A direita que nunca decepciona

A primeira e mais urgente tarefa desse campo político é ver-se livre de Bolsonaro

Foto: JOE RAEDLE / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

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Finalmente, uma publicação com graça. Referindo-se ao extraordinário episódio do senador Marcos do Val, o filho do antigo presidente, o improvável Carlos Bolsonaro, escreveu no Twitter que “essa nova direita nunca decepciona”. No já longo período em que sigo com atenção a política brasileira, nunca tinha lido um mot d’esprit vindo da ex-família presidencial. Ao contrário, há muito que me tinha habituado à grosseria e à boçalidade das suas falas. Mas, surpresa, a tirada da “decepção” teve certa piada. Por um lado, ela nos lembra que o bom humor faz falta à política. Mas, sobretudo, ela é interessante por evidenciar a dimensão da tragédia da direita – quanto mais precisa se recuperar, mais ela se afunda. É como se para sair do buraco em que se encontra não achasse outro remédio senão continuar a escavar – e a afundar-se cada vez mais.

O problema é sério. Primeiro ponto. Os dois acontecimentos políticos que marcaram o primeiro mês do governo Lula, a invasão dos edifícios governamentais e a tragédia de saúde pública na região dos Yanomâmis, são uma verdadeira desgraça para o anterior governo Bolsonaro. O golpismo político e a incúria governamental com os índios (com intenção ou sem ela) têm potencial para não serem mais esquecidos ao longo de toda a legislatura. Se é verdade que todos os governos gostam de fazer prévios inventários negativos relativos ao país que recebem, no caso do presidente Lula, o governo não precisa fazer nada, porque a própria direita se encarrega de fazer o trabalho, explicando ao povo brasileiro por que a mudança política foi absolutamente necessária. É nesse sentido que a frase tem piada – há uma direita que nunca decepciona. A amalucada invasão dos edifícios do Estado, a desgraça indígena, agora tornada conhecida de todo o povo brasileiro, e ainda as pequenas histórias de “minutas do golpe” e de conspirações do tipo “operação tabajara” (sim, sim, tudo muito ridículo) transformaram a retórica da pesada herança num fato político indiscutível. Esta é a primeira vitória do governo Lula. A pesada herança é hoje reconhecida como um fato, mesmo por muitos que votaram em Bolsonaro.

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1 comentário

PAULO SERGIO CORDEIRO SANTOS 15 de fevereiro de 2023 17h05
Haverá um dia e esse dia não vai demorar, que se alguém se declarar bolsonarista, estará cometendo um crime. Do mesmo modo que alguém que se declara hitlerista ou nazista. Essa extrema direita que desagregou o país por 4 anos e exibiu toda a sua atrocidade no dia 8 de janeiro de 2023, além do genocídio, do negacionismo, do terraplanismo do período da pandemia e do genocídio e crimes praticados pelo garimpo ilegal contra os Yanomâmi, além de frases e confissões criminosas de estarrecer qualquer mafioso até bizarras e burlescas, mas ilícitas. O bolsonarismo será considerado crime de lesa pátria e de lesa humanidade e envergonhará de sobremaneira qualquer cidadão que algum dia apoiou esse cráula no Brasil.

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