Opinião

A exploração de potássio na Amazônia, como quer Bolsonaro, é desnecessária

Além de pouco viável, cara e agressiva ao ambiente

O garimpo invade terras indígenas. (Foto: Felipe Milanez)
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Há cerca de três meses, o presidente Jair Bolsonaro anunciou com pompa salvadora (de sua pretendida reeleição), o lançamento de um Plano Nacional de Fertilizantes que, entre outras dilacerações à Amazônia, permitiria uma canalhice indisposta na Constituição, mineração em terras indígenas.

Com isso, em seus desaforos “passa-boiada”, entrega a companheiros de cercadinho, políticos, empresários, associações ruralistas, e todos que pensam sentir-se protegidos por milícias, a cessão de riquezas brasileiras. Madeiras nobres, biodiversidade, terras não apropriadas para plantio de grãos, pecuária, e a dignidade de índios e quilombolas, com que pouco se importa, inumanos que são.

Suas maldades foram obtidas em pouco mais de três anos, a partir de interesses congressuais, ministérios desinformados, órgãos de controle abatidos em recursos financeiros e técnicos, mídia corporativa abobalhada e Forças Armadas na caluda, ocupadas em renovar a pintura das casernas.

Pouco mais de um quarto da população apoia aparvalhada seu mito, fosse para não renegar a escolha equivocada ou justificar mascar ruminante.   

Aprovado pelo bando político oportunista e contestado apenas por opositores que sabem o que está nos sendo roubado, é mais uma “boiada” de vacas magras (nós) e vagas gordas (os ricos e influentes), que passam sem qualquer possibilidade de eficácia e êxito no objetivo a que deveria se propor.

Acordado pelo conflito causado pela invasão da Rússia à Ucrânia, e admoestado por técnicos da Agricultura serem importantes fornecedores para o Brasil, Bolsonaro e infectos chantagistas tiraram da manga nossa insuficiência na produção e dependência de importações de matérias-primas para fertilizantes, especialmente, os macronutrientes, nitrogênio e potássio. Calam-se em relação ao fósforo, mas falta pouco para aumentar sua dependência, considerada a falta de investimentos, desde o início das privatizações nos anos 1990. 

Sendo anunciado pelo ignaro para os anos 2030/2050, o Plano, até lá, por óbvio, tudo estará escasso ou nas mãos de nossos principais concorrentes agrícolas. Não há investimento previsto em qualquer prazo. Como nunca houve desde a privatização.

Para disfarçarem suas verdadeiras intenções, alegam o risco de inviabilizar a produção agrícola, as exportações de commodities, a balança comercial, a roça de milho e mandioca dos Apurinãs (BR-317, km 124 e 8.000 gentios). 

Por seu lado, estes discutem como irão produzir cauim, pajuaru, caxiri, chás alucinógenos, que os permitirão realizar seus rituais religiosos. Também, cachaça, quando excluídos de seus hábitos culturais e estuprados pelos nossos.

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A exploração de potássio na Amazônia, além de pouco viável, longa duração, difícil, caríssima, agressiva ao ambiente, é desnecessária. Investimentos menores e de curta execução poderiam ser feitos em Goiás, Minas Gerais, São Paulo e Sergipe, inclusive sobre unidades já existentes.

Na agricultura, como mineral, ele é, predominantemente, usado na forma de cloreto (KCl), a partir da silvita ou da carnalita (Taquari-Vassouras – SE). Visitei essa jazida duas décadas atrás, mas entre rolos da privatização ficou à mercê de disputa entre Petrobras e Vale. 

Em Israel, o mineral é retirado das águas altamente salinas do Mar Morto. Além da Rússia e partes da Ucrânia, está disponível em significantes jazidas no Canadá, EUA e antiga Alemanha Oriental.l

Durante 15 anos a Petrobras (Petromisa) teve à sua disposição a concessão de lavra do potássio (390 milhões de toneladas) na Amazônia. Opção política do ex-presidente Collor, falta de recursos para o investimento, sem interessados, com oferta superior à demanda na época, o direito de lavra foi entregue à Vale, desejo já minguante em Taquari-Vassouras, pela diretoria da empresa mineradora.

Na época, estimava-se o investimento na jazida mais unidades de beneficiamento em US$ 1,2 bilhão. Atenção: sobre localização já operacional, não em terras indígenas e logística perversa. No entanto, em 2006, o potássio amazônico desceu a ladeira em forma de arrendamento.

Planejado desde 2009, a um custo de R$ 4 bilhões, até hoje disputas políticas regionais (?) emperram o início das obras (Japaratuba e Capela). É o Projeto Carnalita, o mesmo que fui visitar no início do século.

A verdade é que nem Ministério das Minas e Energia ou Vale tiveram apetite guloso para investir em Sergipe, Minas, Goiás ou São Paulo. 

O que se quer é apitar na Amazônia.

Inté!

Nota: depois de grave acidente, há doloroso um ano, não publico neste site de CartaCapital. Se não mudar de ideia disponho-me continuar.

 

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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