Esther Solano

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Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Complutense de Madri e professora de Relações Internacionais da Unifesp

Opinião

A farda sustenta um governo de morte e devastação. Que a História não esqueça. Que a memória lhes condene

Proteger e servir, a quem mesmo? Proteger o dinheiro garantido numa reforma da Previdência boa para a turma. Servir um presidente genocida

Bolsonaro
Bolsonaro preside solenidade de cumprimentos aos novos Oficiais Generais promovidos das Forças Armadas. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil Bolsonaro preside solenidade de cumprimentos aos novos Oficiais Generais promovidos das Forças Armadas. Foto: Antonio Cruz/ Agência Brasil
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Vergonha. Vergonha da farda, dos quartéis. Vergonha nacional. Proteger e servir, a quem mesmo? Proteger o dinheiro garantido numa reforma da Previdência boa para a turma, num orçamento bacana para o Ministério da Defesa. O restante dos brasileiros, danem-se. Servir um presidente genocida, servir um projeto de destruição. Os 540 mil mortos, danem-se. Sempre a postos para defender o Brasil, mas os doentes de Covid-19 que não entrem nos nossos hospitais.

“Nossa bandeira jamais será vermelha”, repetem como um mantra. Ora, a de vocês, sim, está coberta de sangue, as fardas estão cobertas de sangue. Muito hino, muita mão no peito, mas a verdade é que vocês estão pouco se lixando para esse Brasil que dizem amar. A política entrou na caserna e a dignidade foi embora. Boa sorte em tentar recuperá-la.

Sou das que dizem, repetem e reiteram que a esquerda deveria tratar melhor os integrantes das polícias e das Forças Armadas, porque também são trabalhadores, porque necessitam de valorização salarial, de condições de trabalho dignas. Não podemos deixar o tema da segurança abandonado, mas, neste caso, fardados, não tem esses “porquês”, é vergonha mesmo.

Sei que nem todos são iguais. Uns atuam, outros calam e consentem. Vergonha do silêncio cúmplice dos que consentem. Ah, mas a hierarquia tem que ser respeitada. O chefe ao qual vocês devem obedecer é povo brasileiro. Vocês, fardados que calam e assentem, são tão responsáveis quanto aqueles que dão as caras. Ah, mas ordem dita é ordem cumprida. A ordem que vocês devem obedecer é o respeito à vida.

O general Villas-Bôas disse, no seu tuíte infame, às vésperas do julgamento de um habeas corpus que poderia libertar Lula, que o Exército Brasileiro compartilhava “o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição”. É mesmo, general? Lula era o chefe da quadrilha? Foi ele quem também tentou superfaturar vacinas?

Vergonha sobretudo de vocês, das altas patentes, que sujaram cada uma das suas estrelas na imundície deste governo. Vergonha de vocês, generais-ministros, ministros-generais, que mancharam seu uniforme de uma forma tão sórdida. Vergonha de suas ameaças, de suas bravatas antidemocráticas. Fósseis velhacos, que pensam que vamos nos amedrontar, que vamos nos cagar de medo e nos curvar a vocês. Esqueçam, ridículos, o Brasil é muito maior do que vocês. “Como é sublime/ Saber amar/ Com a alma adorar/ A terra onde se nasce!/ Amor febril/ Pelo Brasil/ No coração/ Nosso que passe”, cantarolam. Febril não é seu amor, febril é sua falta de vergonha. A História lhes reserva um capítulo de ignomínia e podridão.

O Brasil tem que recuperar suas cores, seu verde-amarelo, sua bandeira, seu orgulho, tudo isso que vocês roubaram, que deixaram chafurdando na indecência. A democracia lhes dará o belo e gigantesco pé na bunda que vocês merecem. E acontecerá, como acontece com todos os medíocres, com todos os insignificantes, com todos os idiotas minúsculos. Vocês ficarão no lixo do passado, enquanto o País continuará vivendo e vibrando rumo ao futuro, apesar de vocês.
Vergonha, vergonha de vocês que jogaram sua honra nos detritos, mas não duvidaram em levar junto com sua sujeira todo um País. Dizem que nós, “professores esquerdopatas”, somos doutrinadores. Pois não duvidem que esta professora aqui falará, com a dignidade e sabedoria que vocês nunca terão, nas suas aulas, sobre como vocês protagonizaram um grande opróbrio nacional. Meus alunos saberão do que vocês foram capazes.

Vergonha, nojo, repugnância, repulsão. A farda serviu para sustentar um governo de morte e devastação. Que a História não esqueça. Que a memória lhes condene. Vergonha, fardados.

Publicado na edição n.º 1167 de CartaCapital, em 22 de julho de 2021.

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