Marcos Coimbra

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Sociólogo, é presidente do Instituto Vox Populi e também colunista do Correio Braziliense.

Opinião

A derrota de Bolsonaro está marcada

O capitão acaba em 2022, e o bolsonarismo, antes de 2026. Na premissa, é claro, de que a vontade da maioria será respeitada

O presidente Jair Bolsonaro. Foto: Evaristo Sá/AFP
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O capitão Jair Bolsonaro vai perder a eleição do ano que vem. A data está marcada: 2 de outubro, no primeiro turno, ou (mais provavelmente) dali a três domingos, no dia 23, no segundo. Com isso, acaba essa coisa bizarra, o bolsonarismo, uma parcela da opinião pública que segue, acredita e ama o capitão. Hoje é um segmento pequeno, cujo tamanho está entre 5% e 10% da população adulta – o que não significa que possa ser ignorado.

O fim do bolsonarismo não tem data certa para ocorrer, mas não deve demorar. A partir do dia que terminar o governo, começa a murchar, em um processo inexorável. Fora do poder, o capitão irá paulatinamente perdendo capacidade de manter seus seguidores e atrair novos, pois pouco lhe restará para oferecer no plano emocional e simbólico. Como também não tem (e não adquirirá até lá) ideias para convencê-los racionalmente, é possível que o bolsonarismo nem sequer chegue ao ciclo eleitoral seguinte.

A derrota de Bolsonaro no ano que vem e a consequente derrocada do bolsonarismo não são o fim da ultradireita no Brasil. Alguém vai surgir, provavelmente mais qualificado, para expressar o vazio que ficará

Bolsonaro acaba em 2022 e o bolsonarismo antes de 2026. É o que sabemos do que pensa a população, visível, por exemplo, na recente pesquisa do Instituto Datafolha. Na premissa, é claro, de que a vontade da maioria será respeitada, ou seja, de que a democracia não será, outra vez, violentada por seus algozes de sempre.

O mais relevante da pesquisa é a constatação do fracasso do capitão e sua turma em afervorar o momento político e a eleição. Fizeram um grande e caro esforço para assanhar os ânimos de uma parcela ampla da opinião pública e não mediram recursos para atrair gente aos milhões. Como vimos, o saldo foi magro.

Mais que a questão do tamanho, a pesquisa mostrou que a longa preparação do festival bolsonarista e sua realização no dia 7 de Setembro não conseguiram reavivar a imagem do capitão e do governo e, por isso, foram irrelevantes para afetar as intenções de voto. Gastaram tempo (o chefe, por exemplo, ficou sem trabalhar durante semanas, dedicando-se em tempo integral aos preparativos e à mobilização) e dinheiro (público e dos ricaços bolsonaristas). A grande maioria da população permaneceu fria. No máximo, se assustou com os arruaceiros.

A turma do capitão não ignora que a eleição só vai acontecer daqui a um ano e que ainda há muita água para passar por debaixo da ponte. Por que, então, a tentativa de estimular as emoções agora, tão antes da hora? Por que não deixar a micareta do 7 de Setembro para 2022?

Eles sabem (provavelmente, porque seus professores na ultradireita mundial ensinaram) que, nas sociedades democráticas, a regra é a reeleição funcionar como um referendo do primeiro mandato. Nos Estados Unidos, por exemplo, desde os anos 1940, todos os presidentes com avaliação positiva abaixo de 45% (a seis meses do pleito) perderam. Todos os que tinham números acima disso foram bem-sucedidos. Nos poucos casos no Brasil, a mesma coisa: Fernando Henrique, Lula e Dilma eram bem avaliados e ganharam. Bolsonaro é mal avaliado hoje e não há dinheiro de “Bolsa Família turbinado” que, nos próximos meses, o torne respeitado e querido pela maioria.

Mas também é verdade que, nas últimas décadas, com o fenômeno da polarização cada vez mais intensa nas sociedades modernas, tem crescido a parcela do eleitorado que não escolhe seus candidatos com base em critérios racionais, como o desempenho administrativo e a plataforma programática. Para esse tipo de eleitor chega a não fazer diferença se um governante é bom ou ruim, capaz ou incapaz. O que busca é alguém que derrote o “outro lado”, o inimigo que vê nos que não pensam igual, que têm ideias e valores morais diferentes.

Para manter elevado o nível de sectarismo, o bolsonarismo insiste na mobilização, tentando reforçar os antagonismos dentro do eleitorado e aprofundar as divisões. Quem votou em Bolsonaro em 2018 é convocado a olhar apenas para o estandarte da sua “tribo”, e não para a economia ou o genocídio. A intenção é fazer com que a reeleição deixe de ser um referendo e se torne reafirmação do voto anterior. Funciona para alguns, mas não para a maioria.

A derrota de Bolsonaro no ano que vem e a consequente derrocada do bolsonarismo não são o fim da ultradireita no Brasil. Alguém vai surgir, provavelmente mais qualificado, para expressar o vazio que ficará. O resto da direita não vai assistir a esse processo de braços cruzados e vai continuar a procurar algo melhor já para 2022. O problema é que não há nada na prateleira e não dá tempo para mandar fazer um nome.

Publicado na edição nº 1176 de CartaCapital, em 23 de setembro de 2021.

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