Luiz Gonzaga Belluzzo

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Economista e professor, consultor editorial de CartaCapital.

Opinião

5 anos do Allianz Parque e a fenomenologia do espírito (palestrino)

Ainda ouço os ecos das vozes que proclamavam: “Foi um péssimo negócio”. Foi, mesmo. Para os adversários

Allianz Parque (Foto: Divulgação)
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Dia 19 de novembro, os palmeirenses comemoraram os cinco anos de vida do Allianz Parque. A data me trouxe à memória o documentário Segundo Tempo, de Rogério Zagallo.

Premiado em dezembro de 2017 no Festival Internacional, o longa-metragem narra a construção do Allianz Parque.

Assisti ao filme no Museu do Futebol abrigado no Estádio do Pacaembu e desfrutei a honra de sentar-me ao lado de Cesar “Maluco”, um dos ícones do Palmeiras.

Encerrada a sessão, os palmeirenses empunhavam seus iPhones para deflagrar os costumeiros festivais de selfies. Pedi que se acalmassem. Educado pelos mestres jesuítas, apresentei minhas desconfianças com autocelebrações e busquei explicar aos rapazes as façanhas do Espírito Palestrino.

Esse Espirito acolhe em seu âmago o extremo conservadorismo e um irrequieto impulso inovador. Os indivíduos-dirigentes apenas realizam os movimentos contraditórios. O Espírito brilhou com as duas academias dos anos 60 e 70, para encolher-se nos fracassos e decepções dos 17 anos de fila, inspirados na mentalidade do bom e barato. Fracassos encerrados em 1993.

Tal como a cogestão Palmeiras-Parmalat, o projeto da Arena Multiuso não nasceu de uma inteligência privilegiada que se ocupou de antecipar os resultados formidáveis de suas elucubrações.

Na cogestão foram fundamentais os inconformismos dos amigos já falecidos, Gilberto Fagundes, Luis Kadow, para não falar dos trabalhos do saudoso Paulo Roberto Nicoli e do amigo Clodoaldo Antonângelo.

Não faltaram os que clamavam contra a “venda do clube” a uma empresa, cujo único objetivo, diziam os de sempre, era apenas se aproveitar do Palmeiras para ganhar dinheiro. Imagino que preferissem uma empresa disposta a perder dinheiro.

Isto posto, vamos ao breve relato das tratativas que culminaram na celebração do contrato com a Construtora WTorre.
No final de 2.007, a Construtora WTorre apresentou o projeto da Arena Multiuso à Diretoria de Planejamento do Palmeiras, então ocupada pelo executor do Espírito Palestrino, que ora escreve as mal traçadas. A construtora deixou claro que, depois de tentativas malogradas com outros clubes, procurou a Sociedade Esportiva Palmeiras em razão da reputação de seriedade de sua diretoria, então presidida por Affonso Dellamônica Neto.

Foram marcadas e realizadas reuniões, chamadas “setoriais”, com grupos de conselheiros, quando a construtora apresentou o projeto de forma detalhada. A Assembleia Geral dos Sócios aprovou o projeto por uma margem expressiva de votos.

Em janeiro de 2009, a Presidência da Sociedade Esportiva Palmeiras, nomeou uma comissão especial para acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos junto à WTorre. Marcelo Fonseca, Vicente Criscio, José Cyrillo Jr., Antonio Carlos Corcione e Antonio Augusto Pompeu de Toledo se reuniam quinzenalmente com a Diretoria da WTorre.

Não há como esquecer a valiosa contribuição do palestrino João Mansur, o apoio competente de Marcelo Solarino e a decisiva e inteligente contribuição do então diretor de marketing, Rogério Dezembro. A esses dedicados palmeirenses, devo juntar meus companheiros da União Verde e Branca, liderados por Wladimir Pescarmona.

Isto posto, vamos às diferenças entre o projeto do Allianz Parque e os demais estádios construídos recentemente:

1) O Palmeiras não investiu sequer um real na construção da Arena. Apenas cedeu o direito de uso de superfície à parceira.

2) O Plano de Negócios antecedeu e ditou as normas do projeto arquitetônico e de engenharia. As orientações do plano de negócios definiram uma concepção da Arena compatível com o atendimento das demandas de eventos e shows. Não por acaso, o Allianz Parque lidera com folga a apresentação de shows de artistas nacionais e internacionais.

No futebol, as receitas são do Palmeiras, descontadas as despesas de cada partida (é bom repetir, de cada partida). Em 2014, o Palmeiras faturou R$ 23.168.000 com a bilheteria, disputando apenas dois jogos no Allianz Parque (Palmeiras x Sport Recife e Palmeiras x Atlético-PR).

Em 2015, a receita do Palmeiras com bilheteria foi de R$ 75.783.000,00. Ou seja, de 2014 para 2015, a receita com bilheteria foi multiplicada por 3,27!

A matéria da lavra de Danilo Lavieri e Leandro Miranda publicada pelo UOL registra as cifras do desempenho palestrino nos gramados da finança. “Em 2018, a combinação formada pela bilheteria dos jogos e pelo programa de sócio-torcedor Avanti, diretamente ligada ao sucesso do Allianz Parque, foi responsável por 23% das receitas brutas do clube. O Palmeiras tem o maior ticket médio do Brasil (cerca de R$ 57) e uma das três maiores ocupações médias. Nos cinco primeiros anos, o estádio faturou R$ 310 milhões só em jogos de futebol. Como comparação, a Arena Corinthians fez R$ 316 milhões. A diferença é o Palmeiras embolsou o lucro na totalidade, enquanto o Corinthians sofre para pagar um empréstimos gigantesco com a Caixa….

O Allianz Parque estabeleceu novos paradigmas de serviço, conforto, experiência e receita. Graças ao investimento e à operação da superficiária, WTorre, dona dos direitos de superfície até 2044. Para benefício da proprietária, a Sociedade Esportiva Palmeiras que, ademais, tem participação nas vendas das propriedades e nas receitas de aluguel dos shows e eventos.

Essas são as condições de sobrevivência dos clubes no futebol “financeirizado” de hoje. Ainda ouço os ecos das vozes que proclamavam: “Foi um péssimo negócio”. Foi, mesmo. Para os adversários.

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