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Violência policial: políticos da esquerda francesa participam de protesto proibido pelas autoridades

O objetivo dos protestos era pedir uma reforma da polícia e a elaboração de um projeto social para as periferias

A ativista Assa Traoré (esq), ao lado do deputado da esquerda radical, Eric Coquerel, durante manifestação contra a violência policial. Foto: Bertrand Guay/AFP
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Pelo menos 30 manifestações contra a violência policial foram registradas na tarde deste sábado 8 na França. Em Paris, onde o protesto havia sido proibido pelas autoridades, pelo menos 2 mil pessoas compareceram, entre elas vários políticos da esquerda radical, que havia participado da mobilização popular.

Dezenas de manifestações haviam sido convocadas pelo partido da esquerda radical França Insubmissa em várias cidades francesas. O objetivo dos protestos era pedir uma reforma da polícia e a elaboração de um projeto social para as periferias após a morte do jovem Nahel, baleado por um policial na periferia de Paris na semana passada, em um episódio que provocou uma onda de revolta nacional.

Passeatas reunindo centenas de pessoas foram registradas em Nantes, Estrasburgo, Bordeaux, Dijon, Angoulême, nos arredores de Lyon e em Marselha. Em Paris, a passeata havia sido proibida pela Secretaria de Segurança pública, alegando que os atos apresentavam “risco de perturbação da ordem pública”. As autoridades temiam cenas de violências e atos de vandalismo. Mesmo assim, o cortejo se reuniu na capital para o que está sendo chamado de “marcha cidadã”.

Apesar dos pedidos para que o grupo se dispersasse e de algumas multas aplicadas nos presentes, pelo menos 2 mil pessoas, entoando vários gritos de ordem, entre eles “Justiça para Nahel”, participaram da manifestação parisiense. O protesto começou no meio da tarde na Place de la République, no centro da cidade.

O ato da capital também marcava os sete anos da morte de Adama Traoré, que faleceu em junho de 2016 em uma delegacia nos arredores de Paris, cerca de duas horas após ser preso. Segundo a família do rapaz de 24 anos, ele teria sido agredido pelos agentes durante a detenção e o caso virou um dos principais símbolos da luta contra a violência policial na França. Mas as duas manifestações em homenagem ao jovem, previstas para acontecer nas cidades de Persan e Beaumont-sur-Oise, na periferia de Paris, também foram proibidas pelas autoridades.

No entanto, Assa Traoré, irmã de Adama que se tornou ativista pela paz e contra o racismo, compareceu na manifestação parisiense. Em pé no telhado de um ponto de ônibus da praça, ela fez um discurso “pela juventude, para denunciar a violência da polícia”.

“Querem esconder os nossos mortos”, declarou Assa Traoré, diante de políticos do partido ecologista e da esquerda radical. Os deputados compareceram usando as faixas de parlamentar com as cores da bandeira francesa.

Governo critica políticos que apoiam os protestos

Na sexta-feira 7, o porta-voz do governo, Olivier Véran, criticou organização das manifestações. Ele também sublinhou a responsabilidade dos políticos que apoiaram os eventos, acusando diretamente os membros da França Insubmissa.

“[Emmanuel] Macron e o seu poder autoritário não vão mudar nada: é o povo francês que tem e terá sempre a última palavra”, tuitou a líder da França Insubmissa na Assembleia, Mathilde Panot, presente no cortejo parisiense.

“Aos poucos as liberdades públicas vão perdendo espaço (…) Não poder mais se manifestar contra um poder, é aceitar o discurso”, lançou a ecologista Sandrine Rousseau, também presente no comício. Para ela, essas proibições se aproximam cada vez mais do autoritarismo.

Nenhum incidente grave havia sido registrado na passeata parisiense até o início da noite. Mesmo assim, um processo judicial por “organizar uma manifestação não declarada” foi aberto contra Assa Traoré.

Youssouf Traoré, irmão de Adama, que também estava na manifestação, chegou a ser detido durante ao protesto.

(Com informações da AFP)

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