participar da conversa Futebol Brasileiro S.A. e Seu Impacto na Saúde, na Asfoc.

E, depois, porque acabamos de sair da Olimpíada, sempre um momento no qual a relação que cada país tem com os esportes acaba por ser evidenciada.

A Constituição de 1988 estabelece, em seu texto que segue em vigor, o esporte como “Direito do Cidadão, Dever do Estado”. Que efeitos práticos isso tem?

Em todos os países de maior desenvolvimento, o esporte, ao final de cada Olimpíada, tem os melhores índices no rendimento esportivo.

Este ano, vimos a China disputar, palmo a palmo, o primeiro lugar com os Estados Unidos no quadro de medalhas dos jogos realizados em Paris.

Cada um dos países que saem como os maiores vencedores ao fim de cada ciclo olímpico tem um plano de esportes definido, ou seja, são sociedades que estabeleceram de que maneira o Estado deve atuar para o desenvolvimento da atividade esportiva como um todo.

Tenho procurado entender como cada país, dentro de sua forma de organização, trabalha o investimento no esporte.

Sei que os Estados Unidos têm como base o esporte dentro das universidades, de onde saem seus maiores expoentes. Ou seja, a base é, totalmente, aquela do enlace entre educação e esporte.

Ao longo da Olimpíada, foram publicadas algumas reportagens que tratavam dos aspectos geopolíticos dos jogos.

Um dos temas amplamente tratados foi o de quanto a União Soviética alcançou resultados expressivos até a dissolução do bloco.

A União Soviética alcançou a primeira posição em seis das nove edições dos jogos até o ano de 1992, em Barcelona.

E ficou com a segunda posição nas três olimpíadas que se seguiram, tendo disputado uma delas como a Equipe Unificada.

Hoje, vemos a ascensão da China, país que trabalhou o esporte dentro do chamado Sistema Nacional de Toda Nação, que considera três níveis de administração: municipal, provincial e nacional.

E o que temos visto é o país alcançar progressivamente bons resultados.

Nos textos que li sobre o assunto, chamou bastante minha atenção o fato de, entre os chineses, o que mais se leva em conta, quando se fala em esporte, não é resultado competitivo dos atletas de elite, mas a relação entre esporte e saúde dentro da população como um todo.

Esse tema já teve lugar no Brasil muitas vezes. Uma delas foi durante a passagem de Pelé pela então Secretaria de Esportes, quando se pretendeu trazer a Olimpíada para o Brasil.

Propusemos, à altura, a construção do que chamávamos de Centros de Iniciação Olímpica (CIO) baseados no pensamento do esporte para todos.

Esperemos que essa aproximação entre esporte e educação e entre esporte e saúde ganhe cada vez mais espaço entre nós. •

Publicado na edição n° 1325 de CartaCapital, em 28 de agosto de 2024.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título ‘A geopolítica olímpica’

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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