A beleza do acaso

No futebol há sorte e azar e o absurdo também acontece, como é próprio do jogo

Foto: Odd ANDERSEN / AFP

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Eu gosto de futebol porque é um jogo. A interminável conversa “científica” sobre tática e organização das equipes quase nos faz esquecer esta verdade simples de que o futebol é um jogo. E, sendo um jogo, está sujeito às leis selvagens do aleatório e do imprevisto. Toda a beleza reside no resultado em aberto. Ninguém iria a um estádio se soubesse antecipadamente o que se iria passar ou se pudesse garantir quem ganha. A emoção está ligada ao indefinido e ao contingente – a emoção é a incerteza. Bem-vistas as coisas, os que levam feiticeiros e videntes e padres para os estádios são os únicos a compreender que nisto de jogos, quando são verdadeiramente jogos, nenhuma ciência determina o resultado e só o recurso à metafísica pode ajudar os espíritos.

A propósito, não sei se viram os últimos instantes do Portugal e Gana, mas foi uma cena linda. O goleiro pôs a bola na marca para fazer o pontapé de meta e recuou uns passos, como se faz habitualmente. De repente, de trás, de onde ninguém esperava perigo, apareceu um atacante ganês que tirou a bola ao aflito goleiro e se preparava para rematar para a baliza desguarnecida que estava mesmo à sua frente. Nesse momento, escorregou. Quando finalmente tentou rematar, a defesa portuguesa estava no caminho. Dizem os comentaristas que aquilo não poderia acontecer, que o goleiro deveria ter verificado, que foi um erro, que foi sabe-se lá o quê. Bom, o goleiro é um dos grandes jogadores desta equipe e o que sucedeu foi um acaso, um desses acontecimentos fortuitos que acontecem raramente e de forma absolutamente inesperada. A quem ocorreria verificar, nos últimos segundos do jogo, se algum jogador ganês teria ficado perdido lá atrás da baliza portuguesa?

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