Opinião

7 de Setembro de 2023: alívio e orgulho

Talvez ainda a independência não estivesse lá representada, país de alto índice de pobreza extrema, mas a democracia e a esperança lá estavam

Presidente Lula participou do desfile Cívico-Militar de 7 de Setembro na Esplanada dos Ministérios em Brasília. Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Alívio

Há cerca de oito anos que não me interessava por qualquer notícia que se referisse ao dia em que se comemora a Independência do Brasil. Forçava-me a ficar ausente e nem entendia ser feriado. Tanto que por único e justo motivo dedicava-me ao trabalho. Mesmo sem obrigação, escrevia. Faltasse inspiração, até pintar meios-fios na frente de quartéis toparia.

Só não aceitava considerar independente um país não soberano, presidido por um ogro que negava ciência, cultura e era motivo de escárnio no exterior.

Não que antes disso eu tivesse apreço ou respeito pelo evento. Passava, como algo menor, mas não teratológico como agora. Afinal, já lera muitos livros, bons historiadores, análises corretas ou equivocadas do que foram conjunturas, fatos, motivações e personagens de nosso desatar lusitano, doadores que éramos de impostos e vergonhosas exportações.

Algumas lembranças agradáveis ainda me vêm à memória. Meu pai, eu de calça curta, mãos segurando as bandeirinhas do Brasil de papel – até hoje imutáveis – e a Banda dos Fuzileiros Navais, que vinha do Rio de Janeiro desfilar no Vale do Anhangabaú, ao som, também imutável, da marcha Cisne Branco. Quando chegavam os tanques de guerra, eu agitava as bandeirinhas com mais força, olhava para meu pai e chorava. Eles tinham passado de quatro para seis unidades. Força, Brasil!

Se então a emoção era tal, com o passar dos anos, algum restinho de patriotismo, ínfimo que fosse, nunca foi capaz de escarrar o sentimento desses últimos oito anos, aqui já descritos com fúria odienta, enjoo no estômago, mandingas rogadas com pequenos galhos de arruda presos às orelhas e sal grosso espalhado na porta da casa.

Neste 7 de Setembro, no entanto, foi diferente. Fiz questão de assistir ao desfile pela TV e saber se teriam voltado a presença do espírito de meu pai atrás do cordão de isolamento, uma de minhas mãos segurando na dele e a outra acenando a bandeirinha de papel, o Anhangabaú, os velhos viadutos do Chá e Ifigênia. Pesquisei na internet, ouvi o Cisne Branco e pus atenção no palanque para ver quem estaria ali.

Alívio: talvez, ainda, a independência não estivesse lá representada, país de alto índice de pobreza extrema, mas a democracia e a esperança lá estavam e me encheram os olhos de lágrimas!

Orgulho

O agronegócio, apesar de algumas dificuldades edafoclimáticas, dará ao Brasil, na safra 2022/23, resultados econômicos excepcionais. Se a agricultura familiar, mais voltada para o mercado interno, não pode nos proporcionar o mesmo sucesso, agradeçamos ao poder incumbente do período, felizmente derrotado nas eleições presidenciais de 2022. Logo, porém, se apoiada por Lula, e mais povo podendo comer, ela nos trará o mesmo orgulho.

Segundo o mais recente levantamento da Conab, a Companhia Nacional de Abastecimento, a safra brasileira de grãos será de 322,8 milhões de toneladas, um novo recorde, crescimento de 18,4% sobre a anterior, em área de 78,5 milhões de hectares (+5,3%) e produtividade de 4,100 t/ha.

Nas culturas graníferas, todas as regiões do País tiveram expressivo crescimento de produção, mesmo as menos tradicionais:

N/NE (14,5%); C-O (17,0%); SUD (12,5%); SUL (26,0%). Nada a ver com planejamento agrícola ou incentivo governamental, mas cotações favoráveis nos mercados internacionais e o câmbio (dólar valorizado).

Aos grãos podemos adicionar a produção total de 653 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, em 8,0 MM de hectares plantados. Uma produtividade de 76 mil kg/ha.

Menos satisfatório tem sido o desempenho do café. Antes dominante nas exportações do Brasil monocultor, começou a perder sua expressão na diversificação que aconteceu nas décadas 1970/80, com transmutação, inclusive, de regiões. Por exemplo, deslocamentos para Rondônia, Sul da Bahia, Espírito Santo (avanço da variedade conilon). Cansei de ver em minhas excursões pelo Sul de Minas Gerais, no lugar das lindas plantações região das Montanhas Cafeeiras, cafezais sendo substituídos por monótonos campos de soja. É o capitalismo, caros leitores. Na safra 2022/23 a colheita foi de 55 milhões de sacas de 60 kg beneficiadas.

Inté!

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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