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Xiomara Castro é empossada como nova presidente de Honduras

Esquerdista é a primeira mulher a presidir o país da América Central

A nova presidente de Honduras, Xiomara Castro. Foto: Luis Acosta/AFP
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A esquerdista Xiomara Castro tomou posse nesta quinta-feira 27 como a primeira mulher presidente de Honduras, um país afetado pela pobreza, a emigração, o narcotráfico e a corrupção, mas com uma população que deposita nela a esperanças de mudança.

“Prometo ser fiel à República, cumprir e fazer cumprir a Constituição e suas leis”, disse a nova presidente perante a juíza Carla Romero, acompanhada de Luis Redondo, presidente do Congresso reconhecido por Castro, após uma crise parlamentar.

Foi Redondo quem colocou a faixa presidencial na presidente diante de 29 mil pessoas reunidas no Estádio Nacional de Tegucigalpa, enquanto retumbavam nas montanhas que cercam a capital tiros de canhão das Forças Armadas.

Xiomara tem 62 anos e é esposa do ex-presidente Manuel Zelaya, destituído em 2009. No pleito de 2021, a esquerdista acabou com a supremacia da direita com uma coalizão liderada por seu partido, Liberdade e Refundação (‘Libre’).

Zelaya a acompanhou a todo momento e foi a neta dos dois, Irene Melara, que segurou a Constituição sobre a qual Xiomara prestou juramento.

“Nos sentimos reconhecidos, recebemos um convite para estar aqui e poder nos expressar livremente. Isso nunca tinha acontecido”, disse Pepe Palacios, engenheiro de 50 anos que levava uma bandeira da diversidade na posse. Castro mostrou-se aberta a discutir o casamento entre pessoas no mesmo sexo em Honduras, um país profundamente conservador.

A cerimônia de posse contou com convidados importantes, como a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, e o rei da Espanha, Felipe VI.

Vestindo um terninho bordô, Xiomara participou de uma cerimônia religiosa na basílica de Nossa Senhora de Suyapa. Depois, ao lado de seu esposo, desfilou em carro aberto rumo ao estádio, em meio aos cumprimentos dos cidadãos.

“Temos esperança de que [a situação] vai mudar, porque Xiomara apoia a causa dos pobres há muito anos e por ‘Mel’ Zelaya, que foi um bom presidente. Para mim, ele começou a revolução em Honduras”, disse a costureira Esther López.

Fim da crise

Para concretizar seus planos de governo, Xiomara precisa do apoio do Parlamento, onde não tem maioria absoluta. E, para piorar, duas alas rivais do ‘Libre’ decidiram eleger cada uma seu próprio presidente do Congresso, o que gerou uma crise. No entanto, o panorama agora parece estar ficando mais claro.

Nesta quinta, o deputado Luis Redondo, apoiado pelo partido de Xiomara e seus aliados, abriu sem contratempos a sessão como presidente do Congresso, enquanto o rebelde Jorge Cálix, que também tinha se proclamado como chefe do Legislativo, com apoio da oposição de direita e de alguns dissidentes do Libre, permaneceu em silêncio.

Ontem, a nova presidente tinha oferecido a Cálix um cargo dentro do governo. Hoje, apesar de ainda não ter respondido ao convite, o político publicou uma foto ao lado de Castro, afirmando que tinha certeza de que ela “vai transformar Honduras”.

Ministros

Xiomara Castro acusou os dissidentes de estabelecer uma aliança com o Partido Nacional do agora ex-presidente, Juan Orlando Hernández, para impedir as mudanças que ela prometeu.

Hernández foi acusado por promotores de Nova York de manter vínculos com o narcotráfico. Seu irmão, o ex-deputado “Tony” Hernández, cumpre pena de prisão perpétua nos Estados Unidos por este crime. Os dois negam as acusações.

“É crucial que Castro tenha um gabinete com histórico de honestidade, porque há toda uma história de vínculos com o crime organizado do partido que está deixando o governo”, comentou o analista e professor da Universidade Nacional de Honduras, Eugenio Sosa.

Xiomara anunciou hoje alguns de seus futuros ministros, entre eles o chanceler, Eduardo Enrique Reina, e a ministra de Finanças, Rixi Moncada.

Crise migratória

Com a proposta de um “socialismo democrático”, Xiomara promete mudanças profundas em um país onde a pobreza atinge 59% de seus quase 10 milhões de habitantes, segundo cifras oficiais de 2019, apesar de a ONG Fórum Social da Dívida Externa e Desenvolvimento de Honduras (Fosdeh) situar esse número em 71%, segundo dados de 2021.

O país também possui uma alta taxa de homicídios, de quase 40 por 100 mil habitantes, provocada por cartéis de drogas e outros grupos criminosos. Todos esses problemas, aos quais se soma a pandemia, provocam um grande fluxo migratório para os Estados Unidos, com hondurenhos em busca de emprego.

Nesse sentido, Xiomara se reúne nesta quinta-feira com Kamala Harris para “abordar as causas profundas da migração na América Central”, segundo detalhou em Washington um funcionário do alto escalão do governo americano.

EUA e Taiwan

Mesmo com Xiomara sendo tachada de comunista durante a campanha, “os Estados Unidos entenderam que ela não representa uma esquerda radical, e sim uma esperança para o povo hondurenho”, opina o sociólogo Sosa.

A nova presidente precisa de apoio internacional para renegociar uma dívida externa que supera os 11 bilhões de dólares. Para o ex-chanceler Edgardo Paz, esse tema passa por um acerto “com as instituições multilaterais, nas quais Washington tem muita influência”.

Por sua vez, Kamala Harris disse que sua visita a Tegucigalpa será “uma oportunidade” para aprofundar a cooperação “em temas-chave, que vão da luta contra a corrupção à recuperação econômica”. Além disso, Washington saudou o apelo de Xiomara à ONU para instalar uma Comissão Internacional Contra a Impunidade em Honduras (CICIH).

Além de Harris, o vice-presidente de Taiwan, William Lai, também se encontrará com a presidente, cujo país é um dos últimos aliados diplomáticos da ilha asiática na América Central, junto com a Guatemala.

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