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Jinping bane a dissidência, promove aliados e obtém plenos poderes no Congresso do Partido Comunista

Poder supremo. Jinping, fortalecido pelos delegados do partido, ignora Jintao, retirado da reunião por “problemas de saúde”, segundo a mídia estatal chinesa - Imagem: Noel Cellis/AFP e Liu Weibing/Xinhua/AFP
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Xi Jinping eliminou os principais rivais na liderança da China e consolidou seu domínio sobre o país no último dia de uma reunião do Partido Comunista, da qual o ex-presidente Hu Jintao foi retirado inesperadamente do palco principal. A saída de ­Jintao foi um raro momento dramático fora do roteiro no que costuma ser um teatro político cuidadosamente coreografado.

A sessão final do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês encerrou um fim de semana de triunfo para ­Jinping, que o torna o governante mais poderoso da China desde Mao Tsé-tung. O líder varreu as últimas normas de uma ordem política construída desde a morte de Mao, para evitar o retorno aos piores excessos de um governo autocrata.

No sábado 22, ficou claro que Jinping havia empurrado o primeiro-ministro Li Keqiang e o reformador Wang Yang para a aposentadoria, para que ele pudesse preencher com partidários o comitê permanente do Politburo, o coração do governo, que durante décadas governou coletivamente. No domingo 23, o terceiro mandato de Jinping como chefe do PCC e, portanto, líder da China, foi anunciado oficialmente, após anos de especulação. Ele começará um terceiro mandato como presidente no início do próximo ano.

A saída de Hu Jintao do palco, retirado por seguranças, foi raro momento dramático da reunião

A reunião de uma semana foi planejada com precisão e paranoia, e Jinping enfatizou a unidade do partido o tempo todo. Mas o desejo de controlar a imagem pública do PCC tornou a saída repentina e aparentemente involuntária de Jintao, diante da mídia mundial, particularmente surpreendente. O homem de 79 anos pareceu confuso e relutante em deixar seu assento no palco do Grande Salão do Povo, quando foi abordado por um assessor ou oficial, que sussurrou em seu ouvido e tentou levantá-lo da cadeira. A certa altura, ­Jintao tentou pegar as anotações de ­Jinping, que estavam sobre a mesa entre eles. Jinping estendeu a mão para segurar os papéis. Jintao foi então escoltado para fora do palco, provocando especulações sobre se a saída ocorreu por problemas de saúde ou se a política de poder era encenada para o partido ou o público internacional.

Seja qual for a razão, ela foi carregada de peso simbólico. O outro ex-líder vivo, Jiang Zemin, está com 96 anos e não compareceu ao congresso. Jinping usou a reunião para consolidar sua posição no PCC e reforçar seu culto à personalidade, tornando seus textos o “núcleo” da ideologia partidária moderna. Depois que Jintao foi escoltado para fora, ­Jinping foi proeminente no palco, como agora na política chinesa. O congresso, reunião mais importante do ciclo político de cinco anos da China, reúne 2,4 mil delegados de todo o país para carimbar as decisões tomadas pela elite do partido.

Projeto. Jinping aposta em uma China forte para enfrentar os desafios e levar o desenvolvimento aos quatro cantos de um país ainda fortemente agrário – Imagem: iStockphoto

Sob as velhas normas, Jinping deixaria o cargo de líder imediatamente, depois de dez anos no comando. Em vez disso, aboliu os limites de mandato presidencial, tem enchido o governo de aliados e pode se tornar líder vitalício. É improvável que qualquer alto funcionário restante que se oponha a Jinping se arrisque a investir contra ele agora, dizem analistas. Em vários de seus discursos, o presidente falou sobre a China ter de navegar por um mundo cada vez mais hostil. No discurso de encerramento, afirmou aos delegados: “Ousem lutar, ousem vencer, enterrem suas cabeças e trabalhem duro. Estejam determinados a seguir em frente”.

Sua visão para a China sugere mais repressão, mais interferência do Estado na economia, embora isso tenha prejudicado o crescimento, e agressividade no exterior. As mudanças na Constituição do PCC aprovadas no sábado 22 fazem dos escritos de Jinping – o chamado “Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era” – uma base para a ideologia do partido, com o próprio líder em seu “núcleo”. Uma lista de delegados nomeados para o Comitê Central de 205 integrantes também revelou que alguns dos maiores rivais de Jinping, que tinham ligações com outras facções do partido e sua própria base de poder, foram forçados a se aposentar.

O Politburo de 25 integrantes e o Comitê Permanente são formados por gente do Comitê Central. Os funcionários não podem entrar nas poderosas organizações de governo se não estiverem no Comitê Central. Os ausentes incluem o primeiro-ministro Li Keqiang e Wang Yang, líder da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. Esperava-se que ­Keqiang se aposentasse do cargo de primeiro-ministro em março, mas houve especulações de que ele permaneceria na liderança do PCC com um papel menos importante. Yang, político pró-reforma com uma imagem relativamente liberal e rica experiência regional, foi visto por analistas como um provável candidato para o próximo cargo de primeiro-ministro. “Um Comitê Central, um Politburo e um Comitê Permanente, todos dominados por Jinping, significariam uma perda importante de freios e contrapesos”, disse Willy Lam, integrante sênior da Fundação ­Jamestown, grupo de pensadores sediado em Washington. “A política de ­Jinping de colocar a ideologia e a segurança nacional acima do desenvolvimento econômico continuará pelos próximos cinco ou até dez anos, pois ele está ansioso para governar até o 22º Congresso do Partido em 2032, quando completará 79 anos.”

O Politburo congrega agora os principais aliados de Jinping

Nota de CartaCapital: No domingo 23, a remodelação do Politburo, anunciada oficialmente, expôs a extensão da influência de Xi Jinping. Keqiang e Yang foram empurrados à aposentadoria e, pela primeira vez em 25 anos, a cúpula do partido não terá a presença de mulheres. Ao mesmo tempo, a inclusão do ministro da Segurança do Estado, Chen Wenquing, é outro sinal da preocupação do presidente em controlar as facções internas. “O novo Politburo é uma declaração enfática do domínio de Jinping sobre o partido”, declarou à agência ­Reuters Richard McGregor, analista sênior do Leste da Ásia do centro de estudos Lowy Institute, com sede em Sydney, Austrália. “Ele dispensou o antigo sistema, esmagou as expectativas de que iria nutrir um sucessor. E ignorou os limites de idade informais para funcionários que servem em cargos de alto escalão.” Embora o sucesso da estratégia de Covid-zero seja questionável, o responsável por sua condução, Li Qiang, próximo a Jinping e atual secretário-geral do PCC, habilita-se ao posto de primeiro-ministro, em substituição a Keqiang, forçado à aposentadoria. Qiang acompanha o chefe desde os tempos em que Jinping comandava o partido na província de Zhejiang.

Outras emendas constitucionais endureceram significativamente a posição da China em relação a Taiwan. A carta do PCC listava anteriormente Taiwan, ao lado de Hong Kong e Macau, como um lugar com o qual esperava “construir solidariedade”. Agora, apenas jura “se opor resolutamente e restringir a independência de Taiwan”. “Pequim sinaliza que pretende afundar seus calcanhares no chão sem espaço para concessões na questão de Taiwan”, disse Sung Wen-ti, cientista político da Universidade Nacional Australiana. •


Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves.

PUBLICADO NA EDIÇÃO Nº 1232 DE CARTACAPITAL, EM 2 DE NOVEMBRO DE 2022.

Este texto aparece na edição impressa de CartaCapital sob o título “Xiiiiiiiii…. “

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