Marcos Coimbra

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Sociólogo, é presidente do Instituto Vox Populi e também colunista do Correio Braziliense.

Opinião

A fanfarronice de Jair Bolsonaro não resiste a um peteleco

Vai receber um nocaute no queixo e uma lição de humildade. Pena que será tão dura para tanta gente

Foto: Isac Nóbrega/PR
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Só da cabeça de um completo idiota pode sair a ideia de que, enquanto a epidemia está em franca expansão, é hora de “reabrir a economia”. De que o País pode retomar o nível normal de atividade, como se o número de doentes e mortes não estivesse em crescimento.

É o mesmo que somar dois e dois: se há mais gente na rua, se o comércio, as escolas e os cinemas voltam a funcionar “normalmente”, aumentam os riscos de transmissão e contágio. Mais cidadãos são infectados, muitos desenvolvem quadros graves, têm de ser hospitalizados e exigem cuidados intensivos. Como a capacidade do sistema de saúde foi alcançada, milhares não conseguem atendimento e morrem. São essas mortes evitáveis que crescem quando não se reduz o contato social ou se “volta ao normal” na hora errada.

Ninguém com um mínimo de bom senso e informação ignora hoje esses fatos. Fora alguns charlatães, os médicos e os cientistas são unânimes. Temos as experiências bem-sucedidas de diversos países e aquelas que deram errado. Como a doença se espalhou pri- meiro nos países ricos do Hemisfério Norte, nações como o Brasil tiveram tempo para se preparar. O governo idiota de Bolsonaro, não. Acha que tem uma receita melhor que qualquer um, mesmo que seja exatamente o que se comprovou que não funciona. Por is- so, a vasta maioria da opinião pública não confia no que ele diz.

A epidemia continua a crescer no Brasil e não estamos nem perto do “achatamento da curva” de contágio. Muitos governadores e prefeitos fazem a parte deles e muitos brasileiros estão conseguindo se manter em isolamento. As pesquisas de opinião mostram que só não se isola quem não tem os meios. Isso ajuda, ao retardar o ritmo da epidemia.

Mas, por causa da indiferença do idiota que ocupa a cadeira de presidente da República, de seu estímulo a comportamentos irracionais e incapacidade de governar, não foi possível obter o nível necessário de adesão ao confinamento. O Brasil está perto de se tornar o segundo maior foco mundial da pandemia, atrás apenas dos Estados Unidos, se é que não ocuparemos o lugar, o que não sabemos por falta de testes.

O esforço de contenção foi menos eficaz porque o governo do idiota tem um ministro também idiota à frente da economia, que não consegue enxergar um palmo além do seu anacrônico ultraliberalismo. O isolamento radical é, de fato, impraticável em um país em que a maio- ria da população é pobre ou miserável, mas não se deduz daí que a solução seja jogá-la na rua. Ela precisa é de programas de transferência de renda em larga escala, assim como de crédito abundante para empreendedores individuais e pequenas empresas. Sozinho, o insignificante “auxílio” não resolve nada (e seu efeito positivo na popularidade do governo é pequeno e passageiro).

Bolsonaro, seus milicos amestrados, os ministros, os aliados no Congresso e no Judiciário, os empresários amigos, são completamente indiferentes a como vive e quanto sofre o povo. Para eles, em plena pandemia, lugar de pobre é na rua e a hora é de ganhar dinheiro. São idiotas no sentido que a palavra tinha na Grécia Antiga, indivíduos que só conseguem pensar em si mesmos e são incapazes de conviver como cidadãos na democracia. Ao capitão, dos 30% de apoio que teve, resta o aplauso do fundo do tacho, gente bizarra e suicida.

O Brasil caminha a passos largos para uma dupla tragédia evitável. Teremos um dos mais longos e graves surtos da covid-19 no mundo, com centenas de milhares de doentes, alguns passando por imenso sofrimento, e dezenas de milhares de óbitos. Por incompetência desses idiotas, a economia enfrenta uma crise difícil de imaginar, cuja duração ninguém consegue calcular. Tudo vai piorar com a “volta à normalidade”.

Capitaneando a catástrofe, a patética figura de Jair Bolsonaro, que se imagina invulnerável e mais esperto que todo mundo, desafiando, enfezadinho, uma ameaça infinitamente maior e mais forte do que ele. O ex-capitão é um nada diante do poder do general covid, posto que se atribuía ao inverno russo, que derrotou Napoleão e freou Hitler. Sua fanfarronice não resiste a um peteleco.

Vai receber um nocaute no queixo e uma lição de humildade. Pena que será tão dura para tanta gente.

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