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Vitória de Netanyahu mina chances de degelo com EUA

Premiê israelense submeteu relação bilateral a duras provas; reeleição deixa poucas esperanças de reaproximação – pelo menos enquanto Obama estiver na Casa Branca

Benjamin Netanyahu: relação cada vez mais complicada com Washington
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Logo após o discurso de Benjamin Netanyahu diante do Congresso dos Estados Unidos, no início de março, observadores comentavam que o relacionamento entre o primeiro-ministro de Israel e o presidente Barack Obama batera um recorde negativo.

Entretanto, desde que, no último dia da campanha para as eleições parlamentares, o chefe de governo deu uma guinada em sua política, descartando a possibilidade de um Estado palestino independente, esse relacionamento ficou ainda mais difícil.

“É a segunda vez em um mês que Netanyahu entra em confrontação direta com Washington”, escreveu o jornal Washington Post.

Primeiro, ele se opôs no Congresso americano ao acordo nuclear com o Irã proposto por Obama. E agora se distanciava da solução de dois Estados, pela qual o chefe da diplomacia americana, John Kerry, se empenhara com afinco durante nove meses.

Numa declaração sobre o resultado do pleito israelense, o porta-voz de Obama, Josh Ernest, apressou-se em abrandar as tensões, assegurando que as estreitas relações entre os dois países se manteriam, independente de quem saísse vencedor.

Segundo ele, a primeira tarefa do novo premiê de Israel – fosse ele Netanyahu ou seu adversário, Isaac Herzog – seria “reparar os laços com os Estados Unidos”. No entanto, com a permanência do político conservador à frente do governo de Israel, será difícil melhorar as relações com a administração Obama.

Segundo Michael Koplow, do think tank Brookings Institution, sediado em Washington, Netanyahu “rompeu todas as pontes” com a Casa Branca. Herzog, por sua vez, estava mais próximo dos EUA em relação ao processo de paz na região e à política de assentamentos.

Como esse afastamento é recíproco, os laços entre Israel e Washington deverão permanecer “glaciais”, avalia Koplow. “E vou me espantar se Netanyahu e o presidente se encontrarem pessoalmente, durante o resto do mandato de Obama.” Por outro lado, ressalva, a cooperação binacional não deverá ser afetada, por motivos práticos, sobretudo nos campos militar e de inteligência.

Em entrevista à CNN, o deputado republicano Mike Rogers confirmou que as relações Israel-EUA são importantes demais para serem prejudicadas a longo prazo. Mais otimista, o membro do Congresso americano nem mesmo considera que os contatos entre os dois líderes políticos estejam irreparavelmente comprometidos.

Um dia antes do encerramento do pleito em Israel, veículos americanos como o New York Times e oWashington Post ainda especulavam se o súbito posicionamento de Netanyahu contrário a uma solução de dois Estados fora uma manobra planejada ou uma declaração espontânea e improvisada.

O congressista Mike Rogers acredita que o premiê reagiu à pressão de se ver em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, e não acha que tenha sido dita a última palavra política na questão da convivência israelo-palestina.

Antes, a porta-voz do Departamento de Estado Jen Psaki havia assegurado que a solução de dois Estados é, para os EUA, “o único caminho para a paz e a estabilidade” no Oriente Médio. Koplow, da Brookings Institution, confirma que a Casa Branca teria apreciado um novo governo israelense, que desse novo impulso ao processo de paz.

Quanto ao acordo nuclear com Teerã, contudo, qualquer esperança parece ilusória: a iniciativa de Obama tem em Netanyahu um inimigo declarado. Mas Herzog tampouco seria a salvação, já que sua posição manifesta sobre o tema era praticamente idêntica à do premiê reeleito.

  • Autoria Gero Schliess (av)

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