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Estamos num momento decisivo de opção pela democracia, de garantia e aprofundamento da cidadania, ou da volta do autoritarismo, da negação da liberdade no nosso país
Por José de Ribamar Virgolino Barroso
Na semana que passou foi revelado que empresários que apoiam o candidato Jair Bolsonaro estão gastando milhões de reais para disseminar fake news pelas redes sociais e pelo WhatsApp contra a chapa Haddad/Manuela e o PT. Segundo denúncias, mais de 150 empresas podem estar envolvidas no crime cometido por Bolsonaro e seus apoiadores. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) se omite — há quem diga que a omissão é, na verdade, cumplicidade.
Trata-se de mais um episódio a demonstrar como a nossa democracia, a nossa cidadania, os nossos direitos estão sendo vilipendiados desde que Bolsonaro, Temer e seus pares deram o golpe no Governo Dilma.
A estratégia de campanha da direita é, por si só, um atentado contra a nossa Constituição e as conquistas obtidas pela população nos anos anteriores ao golpe. Seu objetivo é intimidar homossexuais, pessoas com deficiência física e mental, democratas, sindicalistas, lideranças dos movimentos sociais e populares. Cercear a ação das organizações que defendem os interesses das comunidades de baixa renda, a igualdade entre homens e mulheres na sociedade e no trabalho e os assalariados.
Trata-se de uma frente para a agressão e eliminação de mulheres, gays, indígenas, negros, marginais e dos que pensam diferente de seus dogmas e ditames.
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Ser cidadão vai além de exercer o dever do voto. Quem atua no bairro, igreja, escola, sindicato etc. sabe que cidadania significa ter direitos e deveres e construir uma sociedade inclusiva e solidária. A Carta de Direitos da Organização das Nações Unidas (ONU) diz que todos somos iguais perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor, e que a todos cabe o domínio sobre seu corpo e sua vida, o acesso a um salário condizente para promover a própria existência.
Temos, ou deveríamos ter, o direito à educação, saúde, habitação, lazer. O direito de expressar ideias, atuar em partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais. O direito de lutar pelo que se acredita, de ter uma vida digna. O cidadão também tem deveres, como defender os direitos de todos, ser responsável ante a coletividade, respeitar as normas decididas coletivamente, defender suas ideias junto às instâncias e instituições políticas, econômicas e sociais. A prática da cidadania constrói, coletivamente, uma comunidade melhor, com respeito e ampliação de direitos civis, políticos e sociais, interligados.
Por isso é combatida pelos grandes empresários e seu candidato, que vicejam na sociedade desigual, faturam com a crise econômica, garantem mão de obra barata adotando medidas que levam ao desemprego e ao fim dos direitos trabalhistas. A arrogância do candidato da direita, dos grandes empresários das cidades e dos campos repele a contestação, a oposição aos seus desígnios privatistas e exploradores. A defesa de projetos como o da Lei da Mordaça (Escola Sem Partido) expõe o medo que eles têm do ensino democrático e plural, a necessidade que sentem de impedir a formação de brasileiros cultos e com capacidade de avaliar as coisas com bom senso e clareza.
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O exercício pleno da cidadania não é possível fora dos marcos da democracia. Foi o que motivou que as fundações ligadas ao PCdoB, PT, PSB, PDT, PSol e Pros divulgassem, também na semana passada, manifesto em que defendem o regime democrático brasileiro e a tomada de posição diante do “desastre da instauração de um governo de conteúdo ditatorial”. Propõem a constituição de uma ampla frente política nacional de defesa da democracia.
Logo em sua abertura, o manifesto afirma: “A democracia, em qualquer lugar do mundo, não se apresenta enquanto regime político pronto e acabado, pois tende a refletir, em geral, um processo maior que se submete à construção permanente. No Brasil, cuja prática democrática tem sido efêmera, a sua defesa se faz sempre muito necessária, sobretudo no atual momento em que sofre ameaças profundas de retrocessos”.
Estamos num momento decisivo de opção pela democracia, de garantia e aprofundamento da cidadania, ou da volta do autoritarismo, da negação da liberdade no nosso país. Como afirmou, em nota, a Confederação dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee): “Os projetos de Haddad e Bolsonaro são antagônicos. De um lado, a defesa da democracia, da inclusão e dos direitos sociais. No lado oposto, o fascismo, as figuras que se fizeram notáveis pela ignorância, difusão de mentiras (fake news), pela violência, pela crueldade, pela estupidez, pelo que existe de sórdido na natureza humana.
A Contee conclama pelo voto em Haddad presidente, 13”.
José de Ribamar Virgolino Barroso é coordenador da Secretaria de Finanças da Contee
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
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